Os Dez Mandamentos - O Primeiro Mandamento

Auxílio Homilético

02/03/1982

OS DEZ MANDAMENTOS

Não terás outros deuses

Gottfried Brakemeier

I - Meditação

1. A exigência

O Primeiro Mandamento é de todos o principal. Isto é testemunho comum do Antigo e do Novo Testamento (cf. Dt 6.4 ss; Mc 12.28 ss). No amor a Deus consiste o precípuo e mais nobre dever do ser humano. Também os compromissos para com o próximo são definidos sob esta perspectiva: Eu sou o Senhor teu Deus. Por que não devemos matar, adulterar, furtar? Por que devemos amar o próximo como a nós mesmos? Ora, não porque estas exigências fossem lógicas (tão lógicas elas não são), não porque nós mesmos pudéssemos auferir lucro das mesmas (amar o próximo jamais tem sido negócio lucrativo), mas porque é a vontade de Deus, nosso Senhor. Ele é o Deus também do nosso próximo, é o Criador e mantenedor de todas as coisas e tem, por isto, o direito de fazer exigências. Lutero deu expressão à prioridade do Primeiro Mandamento, introduzindo a explicação de todos os demais com as palavras: Devemos temer e amar a Deus para que... O temor n Deus é o principio não só do saber (Pv 1.7), mas também da conduta e da ética.

Não terás outros deuses além de mim. Quer dizer, devemos adorar Deus, não deuses. É um imperativo maciço. Não importa se a ideia de Deus nos é simpática ou não, se somos indiferentes ou religiosos, católicos ou protestantes, cristãos ou não-cristãos, o imperativo vale para todos. Deus não é assunto particular, sobre o qual cada um teria o direito de pensar a seu modo. Não terás outros deuses além de mim. ” - Nesta exigência o Criador faz valer os seus direitos e destrói a ilusão que supõe serem de natureza particular as convicções religiosas.
Aliás, a formulação do mandamento pressupõe que todos possuem um deus. Ateus, na verdade, não existem. O que está em jogo não é se temos um deus ou não, mas sim se temos Deus ou ídolos.

Posso imaginar-me que esta afirmação será entusiasticamente aclamada por muitos cristãos. Os orixás da Umbanda, os espíritos do Espiritismo, um pretenso messias como o senhor S. M. Moon, e até os santos na religiosidade popular — não são esses os ídolos que na atualidade se colocam no lugar do próprio Deus e lhe negam a exclusividade? Sem dúvida alguma, são formas de idolatria moderna, assim como também a registramos, não raro, no culto a autoridades políticas, cantores, desportistas e outros, venerados como que divindades, fazendo as pessoas cair em delírio, perder o juízo e privando-as da noção do quanto são explorados por esses seus ídolos.

Mas posso imaginar-me também que a afirmação acima provocará o protesto em mais ou menos os seguintes termos: ídolos, isto é fala de épocas passadas. Nós não acreditamos nem em Deus, nem em deuses. O entusiasmo por um craque de futebol não deveria ser tachado de idolatria, e na religiosidade popular, bem, aí falta esclarecimento. É correta esta argumentação? Pode-se liquidar o Primeiro Mandamento pela simples negação dos deuses (e do próprio Deus)?? Já os cristãos de Corinto eram dessa opinião e foram corrigidos pelo apóstolo Paulo (cf. 1 Co 8.1-6: 10.19ss). Pois, o que vem a ser um deus? Explica-o magistralmente M. Lutero, em seu Catecismo Maior: Portanto, ter um Deus outra coisa não é senão confiar e crer nele de coração. Repetidas vezes já disse que apenas o confiar e o crer de coração faz tanto Deus como ídolo... Aquilo, pois, a que prendes o coração e te confias, isso, digo, é propriamente o teu Deus.

Pela mera negação, portanto, não é possível livrar-se dos deuses. O que nós mais amamos, no que mais confiamos, isto é o nosso deus, seja o dinheiro, o poder, a projeção social, os filhos, a própria vida, seja o poder das armas, a ciência, o juízo humano, ideologia ou qualquer outra coisa. Da mesma forma podemos dizer que os deuses, sem esconderem a sua face demoníaca, se revelam no que mais tememos. Basta perguntar quais os objetos de maior temor das pessoas: a morte, forças ocultas, o sofrimento, a pobreza, a influência dos astros ou mesmo números como o treze preanunciando desastres? Naturalmente, o Primeiro Mandamento não quer dizer que não devemos temer, amar e confiar no nosso mundo. Muito pelo contrário, existem muitas coisas que devemos temer, outras que devemos amar e ainda outras em que devemos confiar. Decisivo é aquele sobre todas as coisas. A prioridade cabe a Deus. Onde ela for negada transformamos os objetos ou as pessoas de nosso maior amor, temor e confiança em ídolos, dos quais nos tornamos irremediavelmente dependentes, sem possibilidades de distanciamento crítico, viciados e dominados por eles. Nós temos ou Deus ou Ídolos. Outra alternativa não existe.

Mas, quem é este Deus, ao lado do qual não devemos ter outro? Como distinguir Deus dos ídolos? Enfim, que significa temer e amar a Deus e confiar nele?

3. A dificuldade

Seria leviano afirmar que é fácil responder estas perguntas. Deus é uma das palavras mais problemáticas do nosso vocabulário, abusada e hipotecada com incertezas e dúvidas. Se vejo bem, são basicamente duas as experiências que obstaculizam o falar de Deus e o fazem ambíguo:

a) No fundo, o Deus de nós todos é o mesmo!'' Nestes e semelhantes termos não poucas pessoas procuram desagravar as diferenças confessionais, religiosas e mesmo culturais que em boa proporção contribuem para a divisão da humanidade e sociedade. A intenção, »em dúvida, é boa. Na verdade, porém, registramos uma enorme diversidade de concepções e ideias sobre Deus, produzindo confusão e levantando a suspeita de que as pessoas, em última instância, criam Deus á sua própria imagem. De fato, conforme a Bíblia, um dos principais pecados do ser humano consiste em ele produzir o seu próprio Deus. Confirmam-no observações da atualidade: Os interesses das pessoas, seus anseios e seus valores, suas angústias e temores, a cosmovisão da época e as tradições religiosas — tudo isto se projeta na maneira de falar de Deus, acarretando a ameaça de este falar submergir em absoluta relatividade. O homem do campo e da cidade, o rico e o pobre, o brasileiro e o norte-americano, o budista e o cristão — todos eles, por acaso, crêem no mesmo Deus? Portanto, qual é o Deus que devemos temer e amar acima de todas as coisas? Pessoas há que, em vista da ambiguidade do termo Deus, preferem não mais usá-lo — espaço livre para a entrada maciça de ídolos.

b) Ninguém jamais viu a Deus... (Jo 1.18). Como, então, sabemos que ele existe? O que nós enxergamos no mundo antes parece lombar da fé em Deus: as injustiças e o sofrimento, a violência e as irracionalidades do comportamento humano, as tantas coisas absurdas que acontecem. Se Deus existe, como pode permitir tudo isto? Não são poucas as pessoas que, face à realidade deplorável do nosso mundo, são lançadas em sérias crises de fé. Surgem, além disto, dificuldades intelectuais. A pesquisa científica desvendou os mistérios do universo, fazendo sensacionais descobertas. Mas um vestígio inequívoco de Deus não encontrou. Afinal de contas, Deus serve para quê? No mundo fascinante da técnica ele está sobrando. Perdeu sua função. Pois, o homem faz as coisas. Nós temos que resolver os problemas, salvando o mundo! É assim que se pensa hoje em amplos segmentos da sociedade.

Naturalmente, essa argumentação pode ser contrabalançada por outra: No nosso mundo não existem somente coisas ruins. Quem tiver olhos para ver não vai deixar de descobrir maravilhas, belezas, felicidade, amor. E se a ciência não puder comprovar a existência de Deus, é porque também ela tem os seus limites, limites estes que se tornam dolorosamente manifestos na incapacidade de dar solução aos problemas candentes do nosso tempo. Sabemos construir naves espaciais e máquinas gigantes, computadores e reatores atômicos, mas somos incapazes de banir a ameaça de uma guerra nuclear, de preservar a natureza e de fazer justiça na distribuição das riquezas do nosso globo. Tal argumentação tem sua validade. A excomunhão de Deus sempre reverteu em fatal prejuízo do ser humano. E, todavia, a invisibilidade de Deus, sua aparente ausência, o imenso sofrimento em toda a parte problematizam a existência de Deus e a fazem duvidosa para muitas pessoas. Como cumprir o Primeiro Mandamento sob tais condições? Voltamos a perguntar: Quem é aquele que se apresenta dizendo: Eu sou o Senhor teu Deus?

Ora, é o Deus que tirou o povo de Israel da terra do Egito, da casa da servidão (Ex 20.2), é o Deus que, com este mesmo povo, fez o pacto no Sinai, é o Deus que amou ao mundo de tal maneira que deu o seu Filho unigênito, para que todo o que nele crê não pereça, mas tenha a vida eterna (Jô 3.16). Se alguém pergunta quem Deus é, a Bíblia lhe responde com uma história contando o que Deus fez. Isto é importante. O Deus de Abraão, Isaque e Jacó, o Pai de Jesus Cristo, ninguém o chegará a conhecer pela contemplação mística ou especulação filosófica. A Bíblia, antes de definir as qualidades de Deus, exalta as suas obras maravilhosas. Não lhe descreve a aparência, pois sabe como é perigoso fazer uma imagem de Deus. É bem verdade, aliás, que também a Bíblia fala em termos muito humanos de Deus, como se tivesse braço, mãos, boca, ouvidos. O próprio Jesus nos encoraja a nos dirigirmos a Deus como nosso Pai que está nos céus. Não dispomos de melhores formas de tratamento. Quem não tiver a coragem de falar com e de Deus em palavras muito próprias, humanas, simples, não o glorifica, mas o reduz a um objeto, uma coisa ou até a uma incógnita. Orar, nós só o podemos, se invocarmos Pai! Deus, nosso Senhor! Entretanto, a Bíblia sabe que tais palavras não passam de figuras auxiliares. Na realidade é impossível descrever a natureza divina. Deus não é homem e não é mulher, não tem estatura humana. Deus é espírito (Jo 4.24). Toda imagem de Deus, criada por homens e não compreendida como mera parábola, é um ídolo.

Este é o mistério de Deus, que ele não se deixa fixar numa imagem nem permite acesso direto a si. Eis porque não se pode comprovar a existência de Deus com argumentos racionais ou pesquisas científicas Deus é santo. E, ainda assim, se dá a conhecer. Para tanto é preciso empreender com ele uma caminhada, apostar a própria vida na certeza de que ele existe, arriscar a aventura da fé. Então Deus se revela. Manifesta-se como se manifestou a Israel, como se manifestou aos apóstolos, e nos fará testemunhas de suas obras. Deus existe, não há necessidade de tentar comprová-lo. Seria inútil. O problema não é se Deus existe, o problema é se nós temos olhos que enxerguem a sua glória, ouvidos que ouçam a sua Palavra, coração que se sujeita a ele. O problema está em nós que buscamos Deus onde não está, que somos demais orgulhosos para respeitar a vontade divina e que temos uma razão insensível para a revelação.

Por isto temos necessidade da Bíblia. Ela abre nossos olhos, ouvidos, coração e razão para a realidade de Deus no mundo e em nossa vida. Lendo e estudando a Sagrada Escritura começamos a compreender, de repente, quem é este Deus ao lado do qual não devemos ter outro, e percebemos o quanto é diferente dos deuses de fabricação humana. Não negamos que na própria Bíblia se ouvem diversas vozes e que o falar de Deus não é exatamente uniforme. Cristalizam-se, contudo, algumas afirmações centrais, das quais a maneira de Jesus Cristo ter-se referido a Deus é o critério último. Ela o é porque Jesus exemplificou, com sua vida e morte, o que significa cumprir o Primeiro Mandamento. Jesus temeu e amou a Deus e confiou nele sobre todas as coisas (cf. Mt4.10; Mc 14.36;etc.), sendo por isto também aquele que melhor nos interpreta e explica quem è o Deus que espera nossa obediência São as seguintes as afirmações com respeito a Deus que sobressaem na Bíblia:

a) Deus é, por excelência, o Deus que cria. Ele é força criadora. Criou céu e terra. Também nós lhe devemos a existência. Por isto, tudo o que existe é dele e lhe pertence, cabendo-nos como resposta a gratidão, o uso responsável dos bens, o respeito ao doador de todas as coisas. Onde faltar esta atitude, ficamos em dívidas com o Criador e começa a infração do Primeiro Mandamento. Deus chama à existência as coisas que não são (Rm 4.17), ressuscita mortos e concede um novo inicio onde tudo acabou destruído pelo pecado humano. Das mãos do Criador, enfim, aguardamos um novo céu e uma nova terra, nos quais habita justiça (2 Pé 3.13; Ap 21.1).

b) Deus é, por excelência, o Deus que julga. Cobra os seus direitos, condena o pecado, faz justiça. De Deus não se zomba (Gl 6.7). Tem motivo de temê-lo todos quantos praticam o mal. Deus castiga o pecado (cf. Rm 1.18 ss), entregando os malfeitores às consequências funestas dos seus próprios atos, diminuindo-lhes a qualidade de vida, expulsando-os de sua comunhão no juízo final. Ele é o juiz, diante do qual todos são responsáveis em última instância. Se não há entre os homens quem possa responsabilizar os culposos (e infelizmente muitos crimes passam impunes na nossa justiça humana), do reto juízo de Deus ninguém escapa. Sob essa perspectiva a palavra Deus é sinônimo da certeza de que a esperança por justificação não é ficção.

c) Deus é, por excelência, o Deus que ama. Deus é amor (1 Jo 4.16). Esta afirmação parece colidir com a anterior, o que, no entanto, não é verdade. O amor de Deus não anula as suas exigências. É o Deus juiz que ama, e ele ama os condenados. O seu amor é milagre. Deus não tem prazer na morte do pecador (cf. Ez 33.11) nem na destruição de sua criação. Sofre com a situação deplorável da humanidade, sofre com os que sofrem, tem compaixão dos pobres, fracos, doentes e culpados. Oferece-lhes o seu amor encarnado de modo mais inequívoco em Jesus Cristo. Este seu amor, aliás, é responsável pela fraqueza de Deus em nosso mundo. Pois não há nada mais fraco do que o amor. Deus não usa a violência. O seu amor tem por símbolo uma cruz. Mas exatamente nisto reside também a força de Deus. Pois não há nada mais forte do que o amor. Enquanto a violência apenas subjuga, o amor sabe realmente convencer e conquistar. Deus nos conquista pelo seu amor, perdoando os nossos pecados, justificando-nos por graça, dando ouvidos aos clamores dos oprimidos. Deus ama os seus inimigos. Somente quem rejeitar este amor, não se deixando conduzir por ele ao arrependimento (Rm 2.4), atrai sobre si o juízo. O amor de Deus requer como resposta o respeito à sua vontade.

3.O risco e a promessa

Como vimos, as pessoas costumam oferecer resistência à aceitação de Deus como Senhor exclusivo. Preferem ídolos. Estes são mais fáceis de adorar. Não ferem o orgulho nem os interesses egoístas, porque foram as próprias pessoas que os escolheram. Jamais entramos em conflito com os nossos ídolos. Eles só podem atestar-nos o quanto estamos certos. Não assim o Deus do Primeiro Mandamento. Ele revela o pecado, quer que mudemos de vida, sejamos pessoas novas. Daí a resistência dentro de nós. Ela nos faz altamente criativos na invenção de desculpas e na alegação de dificuldades que justifiquem o não cumprimento da ordem de Deus.

Resistências, porém, existem também fora de nós. Quem se sabe comprometido com Deus, corre riscos. Ele vai obedecer a Deus mais do que a homens (At 5.29), e isto é perigoso. Ele vai insistir na fé em meio à descrença, na justiça em meio à injustiça, no amor em meio ao ódio. Confiança em Deus acima de todas as coisas significa negar a adoração religiosa ou semi-religiosa a pessoas e entidades que usurpam o lugar de Deus e pretendem constituir-se em senhores inquestionáveis e absolutos das pessoas. Quem cumprir o Primeiro Mandamento será sóbrio. Não se deixará enganar pelas aparências nem levar de roldão pelo entusiasmo frenético das modas. Ele será crítico — certamente não no sentido de ser viciado do protesto, mas no sentido de examinar as coisas se prestam ou não. Cumprir o Primeiro Mandamento é ser crítico, por exemplo, frente às ofertas religiosas que proliferam em toda a parte, sendo muitas vezes nada mais do que formas de sedução do povo, miserável idolatria e exploração econômica. É ser crítico frente aos valores apregoados pela sociedade, que prometem o paraíso mediante o consumo e a ascensão social, ocultando que o paraíso ilusório de uns significa o inferno real para outros. É ser crítico frente a ideologias e sistemas sociais que se dizem a serviço da coletividade e beneficiam, em verdade, uma minoria. Pessoas e sistemas reagem alergicamente ao verem os seus Ídolos atacados, razão pela qual corre o risco de ser ironizado, hostilizado, perseguido quem tomou a opção a favor de Deus. Ilustra-o a sorte de Jesus que, obedecendo a Deus sobre todas as coisas, sofreu perseguição acabando na cruz. A cruz acompanha os que rejeitam os deuses em prol da adoração exclusiva de Deus.

Nem todos os crucificados, porém, são cumpridores do Primeiro Mandamento. Em outros termos, a cruz em si não é critério. A obediência a Deus corre riscos, mas nem todo risco resulta da obediência n Deus. Existe o terrível perigo de sermos crucificados inclusive por um ídolo. Por isto, quem cumpre o Primeiro Mandamento será crítico, não por último, frente a si mesmo, precavendo-se contra o perigo de cair em idolatria, no culto às próprias convicções e à própria teologia. Ter que corrigir-se é, às vezes, cruz maior do que suportar injúrias. De qualquer maneira, sem a atitude da autocrítica colocaremos em perigo o cumprimento do preceito mais importante de Deus.

Mas não existem somente riscos e dificuldades para quem cumpre a vontade de Deus. Existe também a promessa. Não que Deus pagasse ou premiasse. Ele não tem necessidade de comprar a sua gente nem garantir a validade dos seus mandamentos mediante a oferta de vantagens, brindes ou redução de preço. Os mandamentos devem ser cumpridos, porque Deus tem o direito de exigir. Isto é razão suficiente. É culpa, estupidez, desgraça nossa, se não o fizermos. E não obstante, Deus tem uma promessa para quem lhe respeita a vontade. Dar-lhe-á a sua bênção (cf. Ex 20.6; Dt 11.26 ss), o que não significa necessariamente vida fácil e cômoda. Em todos os casos, porém, significa vida com conteúdo jamais enfadonha e sem esperança. Significa liberdade como o mundo não a pode dar, pois quem tem Deus por Senhor, não terá outros senhores. O próprio Jesus confirma a promessa: Quem cumprir os mandamentos, terá vida (Lc 10.28), ou seja, entrará no Reino dos Céus (Mt 7.21). Na verdade, o Reino de Deus nada mais é do que a realização plena e universal da exigência do Primeiro Mandamento.

4. Quanto à prédica

A prédica dificilmente poderá abarcar a totalidade dos aspectos acima apresentados, aos quais certamente ainda poderão ser acrescentados outros. Por isto o pregador terá que selecionar aqueles que julgar de maior relevância na situação de sua Comunidade, dando-lhes concreticidade através de exemplos práticos. De modo geral aconselhamos o seguinte:

a) A prédica deverá problematizar (assim como o fizemos acima), mas não demais! Caso contrário, o ouvinte, de tantos problemas, não será motivado a cumprir o mandamento, sendo assim traído o principal objetivo da prédica.

b) Trata-se de um mandamento ou de uma ordem, sem dúvida. Mesmo assim, a prédica não deveria permanecer presa aos imperativos. Importa convencer o ouvinte da necessidade de temer e amar a Deus e a confiar nele sobre todas as cosas. Importa, pois, motivar o membro, o que é premissa para toda prática espontânea.

c) A prédica não deveria esgotar-se em lamúrias e queixas sobre a perdição, corrupção e idolatria da sociedade ou humanidade. Lamentações igualmente não costumam favorecer o cumprimento da vontade de Deus. A prédica, isto sim, deveria ser desafiante e deixar muito claro o que na observação deste mandamento está em jogo.

O Primeiro Mandamento não exige coisa absurda, antes a única coisa realmente importante. Ele não é lei em sentido rígido, não é uma imposição arbitrária. Que não devemos ter outros deuses, isto resulta do fato de Deus ser Deus. Eis o Evangelho. Nós damos graças que Deus é Senhor do mundo, e ninguém outro. A prédica poderia iniciar com tal ação de graças

II -Subsídios litúrgicos

1. Textos sugeridos para a leitura:

Ex 20.1-6; Dt 6.1-7; Mt 4.1-11; Mc 12.28-34

2. Confissão dos pecados: Senhor! Não somos dignos de implorar o teu perdão. Nós te confessamos: Não temos vivido como teus filhos. Temos depositado a confiança em muitas coisas mais do que em ti. Fomos fracos no amor e temos tido demais medo das ameaças que nos cercam. Liberta-nos do medo, faze-nos fortes no amor, para que sejamos tuas testemunhas e cumpridores da tua vontade. Nós te agradecemos por podermos crer em ti, ser a tua Comunidade, nós te agradecemos que tu és o nosso Deus Perdoa-nos as nossas dívidas. Nós invocamos a tua bondade. Tem piedade de nós. Senhor!

3. A coleta: Senhor! Na semana que passou nós tivemos preocupações e problemas, fomos testemunhas de coisas desagradáveis e ouvimos de crimes ameaças. Mas também tivemos alegrias, tivemos chances e pudemos viver. Nossa vida e nosso futuro estão em tuas mãos. Fortalece-nos sempre mais nesta confiança, para que não sejamos dominados pelas dificuldades e não desesperemos diante da limitação das nossas forças, antes cumpramos com o nosso tiver, como compete a pessoas agraciadas pelo teu amor. Dá que levemos o amor aos outros, melhorando-lhes as condições de vida e proporcionando-lhes alegria. Concede-nos a graça de sermos uma bênção em nosso ambiente, para que aumente o teu louvor na terra. Amém.

4. Intercessão:

- em favor dos famintos, doentes e perseguidos em toda a terra;
- em favor dos que choram e sofrem, para que a sua amargura se converta em alegria;
- em favor dos pobres e injustiçados para que vejam atendidos os seus legítimos direitos;
- em favor dos obcecados pelos ídolos, dos desorientados e incapazes de crer e amar;
- em favor da paz no mundo, da justiça e liberdade;
- em favor dos que tem responsabilidade política a fim de promoverem o bem-estar comum;
- em favor da Igreja para que cumpra a sua missão;
- em favor de nós mesmos para que sejamos praticantes da vontade divina...

III -Bibliografia

ALT MANN, W. e outros. Falar de Deus hoje, São Paulo, 1979.
GOLLWITZER, H. Befreiung zur Solidaritãt. München, 1978, pp. 82ss.
JENTSCH, W. e Outros, ed. Evangelischer Erwachsenenkatechismus. Gütersloh, 1975.
JÜNGEL, E. Gott als Geheimnis der Welt. Tübingen, 1977.
LUTERO, M. Catecismo Maior. n: Livro de Concórdia. São Leopoldo/Porto Alegre, 1980.
MESTERS, C. e outros. Experimentar Deus hoje. Petrópolis, 1974.

Proclamar Libertação – Suplemento 1
Editora Sinodal e Escola Superior de Teologia


Autor(a): Gottfried Brakemeier
Âmbito: IECLB
Título da publicação: Proclamar Libertação / Editora: Editora Sinodal / Ano: 1982 / Volume: Suplemento 1
Natureza do Texto: Pregação/meditação
Perfil do Texto: Auxílio homilético
ID: 7279
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João 8.12
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