O mundo gosta de espetáculo; o povo corre atrás de shows. O famoso Império Romano, da antigüidade, para crescer e se manter politicamente, bem sabia que precisava providenciar "pão e circo" para o povo. O povo quer comida e espetáculo. Mas este Império Romano, que fez a vontade do povo, ruiu, apodreceu. Hoje estamos rodeados de Igrejas (denominações cristãs) que aderiram ao espetáculo, ao show! Dão a entender que estão aí para propiciar cultos espetaculares ao povo, coisas que fascinam e fazem subir a adrenalina. Isso tudo até que é bem interessante. Mas, até quando tais Igrejas-espetáculo vão ficar de pé? Algumas até que estão crescendo bastante, em número é bem verdade; ou quem sabe, estão "inchando". Até quando? Será que o REINO DE DEUS cresce, se desenvolve mediante espetáculos e shows? Uma igreja pode não estar a serviço do Reino de Cristo! E cabe o auto-questionamento: Será que a Igreja Luterana (IECLB) está a serviço do Reino de Deus? Vejamos o que Jesus nos quer ajudar a perceber a esse respeito, através das duas parábolas de Marcos 4.26-32: a da semente e a do grão de mostarda. Duas parábolas agrícolas, do mundo natural. E aqui faço um parênteses: Estive lendo o livro "O Desenvolvimento Natural da Igreja - Guia prático para cristãos e igrejas que se decepcionaram com receitas mirabolantes de crescimento". É do teólogo alemão Christian Schwarz , editora Evangélica Esperança, Curitiba/PR. Vale a pena ler!
O REINO DE DEUS CRESCE SOZINHO! Jesus conta mais esta parábola (Mc 4.26-29) para ilustrar que o Reino de Deus cresce sozinho. O Reino de Deus é como se um homem lançasse a semente à terra e depois, dia após dia, dormindo e trabalhando e cultivando, espera que ela germine, cresça e produza frutos, nem sabendo ele como. Quando a semente é lançada à terra, ela mesma dá de si os frutos, e quando estes estão maduros, na época própria, são colhidos. É desse modo que Jesus fala do seu Reino, do Reino dos Céus aqui na terra. Interpretando: Não somos nós que criamos o Reino de Deus. Jesus o trouxe até nós, veio implementá-lo por aqui. E Jesus colocou as sementes desse seu Reino em nossas mãos e nos deu a tarefa de semear e cultivar. Cabe a nós semear esta semente que traz dentro de si, a exemplo de outras tantas sementes, o milagre da vida. Não nos compete criar a semente, a vida. A ciência até que já conseguiu evoluir na direção de modificar geneticamente sementes, plantas, animais. Mas criar vida... este continua um segredo de Deus! E toda semente, que carrega dentro dela o gérmen, o potencial da vida, uma vez semeada, ela nasce, cresce e produz por si mesma. Assim é com o Reino de Deus, diz Jesus. Ele confiou à Igreja, ao povo de Deus esta semente da salvação, em Palavras e Sacramentos - estes são os meios da graça, por excelência. A semente que Jesus trouxe foi produzida pelo Deus Eterno, e ela traz a marca de seu Reino, e vem com a propriedade de ser cultivada no solo dos corações humanos, e com o objetivo de produzir uma colheita abundante. Nesta confiança cabe a nós continuar semeando; e os frutos aparecerão a seu tempo.
O REINO DE DEUS INDEPENDE DAS APARÊNCIAS! Para ilustrar esta verdade, relativa ao seu Reino, Jesus conta a parábola do grão de mostarda (Mc 4.30-32). A sementinha de mostarda é tão pequena mas, uma vez germinando, transforma-se num razoável arbusto, onde até passarinhos podem se abrigar. Com esta ilustração Jesus quer mostrar a ação poderosa do Reino de Deus entre nós.
Deus vem, em Jesus, como criança indefesa. Como mestre, Jesus anda pelos caminhos empoeirados da Galiléia. Seus seguidores eram pessoas simples: mulheres, idosos, doentes e pessoas marginalizadas como publicanos e pecadores. Mesmo assim, o Reino de Deus está presente na vida e obra de Jesus. Mesmo Jesus morrendo, tornou-se ele o nosso Senhor ressurreto.
A Reforma da Igreja no século 16, por Martim Lutero, iniciou igualmente com um simples monge angustiado num convento. Iniciou pequena, mas com tão grandes desdobramentos. (Veja: Lutero - o filme!)
Concluindo, trago à reflexão esta bonita imagem: o passaredo se aninhando à sombra e entre os galhos do arbusto da mostarda! Qual ou quais significados podemos extrair daí para a Igreja? A Igreja - principal instrumento para tornar visível o Reino de Deus aqui na terra - é qual sombra gostosa de aconchego, de acolhimento. Nela encontram lugar as mais diferentes opiniões e teologias, e nela encontram abrigo e acolhida todas as raças e nações. Quero ilustrar isso com uma história interessante:
Conta-se que uma comunidade religiosa, em certa ocasião, resolveu construir um templo novo. E atrás do altar resolveram colocar um vitral de cores bem vivas. A comissão de construção procurou por algum tempo uma frase para escrever neste vitral multi-colorido. Um dia decidiram-se pela frase de um hino: "Ao redor do trono celestial do Pai cantam milhares de seus filhos e filhas". Em seguida decidiram contratar um artista famoso para desenhar um modelo, do qual seria copiado o vitral. O artista se pôs a trabalhar e quando terminou ficou encantado com a obra que tinha conseguido criar, em cima daquela frase. E, já tarde da noite, dando o trabalho por concluído, ele foi descansar. Durante a noite lhe parecia estar escutando ruídos estranhos; e ele foi até o seu ateliê verificar o que se passava. Ali se deparou com um homem, que, de pincel e tintas nas mãos, estava a retocar o quadro. - Alto lá! Você está querendo estragar a minha obra, gritou o artista. E o estranho intruso lhe respondeu: Acho que você já a estragou ontem à noite. - Como assim? Retrucou o artista. - Pois bem, veja, em seu estoque de tintas você tem muitas cores, mas você só usou uma delas para pintar os rostos destas crianças. Quem lhe ensinou que no céu, no Reino de Deus só tem crianças de rosto branco? - Bem, eu não tinha pensado nisso, disse então o artista, um tanto envergonhado. E o estranho visitante lhe disse: Olha aqui, eu vou pintar alguns destes rostos de amarelo, outros de castanho, outros de negro e outros de ruivo; pois todos estes estão lá no meu Reino, uma vez que tem atendido ao meu chamado. - Ao seu chamado? Quem é você, afinal? Indagou o artista, agora um tanto quanto assustado. - Uma vez, há muito tempo, continuou o estranho sorrindo, eu disse: "Deixai vir a mim os pequeninos, não os impeçais, porque deles é o Reino dos Céus", e ainda continuo anunciando isso, concluiu o visitante noturno. E foi aí que o artista se deu conta que era o próprio Jesus quem estava falando com ele. E nesse mesmo instante Jesus sumiu. E agora o quadro estava mais bonito, com alguns pequenos rostos negrinhos, outros rostos de crianças orientais de olhinho puxado, alguns rostos de crianças indígenas e outras orientais de pele queimada... E também alguns rostinhos de cor branca.
De manhã , quando o artista despertou do seu pesado sono, correu ao estúdio para ver a sua obra. Estava lá, tal qual a tinha deixado na noite anterior. O encontro com o Mestre Jesus, de madrugada, havia sido um sonho; mais que um sonho: uma visão! E ele, imediatamente, antes que a comissão viesse avaliar a obra encomendada, pegou as tintas e o pincel e freneticamente se pôs a pintar os rostinhos das crianças das mais diversas cores, representando todas as raças que há no mundo. E quando, dali há pouco, a comissão da Igreja chegou, acharam que a obra tinha ficado maravilhosa. E o chefe da comissão exclamou: "Esta é a grande família de Deus com seu Pai".
Certamente a Igreja é a grande família de Deus. E esta Igreja começou na Palestina, pequena como uma semente de mostarda, mas foi crescendo para oferecer lugar suficiente de acolhida para todas as nações e raças da terra. Há lugar para todos à sombra desta arvorezinha chamada Igreja de Jesus Cristo. Você está convidado a ocupar o seu! Se achar oportuno, venha visitar uma Comunidade Luterana. Você será muito bem-vindo!