O poder das Chaves do Reino dos Céus (conforme Mateus 16.19) – Ao conversar com seus discípulos a respeito do que o povo diz sobre quem Ele é, e de ouvir a confissão de Pedro: “O Senhor é o Messias, o Filho do Deus vivo”, Jesus o vocacionou: “Você é Pedro, e sobre esta pedra construirei a minha Igreja, nem a morte poderá vencê-la”. E conferiu-lhe poder ao dizer ainda: “Eu lhe darei as chaves do Reino do Céu; o que você proibir na terra será proibido no céu, e o que permitir na terra será permitido no céu”. Outra tradução usa os verbos: ligar na terra e desligar na terra. Portanto, esse poder é conferido a Simão Pedro mediante sua confissão: Tu és o Cristo, o Filho do Deus vivo.
A discussão se a igreja tem poder ou não perdoar pecados acontece num ambiente de confrontação teológica a partir de dois textos preferenciais: Mateus 16.19 onde Jesus diz a Pedro: “... dar-te-ei as chaves do reino dos céus; o que ligares na terra será ligado nos céus; e o que desligares na terra terá sido desligado nos céus”; e João 20.23, quando Jesus sopra sobre seus discípulos o Espírito Santo, os envia e diz: “Se de alguns perdoardes os pecados, são-lhes perdoados; se lhos retiverdes, são retidos”.
As palavras ligar, desligar, perdoar e reter que aparecem nos textos citados fizeram parte dos grandes debates e polêmicas teológicas e, o poder para tal, continua sendo questionado e reinterpretado. Quem tem autoridade para esse exercício?
No Catecismo Menor MARTIM LUTERO afirma que o ministério da absolvição dos pecados “é o poder especial que Cristo deu à Igreja na terra para perdoar pecados às pessoas que se arrependem e não os perdoar a quem não se arrepende”. Esse poder vem do Espírito Santo e não é exclusividade dos líderes da Igreja. O Batismo nos integra no sacerdócio geral. Nele somos presenteados com o Espírito Santo e, portanto, empoderados para essa missão, a saber: Perdoar pecados mediante confissão e arrependimento. Anunciar a graça de Deus é da competência de todo o cristão batizado. Afinal, somos justificados por graça, mediante a fé.
As Escrituras não indicam qualquer sucessão de ofício e a declaração da posse de tal poder não cria continuidade do ofício. O texto, a meu ver, está longe de comprovar sucessão, ou que o alto privilégio concedido a Pedro foi transferido a qualquer linhagem de sucessores seus.
A interpretação mais coerente que se pode fazer desta questão é aquela que diz que qualquer ministro do evangelho, ao pregar, cria com isso circunstâncias que levam os pecados das pessoas a serem perdoados ou retidos. Assim sendo, todos os batizados, que exercem o sacerdócio geral, tornaram-se instrumentos de Cristo; porém, de alguma maneira, isso teve base no ministério original dos apóstolos. O perdão de pecados não pertence ao indivíduo, em si mesmo, mas Cristo outorga essa autoridade àqueles que observam seus ensinamentos, atuam na sua causa e pregam a Palavra de Deus. A aceitação ou rejeição dessa mensagem pelas pessoas que a ouvem é que determina o perdão ou ausência de perdão dos pecados.
Martim Lutero confirma isso em alguns itens das suas conhecidas 95 teses, como por exemplo, na 6ª tese, onde ele assevera: “O papa não pode perdoar dívida
se não declarar e confirmar aquilo que já foi perdoado por Deus”. Com isso, Lutero deixava claro o seu repúdio à doutrina da igreja romana quando esta se diz a
detentora desse poder das chaves na pessoa do Papa.
Pastor Dari Jair Appelt
Oração:
Deus de Bondade e Misericórdia, graças te damos por dons e dádivas, pela confiança de que a Igreja dará continuidade à missão de “abrir as portas do céu” para quem anseia pela vida eterna e tem coragem de confessar pecados, de reconhecer tua graça e acolher o perdão anunciado pelos que fizeste instrumentos da tua Palavra e teu amor. Por Cristo, nosso Senhor e Salvador. Amém.
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