O meio em que vivemos

Quando o ambiente nos traz boa influêncuia

16/09/2018

Considerações iniciais

Prezada comunidade reunida,
que o amor de Cristo Jesus, que vai além de tudo o que entendemos, instrua o nosso falar e o nosso ouvir.

Começo com um pequeno conto:

Os peixes do Velho Chico, discutiam entre si sobre um assunto muito importante: “Dizem que nós precisamos da água para sobreviver, que somos totalmente dependentes da água. Mas nós nunca vimos a água. Nós nem sequer temos noção do que é água! ” Alguns peixes mais sagazes sugeriram: “No lugar chamado mar vive um peixe muito astuto, conhecedor de muitas coisas. Vamos até lá e perguntar isso a ele. Certamente poderá nos mostrar a água. ”

Assim fizeram. Chegaram à imensidão do mar e, ao encontrarem o Grande Peixe, fizeram a pergunta que os fizera viajar tão longe. Atento, o Grande Peixe respondeu: “Oh, seus peixinhos tolinhos! Vocês vivem na água, vocês se movimentam na água. Vocês sempre estão rodeados de água. Vocês vieram da água e novamente vão retornar à água. Vocês vivem na água e estão sempre dentro da água, mas vocês não sabem disso... ”

Achegando-nos ao texto

O texto que escolho para a pregação neste domingo - João 21.1-19 - tem nitidamente dois momentos. Suas duas histórias na sequência com ensinos encadeados. Primeiramente é descrita uma cena à beira do mar, no amanhecer de um novo dia, onde alguém pede algo para comer. Era Jesus, porém não reconhecido pelos pescadores/discípulos. Somente sete são nominados começando pelos que duvidaram: Pedro e Tomé. Como nada haviam pescado, seguindo a ordem do desconhecido, lançam as redes e as trazem abarrotadas de peixes. (∥ Mt 4.18-22; Mc 1.16s; Lc 5.1-11). A cena termina com peixes assados sobre as brasas, mitigando a fome, proporcionando comunhão, numa alusão à eucaristia (∥ caminho de Emaús Mc 16.12s; Lc 24.13ss).

A segunda parte da descrição é um diálogo entre Pedro e Jesus. Aparentemente, após o partir do pão e peixe, reconheceram a Jesus. Seus gestos sempre o denunciam! O diálogo que segue nada sugere que esteja relacionado ao início do texto lido. Pedro é insistentemente questionado sobre o amor devido a Jesus. “Simão, filho de João, você me ama mais do que estes? ” é a primeira investida de Jesus. Depois mais duas vezes: “Simão, filho de João, você me ama? “; “Simão, filho de João, você me ama? ” Há uma sutil, mas profunda diferença nos enunciados. Jesus pergunta duas vezes a Pedro: αγαπάς με ao que responderá φιλω σε. Na terceira vez Jesus pergunta φιλεις με e Pedro novamente responderá φιλω σε. A sutileza é que Jesus pergunta pelo amor doação, o amor idêntico ao demonstrado na cruz e o discípulo sempre responde com o amor de irmão. Enquanto Jesus fala do amor que doa sua vida em favor do outro, Pedro responde em tom de fraternidade, de amizade profunda, mas não totalmente comprometida. Devemos entender que o segundo é superficial e o primeiro, integral.

O que nos ensina o diálogo sobre o amor?

Os dois relatos fazem parte do epílogo do Ev. de João. O término da obra de Jesus nos chama para uma compreensão renovada do amor de Deus e nosso compromisso de batizados e convertidos. É a chamada missão da comunidade do Primeiro Dia .

Começo, portanto pelo segundo texto, pelo texto do amor a Jesus.

O amor a que Jesus se refere é o amor envolvente, comprometido; um amor totalmente imerso na vida do outro (alteridade!). O amor a que Pedro se refere é igualmente importante, à medida que revela uma afeição espontânea e natural onde a emoção desempenha um papel mais importante que a vontade própria. É o ato passional como fruto do amor.

A questão é: “Pedro, você ama a Jesus?” E mais: “Pedro, você me ama mais que todos os outros?” Ou, a questão é: “Pedro, você me ama mais do que você ama as outras pessoas?”; “Pedro, você me ama mais do que estas outras pessoas me amam? “; “Pedro, você me ama mais que estas coisas que você gosta de fazer? “, como pescar...

Quando ainda se é um menino, ou uma menina, não se espera deles muita responsabilidade, compara Jesus. Mas agora é hora de firmar as convicções e apascentar as ovelhas. E essa apascentar ovelhas (dar de comer e dar de beber) é levar o amor a sério!

Qual o sentido aqui da pesca maravilhosa?

Se você estiver bem recordado da leitura, o primeiro relato terminou em torno dos peixes assados onde Jesus participou com sete dos discípulos de um tira gosto.

Como se chegou a este momento de celebração que leva ao diálogo? Tudo começou com uma pescaria frustrada. Diante da indicação do desconhecido, lançam novamente as redes e pescam como nunca antes.

Tenho a impressão de que o ponto alto do relato não é a pesca, mas o diálogo sobre o amor. Mas este não teria existido sem a pesca, sem o empenho e a obediência de lançar novamente as redes. Temos aqui claramente a obediência missionária que vai desaguar no envolvimento do amor comprometido e comprometedor. Desaguar!

Ainda lembram do conto dos peixes que não conheciam a água? Peixes vivem envoltos naquilo que não veem. Da mesma forma o ser humano vive em Deus. Deus está em todas as coisas e todas as coisas são Deus. E mesmo assim muitos na humanidade se perguntam: “Existe Deus? Quem é Deus? ” É o equivalente a dizer: “Existe o amor? Por que amar? “

Assim afirma o apóstolo Paulo em Atenas: [Deus não está] longe de cada um de nós. 'Pois nele vivemos, nos movemos e existimos’, como disseram alguns dos poetas de vocês: 'Também somos descendência dele'”. (Atos dos Apóstolos 17, 27s)

Sempre quando saímos a pescar (evidentemente não em aquário alheio porque não apreciamos o proselitismo!) nos lançamos para dentro do desconhecido na ânsia de poder trazer resultados. Estes não acontecem meramente pelos nossos esforços; acontecem pela graça de Deus. Isso porque Deus nos ama.

Partindo para uma fé ativa no amor

Acho que seria interessante deixar Lutero falar aqui: “Meu Deus, como podemos ser tão cegos a ponto de não levarmos esse amor a sério? Pois quem poderia ter imaginado que Deus se humilha tanto assim e aceita aquilo que fazemos aos pobres como sendo feito a ele pessoalmente? Assim o mundo está cheio de Deus. Em todos os becos, bem à frente da sua porta, você encontra Cristo. Não fique aí parado, olhando boquiaberto para o alto, dizendo: ‘Pois é, se eu só conseguisse enxergar o Senhor nosso Deus, uma vez que fosse, como eu não estaria disposto a servir-lhe de todas as formas possíveis? ’ Você mente, diz João em sua epístola (1Jo 4.20), pois quem diz que ama a Deus e odeia o próximo que passa necessidade bem à sua frente. “

Cara comunidade,
A comunhão de trabalho nos faz entender melhor o que significa a comunhão de amor. A ação cristã do amor, do diálogo, da alteridade (do olhar e coração pelo outro) se tornam naturais quando percebemos que todos nadamos na mesma água do amor de Deus.
Amém!


Autor(a): Pr. Rolf Rieck
Âmbito: IECLB / Sinodo: Sudeste / Paróquia: Rio de Janeiro - Martin Luther (Centro-RJ)
Área: Confessionalidade / Nível: Confessionalidade - Prédicas e Meditações
Testamento: Novo / Livro: João / Capitulo: 21 / Versículo Inicial: 1 / Versículo Final: 19
Natureza do Texto: Pregação/meditação
Perfil do Texto: Prédica
ID: 48827
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Todas as nossas orações devem fundamentar-se e apoiar-se na obediência a Deus.
Martim Lutero
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