Onde está a manifestação da glória de Deus?

20/01/2019

João 2.1-11

Prezada Comunidade
estimados ouvintes da Rádioweb Luteranosuai

Quantos milagres fez Jesus?

Jesus passou uma grande parte de sua vida aqui na terra fazendo milagres. Em vários lugares dos 4 evangelhos temos relatos dos milagres de Jesus. O Evangelho de Marcos, por exemplo, tem 16 capítulos e 489 versículos. Quase a metade deles são narrações de 18 milagres de Jesus. Mateus e Lucas narram 20 milagres cada um. O Evangelho de João narra somente 7 milagres.

Mas essa contagem é apenas dos milagres narrados. Em várias passagens dos Evangelhos se diz que Jesus expulsou muitos outros demônios e curou muitas outras pessoas. Por isso, além dos milagres que cada Evangelho narra diretamente, Jesus fez ainda muitos outros milagres. Portanto, não podemos saber exatamente quantos milagres Jesus fez. O que sabemos é que são muitos mais dos que os Evangelhos nos narram.

O primeiro milagre do Evangelho de João (2.1-11) aconteceu num casamento em Caná da Galiléia, que fica a 9km ao norte de Nazaré. O texto não diz quem eram os noivos. Mas a mãe de Jesus estava envolvida com a organização do casamento. Ela não era apenas uma convidada. Ela era uma das organizadoras da festa. Cabia a família do noivo preparar a festa de casamento, por isso, algumas pessoas dizem que o noivo pode ter sido um irmão de Jesus. Outros dizem que talvez o casamento fosse do próprio Jesus e a noiva era Maria Madalena. São especulações. Não sabemos ao certo.

O que sabemos é que uma festa de casamento era um acontecimento importante e todas as pessoas da vila estavam convidadas. Ainda hoje é assim em algumas comunidades luteranas o estado do Espírito Santo. Uma festa de casamento é um evento comunitário que envolve muita gente. E lá no estado do Espírito Santo, cada pessoa da comunidade deve participar com alguma doação para os noivos. Por isso, existe até uma agenda nas igrejas que permite somente uns 4 ou 5 casamentos por ano. Mais do que isso, o bolso do povo não aguenta.

No casamento do Evangelho de João não sabemos quem eram os noivos, mas sabemos o que aconteceu no meio da festa de casamento em Caná da Galiéia. O vinho acabou. Dá até para imaginar uma situação de estresse? Maria como organizadora da festa se dá conta que no meio da festa acabou o vinho. Agora de bebida só tem água. E festa a base de pão e água – não é bem festa. Bem, só se for festa de preso, o que não era o caso. Maria fica nervosa e parece dizer para Jesus: Jesus, vê se faz alguma coisa, o vinho acabou. Isso explicaria a reação a grosseira de Jesus com sua mãe - Não é preciso que a senhora diga o que eu tenho que fazer. (Jo 2.4)

Alguns momentos depois, Jesus sabe que ele precisa fazer alguma coisa. Aí começa a organizar o milagre. E o milagre é que Jesus converte seis potes de pedra, cheios de água em vinho. Cada pote tinha uns 100 litros de água. Portanto, são 600 litros de vinho. Uma quantidade exorbitante para uma festa de um lugar pequeno como Caná da Galiléia. O que esse fato quer dizer que onde Jesus está presente, lá existe abundância.

Aliás, para o Evangelho de João cada milagre de Jesus tem um significado. As coisas que acontecem no milagre têm um significado. Por exemplo, o vinho era símbolo de alegria física e espiritual. Referente a essa abundância de vinho, diz em Amós 9.13 que um sinal de que Deus está presente nesse mundo é quando o trigo cresce mais depressa e as parreiras produzem mais uvas que antes. Vai haver tanta uva que o vinho vai correr à vontade pelas ruas, como um rio.

Toda essa abundância de vinho no casamento de Caná é um sinal. É um sinal de que as profecias do Antigo Testamento estão se cumprindo com a presença de Jesus. Os sinais anunciam que Jesus é Emanuel, o Deus conosco, o Deus presente.

O Evangelho de João não narra muitos milagres, porque os milagres só têm um significado. Revelar as pessoas que o o Filho de Deus já está aqui. Que Deus já desceu do céu para esse mundo.

A grande questão do Evangelho de João é como as pessoas reagem aos milagres e aos sinais da manifestação da glória de Deus. Muitas pessoas viram os milagres, entenderam os sinais, sabiam que em Jesus está se manifestando a glória de Deus, mas mesmo assim se recusam a crer em Jesus. O sumo sacerdote Caifás – por exemplo – viu os milagres, entendeu os sinais, mas se negou a crer em Jesus e até aconselhou os fariseus que matassem a Jesus (Jo 11.45-53). Nicodemos (Jo 3.2-3), e também as pessoas que comeram os pães multiplicados (6.26) e até mesmo os irmãos de Jesus (7.3-7) viram os sinais, sabiam que neles se estava manifestando a glória de Deus, mas queriam ficar com esses milagres de Jesus somente para si. Nicodemos queria a Jesus apenas como um conselheiro pessoal, as pessoas que comeram dos pães multiplicados queriam ter Jesus como alguém a quem pudessem recorrer apenas nos momentos de necessidade, e os irmão de Jesus pensaram que – se Jesus fosse para uma cidade maior, ficasse mais famoso fazendo milagres – quem sabe a fama de Jesus poderia trazer algum benefício para sua família. As pessoas viam os milagres, entenderam os sinais, mas não creram em Jesus.

Somente duas pessoas que receberam milagres de Jesu creram nele. Uma foi o funcionário público que tinha um filho muito doente (Jo 4.53) e o outro foi cego de nascimento (Jo 9). Eles foram curados e reconheceram Jesus era o Messias, o enviado de Deus e por isso creram nele e o seguiram.

Então a grande questão no Evangelho de João é que Jesus fazia milagres, as pessoas viam esses milagres – mas mesmo assim elas não acreditavam em Jesus. Por isso, no final do Evangelho de João, Jesus diz que não basta ver – é preciso crer. No encontro com Tomé Jesus diz: Você creu porque me viu? Felizes são as pessoas que não viram, mas mesmo assim creram (Jo 20.29).

Portanto, o Evangelho de João destaca que os milagres de Jesus são apenas um sinal. Os milagres de Jesus têm um propósito – eles querem apontar para Jesus, eles querem apontar para a manifestação da glória de Deus. Eles querem nos mostrar que quando Jesus está presente – podemos ver os sinais de sua presença. E os sinais querem nos levar a crer em Jesus.

Atualmente vemos que muitas igrejas cristãs se constroem em cima de milagres, de curas, de sinais prodigiosos. Isso porque grande parte das pessoas não procuram a igreja por causa de Jesus, mas por causa de algum milagre. Na verdade, se é Jesus ou não é Jesus que está presente naquela igreja – isso é secundário.

E lamentavelmente isso vai se espalhando também em algumas de nossas comunidades. Tem gente que até fica irritado quando ouve a mensagem de Jesus que nos chama a construir o Reino de Deus. Elas dizem que as prédicas e determinado textos bíblicos só espantam as pessoas da igreja. Que é melhor evitar esse tipo de texto bíblico ou esse tipo de prédica que chama as pessoas a um compromisso com Deus. As pessoas não querem um compromisso com Deus. O importante não é tanto o que Jesus quer de nós, mas sim o que as pessoas querem de Jesus. E as pessoas querem receber um milagre. Muitos pregadores essas igrejas sabem disso. As pessoas só querem receber um milagre. Por isso, esses pregadores vão entretendo as pessoas com histórias, com testemunhos, com músicas. Tudo faz parte do roteiro do espetáculo – até o momento final da proclamação do milagre. E se no final a pessoa não recebe nenhum milagre é porque a pessoa não teve fé suficiente – ou porque o diabo fez a pessoa duvidar.

Certa vez me perguntaram: Por que os pastores(as) luteranas não aprendem a fazer alguns milagres na igreja? A igreja ficaria cheia de gente também. Resolveria o nosso problema de crescimento de membros e se exigirmos o dízimo dessas pessoas - vamos resolver também o problema financeiro da Comunidade. Seria um caminho de sucesso.

Como pastores(as) luteranos nós não podemos fazer nada disso. Isso seria manipular, enganar as pessoas. Mesmo que muitas pessoas gostassem disso, isso não seria algo abençoado por Jesus. E tudo que não é abençoado por Jesus, pode impressionar multidões, mas um dia a casa cai. É só olhar em volta. A gente pode fazer muito sucesso manipulando as pessoas, mas quando a gente estiver lá em cima, quando a gente se sente rico, vitorioso, poderoso – nesse dia tudo desmorona.
Além disso, Jesus não ensinou ninguém a transformar água em vinho, a multiplicar pães e peixes, a curar cegos e endemoniados. Jesus disse que Deus ouve as nossas orações e assim doentes podem ser curados e demônios podem ser expulsos. Mas o poder para isso vem de Deus (Lc 9.1).

Como pastores(as) luteranos nossa tarefa não é nos preocupar em fazer espetáculo. Nossa tarefa é estudar a Bíblia, falar da presença de Jesus e chamar as pessoas a praticar, ao viver a vontade de Deus.

Se você quer ver a manifestação da glória de Deus em sua vida, então faça a vontade de Jesus. Se você quer ser uma pessoa abençoada, então orienta e dirige a tua vida e as tuas atitudes, abre os teus ouvidos, os teus olhos e o teu coração para os ensinamentos de Jesus.

Muitas pessoas falam de Jesus todo o tempo, mas elas não fazem o que Jesus ensina. Pregadores(as) impressionam multidões exigindo, determinando, ordenando algo a Jesus, como se Jesus fosse o garçom deles.

Jesus não é o nosso garçom. Ele é o nosso Senhor. Ele está presente lá onde fazemos a sua vontade, onde praticamos os seus ensinamentos, onde confiamos que ele é o Filho de Deus, o nosso Salvador. E onde Jesus está presente, nenhuma necessidade escapa do seu cuidado. Onde a vontade de Deus estiver presente, nada nos faltará.

Nesses tempos devastadores onde líderes religiosos e políticos falam tantas barbaridades usando o nome de Jesus a todo momento, somente para impressionar as pessoas, Jesus nos conforta e nos orienta dizendo que ele só está lá onde se pratica a vontade de Deus.

As pessoas podem falar muito em nome de Jesus, mas nos lugares onde só se fala em intolerância, em matar, em criminalizar – lá Jesus não passa nem perto.

Se queremos que Jesus esteja presente em nossas vidas, em nossas casas, em nossas igrejas e em nosso país, então devemos viver a paz, o respeito, a justiça, a tolerância, a compreensão e o amor.
Amém.
 


Autor(a): Nilton Giese
Âmbito: IECLB / Sinodo: Sudeste / Paróquia: Belo Horizonte (MG)
Área: Confessionalidade / Nível: Confessionalidade - Prédicas e Meditações
Área: Comunicação / Nível: Comunicação - Programas de Rádio
Testamento: Novo / Livro: João / Capitulo: 2 / Versículo Inicial: 1 / Versículo Final: 11
Natureza do Texto: Pregação/meditação
Perfil do Texto: Prédica
ID: 50800
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