Introdução:
O tema de nossa reflexão será a oração. Por quem devemos orar? E qual deve ser a nossa atitude quando nos retirarmos para falar com o Pai Celestial? A partir de 1 Timóteo 2.1-6 vamos meditar a respeito da postura, dos conteúdos e das intenções relativas à oração. Portanto, vamos ao texto:
1Antes de tudo, pois, exorto que se use a prática de súplicas, orações, intercessões, ações de graças, em favor de todos os homens, 2em favor dos reis e de todos os que se acham investidos de autoridade, para que vivamos vida tranquila e mansa, com toda piedade e respeito. 3Isto é bom e aceitável diante de Deus, nosso Salvador, 4o qual deseja que todos os homens sejam salvos e cheguem ao pleno conhecimento da verdade. 5Porquanto há um só Deus e um só Mediador entre Deus e os homens, Cristo Jesus, homem, 6o qual a si mesmo se deu em resgate por todos: testemunho que se deve prestar em tempos oportunos.
1 - A oração como prática diária:
O texto que lemos começa da seguinte maneira: “1Antes de tudo, pois, exorto que se use a prática de súplicas, orações, intercessões, ações de graças, em favor de todos os homens” (v.1-2a). Em outras palavras, oração deve ser uma prática constante. Em grego, literalmente, temos a seguinte construção: “fazer súplicas, orações...” O verbo “fazer” está no infinitivo presente, indicando ação contínua. A oração deve ser constante. Sempre, todo dia, devemos interceder, orar, pedir e agradecer a Deus por alguém.
Se tais atitudes devem caracterizar a vida do cristão (as nossas vidas!), como tal orientação pode ocupar lugar em nosso cotidiano tão agitado?
2 - O que caracteriza a oração?
O texto a qualifica como “intercessões, orações, petições, ações de graças” (v.1). Embora os vários momentos da vida possam nos fazer acentuar mais um aspecto que o outro, todos eles sempre devem estar presentes em nossas orações. Haverá algum momento em que não precisemos interceder por alguém? Em que não se faça necessário pedir a Deus sua bênção, sua orientação, seu conforto? Será que, mesmo nos períodos mais difíceis da vida, não haverá nada pelo que agradecer?
Algo importante para nossa reflexão sobre a oração é que tudo isso deve se dar mais na atitude de espírito do que em abundantes palavras. Jesus disse: “e, orando, não useis de vãs repetições, como os gentios; porque presumem que pelo seu muito falar serão ouvidos. Não vos assemelheis, pois, a eles; porque Deus, o vosso Pai, sabe o de que tendes necessidade, antes que lho peçais” (Mateus 6.7-8). Por isso, “pedir, interceder, dar graças” deve partir primeiramente do desejo do coração que está “afinado” com a vontade do Pai. Orações egoístas, que servem para simples promoção pessoal e vitórias em disputas por prestígio e poder não serão atendidas porque não expressam espírito cristão. Como diz a epístola de Tiago: “pedis e não recebeis, porque pedis mal, para esbanjardes em vossos prazeres” (Tiago 4.3).
Assim, se necessidades e gratidão precisam compor a oração do cristão, elas devem estar fundamentadas em boa consciência e nos princípios do Reino de Deus.
3 - Por quem orar?
Devemos orar por todas as pessoas; é o que o texto nos orienta fazer (v.1). Lembremos que em “todos os homens” referidos no v.1 incluem-se aquelas pessoas com as quais parece que não nos damos bem, as que não gostam de nós ou que desejam nos prejudicar... Devemos pedir por elas também... O próprio Jesus disse: “amai os vossos inimigos e orai pelos que vos perseguem” (Mateus 5.44). Notemos que a oração, tanto nesta citação quanto no texto de 1Timóteo, deve ser caracterizada pelo desejo do bem ao próximo e não do mal. Na oração do cristão não existe lugar para pragas e maldições...
E essa deve ser a nossa prática diária: orar expressando o desejo de que todos alcancem o bem, não o mal.
Outro aspecto da oração que ressalta no texto de 1Timóteo é que ela não deve ser expressão de desejos egoístas, por isso, todos os componentes acima devem nos fazer pensar no próximo. Ao orarmos, é nele que devemos pensar. Não que não devamos pensar em nós na oração, mas, ao fazê-lo, deve haver o princípio do Reino de Deus e não os do mundo, no qual se enaltece o interesse próprio e a autopromoção.
Também devemos orar pelos reis e pelas autoridades (v.2). A deles na oração tem um objetivo: “para que vivamos vida tranquila e mansa com toda piedade e respeito” (v.2). É orar para que governem com justiça e retidão. Como oração é expressão de desejo, é desejar que assim o façam; e não apenas “desejar”, mas agir. Portanto, a oração pelas autoridades não é conivente com erros, injustiças e má política, mas expressão de uma postura cristã que respeita os princípios de autoridade, mas não aceita os abusos que se fazem dela.
E o objetivo dessa oração é que “vivamos vida tranquila e mansa” (v.2). Ora, naquela época a realidade do cristianismo era oposta a esse desejo: os seguidores de Jesus já haviam sofrido perseguições, confisco de seus bens; muitos haviam sido presos e assassinados pelo estado romano. É nesse contexto que entra a oração pelas autoridades, para que os cristãos vivessem sem perseguições. Deus não quer perseguições, prisões e assassinatos; Deus não quer inquisições... Ele quer que as pessoas vivam em paz. Quaisquer valores, conceitos, ideologias e pessoas que se coloquem como obstáculos para esse princípio, precisam ser lembrados nas orações as quais, por sua vez, devem expressar atitudes condizentes com o direito, a justiça, a paz e a promoção dos seres humanos.
Considerações finais:
Como podemos perceber, a oração é muito mais do que um gesto religioso. Ela deve alcançar a realidade que está no entorno de quem ora. Orar pelas pessoas (“boas” ou “más”...) e pelos que ocupam cargos de responsabilidade na sociedade é muito mais do que verbalizar ideias: é expressar pensamentos coerentes com ações que encontram o seu fundamento no Reino de Deus.
Assim aconteceu com Jesus de Nazaré, homem que viveu com as marcas da oração, ou seja, amor e solidariedade, esperança e ação em prol do Reino.
Que possamos nos conscientizar em manter viva a chama de uma oração que nos leve, não para a marginalização e discriminação de pessoas e grupos, mas para o abraço fraterno e o auxílio mútuo.
Célio Silva