O pão nosso de cada dia nos dá hoje

11/07/2011




“Pedi, e dar-se-vos-á; buscai e achareis, batei, e abrir-se-vos-á”
(Evangelho de Mateus 7.7.)

Esta é uma das Palavras com a qual Jesus anima à oração. No versículo subseqüente ele reafirma “pois todo o que pede recebe; o que busca encontra; e a quem bate, abrir-se-lhe-á”. Motivados por esta e outras frases desde muito cedo aprendemos a orar e a pedir ao Criador, para que nos atenda em nossas necessidades.

A Prece, ou Oração mais conhecida na convivência cristã ecumênica é o Pai Nosso. E nesta reflexão quero me referir sobre tudo à pequena prece de pedido do “pão nosso de cada dia nos dá hoje”.

Creio que o primeiro dos grandes dons que pedimos a Deus é o do pão. É importante observar que a palavra pão em hebraico significa tudo que se refere ao sustento e às necessidades da vida, como por exemplo: comida, bebida, roupa e calçados, habitação, família, saúde, paz... E a Bíblia assegura-nos claramente que, o ser humano deva trabalhar “com o suor do seu rosto” para ganhar o seu pão (Gn.3.17-19), Deus é verdadeira origem desse pão: “A toda carne dá o seu pão, porque é eterno o seu amor!”(Sl. 136.25).

No Pai Nosso oramos pedindo o pão nosso de cada dia, o pão quotidiano, o pão que necessitamos hoje. Essa é uma interpretação desta prece. Mas pode ser também compreendida como o pão de amanhã, do futuro. E nesse caso, qual seria o sentido do pedido? Jesus não nos diz claramente: “Não vos inquieteis com o amanhã” (MT. 6.34)? É por isso que aqueles que optam por essa interpretação, aglutinam à prece um significado espiritual. O “pão de amanhã”, é o pão do mundo que há de vir, o pão do Reino de Deus, o pão da Terra Prometida. Este pedido seria neste caso, outra maneira de pedir pela vinda do Reino.

É possível decidir entre estas duas possibilidades?

Na minha opinião, cada uma das interpretações contém uma parte da verdade. E afirmo isso não como uma solução de facilidade, mas a partir de uma reflexão, na base de três textos bem conhecidos: a história do maná no deserto (Ex.16); a tentação de Jesus em relação ao pão (Mt. 4.4); e por fim, a narração da multiplicação dos pães, seguida do discurso sobre o pão da vida (Jo. 6).

No caminho pelo deserto para a Terra Prometida, os israelitas encontram-se numa situação difícil. Têm fome. No desespero, começam a criticar as lideranças, Aarão e Moisés, mas na realidade visam a Deus. É então que em pleno deserto se produz o milagre. Uma espécie de alimento cai na terra durante a noite, um “pão” misterioso que o povo chama de “maná” – o que é isso!

Ora, antes de mais, este pão é uma realidade material, um alimento capaz de saciar o povo esfomeado e de lhe permitir retomar a caminha. Mas ao mesmo tempo, é algo mais do que isso. Vem do “céu”, isto é, do próprio Deus. E o relato diz-nos que tinha gosto de “mel”. Na Bíblia o mel aponta para a promessa para a Terra Prometida, “terra de leite e mel”. O maná proporciona, assim, como que um antegosto da Terra Prometida, é o “pão de amanhã”, que se faz presente no hoje do povo, para lhe dar força na sua caminhada.

O maná faz o povo passar por experiências miraculosas jamais vividas anteriormente; a partilha e a solidariedade perfeita. Mencionam na narrativa que “aquele que tinha recolhido muito não tinha demasiado e aquele que tinha recolhido pouco tinha o suficiente: cada um tinha recolhido aquilo que podia comer” (Ex.16.18). Neste lugar desértico, o povo experimenta uma antecipação do Reino de Deus, um mundo de justiça realizado. Experimente mais ainda, o maná não se deixa acumular, não se pode fazer reserva dele. Alguns procuram guardar para o dia seguinte, mas ele apodrece e fica cheio de vermes. O acumulado fede.

Na narração de Jesus no deserto (Mt. 4.2-4) também revela que Ele teve fome e então o tentador procura separá-lo de seu Pai, dando-lhe a sugestão de resolver a dificuldade pelas próprias forças. Em vez de viver na confiança, não poderia sair do impasse por meio de atos fulgurantes de poder? Mas Jesus responde com palavras simples: “nem só de pão viverá o homem, mas de toda palavra que sai da boca de Deus”. Jesus não pretende dizer que o homem poderá viver sem pão, mas remete para a confiança em Deus que é a verdadeira origem de tudo aquilo de que precisamos.

E finalmente lancemos um olhar sobre o texto do Evangelho de João 6, onde uma grande multidão segue Jesus num lugar deserto, numa montanha do outro lado do lago, longe da cidade. Jesus alimenta essa multidão apenas com cinco pães e dois peixes. Trata-se, mais uma vez, de um alimento material, mas as alusões ao monte, Monte Sinai, e à proximidade da Páscoa remetem também para uma outra realidade.

Isso se torna explícito no discurso que se segue. “Trabalhai, não pelo alimento que desaparece, mas pelo alimento que permanece para a vida eterna, e que o Filho do Homem vos dará”. Depois explica-lhes que Ele é o verdadeiro maná, o pão vindo de Deus para dar a vida ao mundo.

Assim, quando pedimos: “O pão nosso de cada dia nos dá hoje”, pedimos a Deus que nos ajude durante a nossa caminhada em companhia de Cristo, para sermos capazes de conservar em nós, no deserto deste mundo, a água viva de Deus, a sua luz, e seu amor.Convivamos pois em confiança.

Pastor Inácio Lemke
Pastor Sinodal


Autor(a): Sínodo Norte Catarinense
Âmbito: IECLB / Sinodo: Norte Catarinense
Natureza do Texto: Pregação/meditação
Perfil do Texto: Meditação
ID: 7653
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