O que é Federação Sinodal?

14/05/1950

O QUE É A «FEDERAÇÃO SINODAL»?

Discurso proferido a 14 de maio de 1950 por ocasião do ato inaugural do
1° Concílio Eclesiástico da Federação Sinodal na Igreja de Cristo em São Leopoldo/RS1
 

Exmas. senhoras e senhores! 

Abrindo esta solenidade inaugural do Primeiro Concílio Eclesiástico, cabe-me a subida honra e o grato dever de dirigir, em nome de sua Presidência, a todos que aqui se acham presentes, a calorosa e cordial saudação da Federação Sinodal, e expressar-lhes que muito nos comove poder realizar-se este ato perante tão egrégia assistência. Em especial dirijo respeitosas saudações ao exmo. sr. Governador do Estado2 que com a sua presença mais uma vez veio documentar a alta compreensão do Governo do Estado3 pelo trabalho da Igreja; tenho a honra de saudar, com os mesmos sentimentos, a digna representação da Assembléia Legislativa do Estados; o exmo. sr. Cel. Comandante da Guarnição de São Leopoldo4; o exmo. sr. Prefeito do Município de São Leopoldo5 e os exmos. srs. representantes da Câmara dos Vereadores desta mesma cidade6, com a qual tão intimamente está ligada, desde o princípio, a história da Igreja Evangélica em nossa Pátria. 

Senhores: é para a Federação Sinodal, que ora pela primeira vez se reúne em concílio, uma grande satisfação poder contar, neste ato solene e importante para a Igreja Evangélica e o seu futuro no Brasil, com a presença dos legítimos representantes dos poderes públicos, porque é publicamente, perante o nosso povo e o seu governo, que a Federação Sinodal deseja hoje apresentar-se e doravante desincumbir-se de sua missão. 

Regozijamo-nos, pelo mesmo motivo, poder saudar em nosso meio as representações eclesiásticas: os dignos senhores representantes das Igrejas-membros da Confederação Evangélica do Brasil; o reverendo bispo Dr. Athalício Pithan, da Igreja Episcopal Brasileira7; os representantes da Comunidade Evangélica de São Leopoldo8, em cujo seio se realiza este Concílio; os senhores membros e delegados das Igrejas federadas.
E, com grande satisfação, dirijo as cordiais saudações ao Presidente da Igreja Evangélica na Argentina, Pastor M. Marczynski, e aos senhores representantes da Igreja Evangélica na Alemanha, os pastores presidente de igreja D. Martin Niemoeller, membro do Conselho Mundial das Igrejas, e o pastor-conselheiro Johannes Bartelt, que hoje estão em nosso meio. Que lhes foi possível realizar esta viagem para cá, atendendo ao nosso convite, e estar conosco nestes dias, enche-nos de gratidão e muito nos conforta. 

Senhoras e senhores! Irmãos em Cristo!

Instala-se hoje o primeiro concílio da Federação Sinodal. Justa, pois, a pergunta: O que é a Federação Sinodal? E simples é a resposta: A Federação Sinodal é a Federação de Sínodos. 

É do conhecimento de todos, pois é uma parte da realidade brasileira desde há mais de um século a existência de comunidades evangélicas, formadas por um processo orgânico proporcionado pela vinda de homens evangélicos para o Brasil, principalmente para o sul e o Brasil Central. Estas comunidades, com origem direta na Reforma, congregaram-se sucessivamente em quatro Sínodos: o Sínodo Evangélico do Brasil Central, o Sínodo Evangélico de Santa Catarina e Paraná, a Igreja Luterana no Brasil, e a Igreja Evangélica no Rio Grande do Sul (Sínodo Riograndense).
Após mais de meio século de existência isolada, sem ligação entre si, estes quatro Sínodos, que hoje congregam um total de aproximadamente 500.000 almas, já em 1938 entraram em um primeiro contato pessoal, por intermédio da conferência de seus presidentes, e, em 1949, resolveram unir-se na Federação Sinodal, dando-se uma Ordem que foi aceita, no mesmo ano, pelos quatro Sínodos, e há pouco registrada na Capital Federal como pessoa jurídica. 

Trata-se, nesta união, de uma federação e não de uma fusão. É- que esse passo não foi ditado pela ambição de erguer uma construção artificial, e não foi ditado por meros motivos de conveniência. Este passo nada mais quer ser do que a plena e cabal ratificação do que se nos apresenta como a realidade dos quatro Sínodos e de suas relações reciprocas, realidade na qual a fé reconhece uma dádiva e uma missão a nós confiadas pelo Senhor da Igreja. Os quatro Sínodos, com a formação da Federação Sinodal, ratificam não somente a sua intenção de não continuarem isolados, mas se reconhecem como congêneres na fé, documentando o seu comum acordo na base doutrinária da Igreja. A Federação Sinodal tem, pois, a sua razão de ser na fé em sendo Igreja de Cristo no Brasil. 

Cada um dos quatro Sínodos tem a sua própria história e continuará a tê-la. Doravante, porém, terão uma história em comum, um caminho, no qual andarão irmanados, lado a lado. Neste caminho não se puseram temerariamente, mas se confessam conduzidos por Aquele, que é o Senhor da Igreja e o Senhor de sua história. Se assim for, e isso quer dizer: se de boa consciência, cônscios de nossa responsabilidade perante Deus e as comunidades a nós confiadas, dermos hoje este passo, então também, quando surgirem dificuldades, não retrocederemos, mas continuaremos no caminho que iniciamos, na obediência para com Deus, para que melhor possamos servir-lhe e mais eficazmente dar lugar à Sua palavra.
Nesse caminho a Federação Sinodal não se sente isolada. Ela sabe-se fraternalmente ligada às outras Igrejas cristãs que trabalham no Brasil e cujo caminho tem a mesma direção de dar lugar à palavra de Deus e sua absoluta autoridade sobre nós. Alheia a todo o fanatismo e orgulho humanos, ela exige e implanta o respeito de todas as outras confissões, que cooperam em levar o evangelho ao nosso povo. 

A Federação sabe-se ligada a todas as Igrejas ecumênicas em todo o vasto mundo, às igrejas que creem na unidade da Igreja de Cristo: na santa igreja católica e apostólica, e que por isso, dentro da verdade, lutam e se esforçam pela unidade — pela unidade que unicamente em Cristo já é realidade. Dentro dessas relações ecumênicas a Federação Sinodal sabe-se ligada, de um modo especial, por motivos da fé e da história, à Igreja Evangélica na Alemanha. Chamando essa Igreja de Igreja-Mãe, por ter sido ela quem gerou as nossas igrejas congregadas na Federação Sinodal, não poderá isso dar lugar a interpretações errôneas. Todas as igrejas em qualquer nação têm a sua Igreja-Mãe. Quando os primeiros arautos do evangelho ultrapassaram os limites de sua própria comunidade, que era Jerusalém, levando a mensagem do evangelho a outros povos, as novas comunidades com gratidão chamaram a Igreja de Jerusalém a sua Igreja-Mãe. Cada nova comunidade, quando viva na fé, leva o evangelho avante tornando-se assim a mãe de novas comunidades. É o que podemos notar na história de nossas próprias igrejas. E sempre fica essa relação que só pode ser comparada à relação que existe entre filho e mãe. É com gratidão e veneração que nos sentimos compelidos a chamar de Igreja-Mãe a Igreja Evangélica na Alemanha, a Igreja da Reforma, com a qual nos une a fé e da qual somos devedores da nossa teologia e com ela de inestimáveis bens espirituais. 

A Federação Sinodal, sabendo-se assim vinculada às Igrejas no Brasil e às Igrejas ecumênicas em todo o mundo, é e será uma Igreja autônoma no Brasil, sem dependências de qualquer natureza de outras igrejas ou instituições. Livre de quaisquer ambições de poder ou de atuações alheias ao seu próprio mandato, ela reconhece como sua única missão, e com ela sabe indicada a direção do seu caminho: a de ser e tornar-se cada vez mais Igreja de Cristo no Brasil. O seu caminho, pois, só poderá ser o caminho do servir: servir ao Senhor, para que Ele mesmo possa edificar e estender o seu reino entre nós e sobre nós, como o reino daquele, ao qual é dado todo o poder, que é o Senhor de todos os setores da vida humana, ao qual são responsáveis todos os homens, em qualquer situação ou posição, na totalidade de sua vida: o reino de Jesus Cristo, em cujo nome unicamente há salvação para todos os homens e todos os povos. 

Eis o que me cabia dizer em apresentação da Federação Sinodal. 

Que Deus o Senhor esteja com a Federação Sinodal nesse seu caminho. 

Que Ele abençoe a obra de nossas mãos! 

Notas:

1 A Federação Sinodal constituiu-se a 26 de outubro de 1949 pela congregação das quatro entidades seguintes: Sínodo Riograndense (Igreja Evangélica no Rio Grande do Sul, Sínodo Evangélico de Santa Catarina 4 e Paraná, Igreja Luterana no Brasil e Sínodo Evangélico do Brasil Central. Os seus Estatutos foram registrados a 19 de fevereiro de 1950 no Registro Civil das Pessoas Jurídicas na então Capital do Brasil, Rio de Janeiro. Sobre o I Concílio Eclesiástico: Primeiro Concílio Eclesiástico da Federação Sinodal, São Leopoldo, 14 — 16 de Maio de 1950, [São Leopoldo, Rotermund] 1950. O discurso reproduzido acima encontra-se nas p. 14 — 18 dessa publicação. 

2 Dr. Valter Só Jobim (1947 — 1951). 

3 A representação foi liderada pelo deputado Frederico Guilherme Schmidt. 

4 Cel. Olímpio Mourão Filho (1949 — 1951). 

5 Dr. Mário Sperb (1947 — 1951) 

6 Os representantes da Câmara foram liderados pelo seu presidente, Dr. Victor O. Schmidt. 

7 O bispo Dr. Pithan representou também a Confederação Evangélica elo Brasil. Além dele participaram ainda os representantes da Igreja Metodista do Brasil. 

8 Presidente do presbitério: Sr. Bruno Bercht

Veja:

Testemunho Evangélico na América Latina

 Editora Sinodal

 São Leopoldo - RS
 


 


Autor(a): Ernesto Theophilo Schlieper
Âmbito: IECLB / Instância Nacional: Concílio
Título da publicação: Testemunho Evangélico na América Latina / Editora: Editora Sinodal / Ano: 1974
Natureza do Texto: Vários
ID: 19745
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