O Pai Nosso - A Segunda Petição

Auxílio Homilético

22/03/1982

Venha o teu reino

Arnoldo Maedche

O MOVIMENTO DO REINO É DE DESCIDA

I — Considerações bíblicas

1. O Evangelho e o Reino

O Evangelho encontra sua mais importante mensagem na pregação de Jesus do Reino de Deus (Mc e Lc) ou Reino dos Céus (Mt). Já na preparação do Cristo, João Batista anunciava a chegada do Reino, no deserto da Judéia (Mt 3.2), o que Jesus, logo mais, viria confirmar em Mt 4.17 e Mc 1.14s. As próprias palavras do Reino formam o Evangelho. Isso fica claro quando Jesus introduz suas parábolas, comparando-as com os mistérios do reino (Mt 13.11). Desta forma, devemos conscientizar-nos de que a teologia do Evangelho é a Teologia do Reino. A proposta é o seu estabelecimento aqui, entre nós, e conosco!

2. Que Reino é esse?

A BASILEIA (reino) existe lá onde Deus preside, comanda, rege — é rei! Os judeus entenderam o anúncio evangélico (a vinda do Messias) como o tempo aprazado pelo Senhor para restaurar Israel, conforme os tempos do rei Davi. Jesus frustrou essa expectativa de poderio político-militar. Sua BASILEIA não se identificava com sonhos humanos, curtos, exclusivistas de uma raça. A coisa toda era mais profunda, definitiva e conciliadora de toda a criação. O domínio de Deus no Reino resulta, de fato, numa nova criação. O mistério da ressurreição de Jesus é uma parábola para o Reino — um novo corpo mas, ainda assim, homem! A ação e o espetáculo são do Senhor. Não cabe a nós propor o Reino. Mesmo o ativismo eclesiástico, as orações e conversões, não devem e nern podem ser confundidas com o novo ato criador de Deus esperado pelo crentes no Senhor Jesus Cristo. Talvez uma formulação de síntese: o Reino não está lá onde pessoas querem trazer Deus para suas obras, mas está lá onde Deus rompe o presente momento e engaja pessoas para seus planos de futuro com a humanidade.

3. Como se reconhece o Reino?

Para ser curto e grosso: o Reino de Deus cria realidades que estio em falta ou que estão suprimidas e violentadas. Essas realidades não são só espirituais, coisas de religião, como nos ensina Lc 7.22: Os cegos vêem, os coxos andam, os leprosos são purificados, os surdos ouvem, os mortos ressuscitam e aos pobres anuncia-se-lhes o Evangelho, isto é, a esperança e a presença do Reino. Segundo esta passagem bíblica, o reconhecimento do Reino para João Batista, estava nesses fatos reais, visíveis e que aconteciam ao redor de Jesus. A cura dos doentes, a evidência externa, e não apenas o ato salvífico do perdão dos pecados, são partes constituintes do Evangelho. A cura restabelece a ordem divina recaída a nível de vida material. Não é apenas uma demonstração de fora e de poder. A cura estabelece o Reino. Em síntese: É impossível, diante da leitura do Evangelho, fazer uma teologia da alma, cedendo o corpo às multinacionais.

4. O Reino coloca novos valores e se choca com os estabelecidos - a cruz!

Também é preciso conscientizar-se de que, junto à proximidade do Reino, o Novo Testamento é cristalino em afirmar: Ele não é do mundo e nunca esteve no mundo! Existe, na face da terra, um reino que resiste a Deus e que se choca com sua justiça e com seu amor. O mundo está sob o poder de um príncipe — o chefe dos demónios (v. Jo 12.31; 14.30 e 16.11). O Reino de Deus tem sua tarefa de exorcizar o reino dos demônios (Lc 11.20 e Cl 1.13). O homem é vitima de um complô poderoso, associação de forças reconhecidas e irreconhecidas. O Reino anuncia uma libertação de boca cheia! Por isso o Reino não é o resultado de um desenvolvimento técnico-cultural que o homem, sob o domínio do príncipe deste mundo, tornou possível. O Reino é regado de rupturas, choques, catástrofes, opressão, cruz... Uma ação poderosa de Deus que vai liberando o homem e o mundo para uma existência agradável a Deus. Será a nova terra e a nova cidade (Ap 21.1-5).

 

II — Meditação

1. O sentido da Segunda Petição

Que esperamos com o Venha o teu reino?

Esperamos que Deus atue em nós criando e transformando nossas ralidades. Ansiamos por uma cura de espírito e do corpo. Pedimós que nossa vida tenha o objetivo que Deus quer dar à humanidade, quebrando o poder demoníaco ao qual estamos aprisionados. Pedimos por libertação de todas as situações injustas e repressivas construídas pelo sistemas políticos dos homens na sua ânsia de ocupar o lugar de Deus. Pedimos peio espirito humilde a serviço de todos, principalmente naqueles a quem foram confiadas decisões políticas que atingem a vida de muitos. Pedimos pela convicção de nossa fé — concreta e real. Pela consciência de que somos enviados para uma missão agradável a Deus. Pedimos para que todos estejam acordados e a postos, mobilizados! E, por fim, pedimos pelo segundo advento de Cristo que inaugurará uma nova era para toda a humanidade — segundo a vontade de Deus.

2. Diante desta, prece se definem os espíritos

Creio que esta Segunda Petição do Pai Nosso identifica o que somos e pensamos. Há muita fé de coração e muito ativismo piedoso dentro da Igreja querendo transportar pessoas para o lado de lá deste mundo. Para estes o pedido seria: Não venhas, Senhor, para cá, porque nós é que queremos ir para lá! Aqui está tudo perdido! Tira-nos desta podridão!

Identifica também os convictos que crêem ser o Reino de Deus uma questão de tempo de conquistas humanas. Um tipo de otimismo desenvolvimentista que os paises comunistas assumem ou que o positivismo francês inoculou nas Forças Armadas Brasileiras. Cientistas sociais e tecnólogos fazem o esforço da sabedoria humana querendo gerar PNB, Revolução Verde, Era Espacial, Novas e Revolucionárias Fontes de Energia Inesgotáveis, Longevidade Humana...

Ambas as convicções, dos religiosos e dos materialistas, são ópio para o Reino de Deus e falham diante do Novo Testamento. Deus é o Senhor da história e sua história não precisa ser a linear ascendente ou descendente. Deus vai agir como agiu em Jesus Cristo! Essa é a única pista que temos a procurar. O homem precisará de Deus e não terá direitos de auto-gestão. Deus vai por um fim e um começo. Seu ato criador será consumado. A isso esperamos e pedimos com a Segunda Petição. Embora venha por si mesmo, sem a nossa prece;... suplicamos... que venha também a nós (Catecismo Menor).

III — Indicações para a prédica

1. Duas mentalidades erradas e divergentes do Reino:

a) Reino que separa e tira as pessoas do mundo;

b) Reino construído por mãos humanas.

2. Reino de Deus é:

a) Ação de Deus mesmo;

b) Novos valores (Ap 21);

c) Novo homem (Lc 7.22).

3. A Segunda Petição quer:

a) Que Deus derrame sua força e seu poder, já agora, para libertar e fazer frente aos demónios do mundo;

b) Que o povo de Deus se mobilize atentamente para resistir à opressão e lutar pela dignidade da criação de Deus.

4. Quando o reino chegar e for visível, que estejamos acordados, de joelhos (Ap 11.15).

5. Tudo porque, como termina o Pai Nosso, na Doxologia, teu é o reino, o poder e a glória para sempre. Amém.

IV — Subsídios litúrgicos

1. Texto de introdução: E o reino, e o domínio, e a majestade dos reinos debaixo de todo o céu serão dados ao povo dos santos do Altíssimo: ô seu reino será um reino eterno, e todos os domínios o servirão, e lhe obedecerão.

2. Confissão de pecados: Confessamos o pecado que nos afasta de ti e dos outros que conosco vivem. Nossa vida clama pela libertação final que o teu Reino estabelecerá com a vinda de Jesus. Dá-nos consciência de fé, espirito de renovação, desejo de paz, olhos abertos, busca de dignidade e união contigo e com o teu santo povo. Atende-nos, Senhor! Tem piedade de nós, Senhor!

3. Texto de absolvição: Jesus disse: Ninguém que, tendo posto a mão no arado, olha para trás, é apto para o reino de Deus (Lc 9.62).

4. Oração de coleta: - Nossa esperança reside no que tu fazes por nós, Senhor. Ao chegarmos aqui no culto, abre nossos ouvidos e nos faze receptivos ao teu Reino. Alimenta-nos com tua justiça e com o teu amor. Mediante Jesus Cristo que contigo reina e vive em eternidade. Amém.

5. Texto de leitura do Novo Testamento: Apocalipse 21.1-5.

6. Oração de intercessão - assuntos: Vide 11,1. — Meditação: O Sentido da Segunda Petição.

 

V — Bibliografia

HELBICH, H.-M. Geborgen in Ängsten. Gedanken zum Vaterunser. Berlin, (s.d.).
LUTHER, R. Artigo Reich Gottes. In: Neutestamentliches Wörterbuch. 17. ed., Hamburg, 1966, pp. 176-185.
THIELICKE, H. Das Gebett, das die Welt umspannt. Stuttgart, 1953.


Proclamar Libertação – Suplemento 1
Editora Sinodal e Escola Superior de Teologia


Autor(a): Arnoldo Mädche
Âmbito: IECLB
Título da publicação: Proclamar Libertação / Editora: Editora Sinodal / Ano: 1982 / Volume: Suplemento 1
Natureza do Texto: Pregação/meditação
Perfil do Texto: Auxílio homilético
ID: 7301
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Mesmo que não sejamos cristãos tão bons como deveríamos ser, e somos ignorantes e fracos tanto na vida como na fé, Deus ainda assim quer defender a sua Palavra, pela simples razão de ser a sua Palavra.
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