Oficina promovida por FE ACT busca sensibilizar comunidades religiosas para atuação com imigrantes

20/09/2016

 

A Paróquia dos Apóstolos, da Comunidade Evangélica de Joinville (CEJ) em Santa Catarina, da Igreja Evangélica de Confissão Luterana no Brasil (IECLB), acolheu, nos dias 19 e 20 de setembro, a Oficina Pessoas Imigrantes e Refugiadas – Desafios da Casa Comum, uma iniciativa do Fórum Ecumênico ACT Brasil, executada pelo Conselho Nacional de Igrejas Cristãs (CONIC) e apoio de Pão para o Mundo (PPM). O objetivo do projeto é sensibilizar e mobilizar comunidades religiosas a atuar de forma articulada em processos de acolhida a pessoas imigrantes, a partir de ações diaconais ecumênicas e políticas públicas.

A Fundação Luterana de Diaconia (FLD), o Sínodo Norte Catarinense/IECLB e a Rede Ecumênica da Juventude (REJU) organizaram a programação e logística do encontro, que contou com a participação de 27 pessoas, representando grupos de diaconia da CEJ, de imigrantes, da Pastoral da Pessoa Imigrante da Igreja Católica Apostólica Romana, Centro de Defesa de Direitos Humanos de Joinville, Comissão Ecumênica de Joinville, Universidade Federal da Fronteira Sul (SC), Viva Rio (RJ), Centro de Referência de Assistência Social (CRAS), de Lajeado (RS).

Nos dois dias, foram abordados temas relacionados a fluxo migratório e ajuda humanitária, assessoria bíblica e teológica, projetos de pesquisa e extensão sobre imigrantes do Haiti em Santa Catarina e relatos de experiência e apresentação de iniciativas com protagonismo de imigrantes. Renel Simon, imigrante haitiano que reside em Lajeado, compartilhou o processo de articulação que envolveu a Paróquia Luterana de Lajeado/IECLB, junto com a Associação de Imigrantes de Lajeado e a REJU, em uma iniciativa que buscou organizar ações de integração e diálogo intercultural e pela superação do racismo e xenofobia. Os momentos de espiritualidade (meditações) foram preparados e conduzidos pelas diáconas Ângela Lemke e Nádia de Oliveira.

A secretária executiva da FLD, Cibele Kuss, apresentou o processo de oficinas já realizadas em São Paulo, sobre a formação de uma rede na região Sul-Sudeste e abordou a importância de sensibilizar e preparar as comunidades religiosas a pensar e construir grupos de acolhida, animando-os a uma formação permanente nos temas do fluxo migratório, diaconia em contexto na superação das desigualdades e preconceitos.

Nahum Saint Julie, imigrante haitiano que vive em Chapecó (SC), estudante de Letras na Universidade Federal da Fronteira Sul (UFFS/SC), analisou a conjuntura política do Haiti e do Brasil, com análise crítica ao racismo e ao setor privado, que mobilizou e buscou trabalhadoras e trabalhadores para submissão a condições de trabalho precárias e desumanas. Empresas que buscaram haitianos no Acre prometiam trabalho, moradia e boas condições solidárias. Nahum denunciou: “ Vivemos diariamente a humilhação do racismo no Brasil, vivemos a difícil situação econômica. O Brasil concedeu o visto de residência, mas sem qualquer plano de integração, a situação das mulheres haitianas é dramática, sem empregos – muitas pessoas estão vivendo desespero psicológico”.

Ronilso Pacheco, teólogo e interlocutor social da Viva Rio, assessorou a formação sobre Bíblia e Imigração, a partir dos livros do Êxodo (formação do povo de Deus) e Deuteronômio (memória e identidade/consciência do exílio). Relacionar-se com Deus significa se relacionar com Deus em vários lugares, em mobilidade e pluralidade. Êxodo 23.9 afirma a não opressão à pessoa estrangeira. A formulação “pessoa estrangeira ou estrangeiro” é um recurso que quebra a ideia da pureza racial, da exclusividade, pois ser imagem e semelhança de Deus é muito menos ser parecido com Deus e muito mais seguir o rastro de Deus. A pessoa estrangeira é uma possibilidade de ampliar a solidariedade, que é uma exigência de Deus. Ronilso pontuou que “compreendemos que, assim como Deus viu, ouviu e conheceu a dor e a opressão do povo hebreu e demais povos escravizados e explorados no Egito e desceu para intervir e oferecer a eles libertação (Êxodo 3:7-9), também somos convocados a fazer com que nossa sensibilidade e compromisso com a justiça não nos permita fechar os olhos, tapar os ouvidos e sermos indiferentes à situação das pessoas migrantes e refugiadas. Identificadas, portanto, com o Deus que ama e cuida do migrante e refugiado (Deuteronômio 10: 19) e as protege contra os abusos e maus tratos (Deuteronômio 27: 19), nos sentimos inspirados, provocadas e motivados a, com elas e eles, lutar em defesa da justiça e da dignidade que lhes alcancem. Menos fronteiras, mais dignidade”.

Tanara Zunkowski, servidora da prefeitura de Nova Erexim, e Sandra Bordignon, do Grupo de Estudos sobre Imigrações para a Região Oeste de SC (GEIROSC) - UFFS/SC apresentaram o cenário de chegada de imigrantes haitianas e haitianos no estado, a partir de 2013, o processo de organização de aulas de português, a orientação jurídica, as demandas por direitos à saúde, educação, trabalho digno, ações de reconhecimento e valorização cultural, com o apoio da Diocese de Chapecó e a participação de grupos de pessoas voluntárias, e a formação de grupos de pesquisa sobre migração. “É fundamental que o protagonismo seja das pessoas haitianas e que o trabalho do voluntariado e das políticas públicas seja feito numa perspectiva de participação e coletividade”. Uma importante contribuição de imigrantes haitianas e haitianos no campo de direitos diz respeito ao seu perfil mobilizador de direitos, provocando processos de abertura e insistência na afirmação de políticas públicas para todas as pessoas residentes no Brasil, conforme afirma a constituição brasileira. Foram abordados os conceitos “migrar, imigrar e emigrar”.

As reflexões mobilizaram debates e encaminhamentos sobre a importância de mapear e conhecer as iniciativas de atuação de comunidades religiosas com pessoas imigrantes em Joinville, e articulá-las a junto ao movimento ecumênico e organizações de direitos humanos. O grupo presente na oficina acolheu e analisou a Carta de Princípios do Coletivo Inter-religioso Pró-Imigrantes e Pessoas Refugiadas, construída nas oficinas de São Paulo, propondo inclusões e alterações. No final do encontro, criou-se um Grupo de Referência, formado por cinco representações, para articular os encaminhamentos e fazer a representação na articulação com o coletivo de São Paulo.

Foto: NIvaldo Klein / Sínodo Norte Catarinense  

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