Uma história de angústia no Advento

16/12/2016

Mateus 1.18-25
Prezada Comunidade:

O Evangelho de hoje nos fala dos acontecimentos antes do casamento de Maria e José e do nascimento de Jesus. Os casamentos sempre estão ligados com a cultura de cada povo.

Por exemplo, na Itália dizem que casar em dia de chuva é um sinal de sorte e felicidade. Na Grécia, os familiares do noivo e da noiva jogam louças velhas no chão na frente dos noivos, para trazer sorte no casamento. Na Índia no dia do casamento, as noivas costumam usar vermelho e não branco. Em Portugal, até o século XX - a cor do vestido da noiva costumava ser o preto. Nos Estados Unidos é de costume o casamento acontecer de dia, porque uma lei determina que a festa deve terminar às 10 horas da noite. Na Colômbia a noiva não deve usar pérolas em seu casamento, pois dizem que simbolizam lágrimas. No Equador, quando os noivos convidam as testemunhas, no dia do convite eles devem ir até a casa das testemunhas e levar comida. Entre os pomeranos, festa de casamento tem que ter foguetório e carne de frango e de pato.

José e Maria eram judeus e na tradição judaica antiga, o noivado geralmente acontecia um ano antes do casamento. A noiva em geral tinha 12-13 anos e com o noivado ela saia da tutela do pai e passava para a tutela do futuro marido. Com o noivado, os noivos já estavam comprometidos um com o outro. Já não havia possibilidade de desfazer o casamento, exceto por motivos muito graves. Um desses motivos era a infidelidade.

A história do Natal nos mostra que Deus nem sempre faz as coisas da maneira mais tranquila. A ação de Deus na vida das pessoas muitas vezes traz dúvida, incerteza, angústia e até medo. Teria sido mais natural que Deus tivesse esperado um pouco, até que que Maria e José já estivessem casados para então ela ficar grávida. Mas não foi assim. Maria fica grávida antes do casamento de outra pessoa. José não é o pai. Para a cultura daquele tempo, isso é adultério de Maria. Segundo as leis do Antigo testamento, a marido podia desfazer o compromisso do noivado – dando a ela uma carta de divórcio antes do casamento. Segundo Dt 22. 21-22 – além disso envergonhar a mulher publicamente, o adultério justificaria que a mulher fosse morta por apedrejamento.

Mas – como dizia - Deus não escreve por linhas retas. Quando José pensa acusar a Maria de adultério, Deus envia um anjo para falar com José. Os anjos são muito ativos na história do Natal. Eles estão presentes nos tempos em que não entendemos o que está nos acontecendo. Eles falaram com Zacarias e Isabel – os pais de João Batista. Depois falam com Maria e José e também falaram com os pastores nos campos. 

O anjo que Deus enviou para falar com José afirmou que a criança que Maria carrega no ventre foi gerada pelo Espírito Santo. Com essa afirmação o anjo quer remover qualquer suspeita de adultério por parte de Maria. E o anjo anuncia mais. Ele anuncia que Deus quer a colaboração de José nesse plano de Deus: José, diz o anjo, Deus está agindo nesse mundo e ele pede a tua colaboração. Não tenha medo em receber a Maria como tua esposa.

O anjo pede confiança. Não tenha medo. As coisas de Deus são assim mesmo. Nós queremos as coisas dentro do nosso quadradinho – mas Deus não age assim. Deus arrisca. Onde Deus está presente não tem comodismo, mas tem transformação. Sua ação nesse mundo produz reviravoltas. Deus muda as coisas de lugar. E no meio de nossa insegurança, ele só pede de nós: Confiança.

Quando as coisas parecem estar de cabeça para baixo, quando nada parece fazer sentido – antes de abandonar tudo, antes de jogar tudo prá cima, - devemos nos lembrar dessa história do Natal. Antes das coisas começarem a ir do jeito de Deus, é necessário primeiro desarrumar, desinstalar. Deus precisa abrir o seu espaço para que algo novo possa nascer.

A presença de Deus produziu reviravoltas na vida de Maria e de José. As reviravoltas – as mudanças - não são fáceis de aceitar. Elas angustiam. Mas Deus não quer que nós abandonemos tudo, que desistamos por causa do medo. – Deus nos pede confiança.

José ainda está inseguro. Será que é isso mesmo? O anjo pede que José assuma a criança, mesmo não sendo o pai biológico. E na tradição judaica isso se formalizava quando o recém nascido era trazido para o pai e o pai dizia o nome da criança. Dar o nome a uma criança era reconhecer publicamente a paternidade dessa criança. E o nome desse menino deveria ser Jesus.

Também hoje vemos muitos pais que – assim como José – assumem filhos que não são biologicamente seus – mas que os amam de todo o coração. Pais que mostram que o amor pela mãe se complementa no amor pelos seus filhos.

Portanto, o Evangelho desse quarto domingo de Advento nos fala de transformação, de angústias, de reviravoltas. Ele nos diz que o jeito de Deus é assim mesmo. Quando Deus decide transformar a nossa vida, as coisas saem do nosso quadradinho. Nesses momentos devemos atender a voz de Deus que nos pede confiança. Quantas vezes nós deixamos de ver os resultados da ação transformadora de Deus em nossa vida, porque na hora H abandonamos tudo por causa do medo.

O Natal já está se aproximando. E a mensagem que o Evangelho nos quer deixar hoje é que Natal é tempo de fortalecer nossa confiança em Deus. Se as coisas estão difíceis de entender, se a vida parece que virou de cabeça para baixo, se estamos com medo diante do futuro, a mensagem do Natal é: Não tenha medo. Deus está presente.

E assim que a graça de nosso Senhor Jesus Cristo, o amor de Deus nosso Pai e a comunhão do Espírito Santo estejam no meio de nós. Amém.
 


Autor(a): Nilton Giese
Âmbito: IECLB / Sinodo: Sudeste / Paróquia: Belo Horizonte (MG)
Área: Confessionalidade / Nível: Confessionalidade - Prédicas e Meditações
Área: Celebração / Nível: Celebração - Ano Eclesiástico / Subnível: Celebração - Ano Eclesiástico - Ciclo do Natal
Testamento: Novo / Livro: Mateus / Capitulo: 1 / Versículo Inicial: 18 / Versículo Final: 25
Natureza do Texto: Pregação/meditação
Perfil do Texto: Prédica
ID: 40666
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