Com inveja dos povos vizinhos, Israel “exigiu” que Deus escolhesse um rei para governa-los. Na ordem, vieram: Saul, Davi e Salomão, os quais, com suas virtudes e falhas, conduziram o povo. Em seguida, houve uma divisão. Surgiram os reinos do Norte e do Sul. A divisão também não foi vontade do Senhor. Mas, fruto da concorrência humana. Entre os relatos históricos do Antigo Testamento, encontramos os livros de “Reis”, os quais revelam, na ordem, os monarcas de Judá e Israel, os dois reinos. Há bons exemplos como o rei Josias, que restaurou o culto ao Senhor. Por outro lado, existem péssimos monarcas, como o rei Acabe, que promovia a idolatria, perseguindo os profetas. Os relatos dos livros de Reis acontecem dentro e fora dos palácios, envolvendo governantes, soldados, sacerdotes, profetas e, principalmente, o povo, que sofria as consequências de um bom ou mau governo. Não devemos esquecer que o profeta era chamado para ser “voz” de Deus. Ele animava e disciplinava o povo. Também, elogiava bons governos. Contudo, não se calava diante dos péssimos monarcas. Em questão, na reflexão de hoje, está a sucessão do profeta Elias pelo jovem Eliseu. Um pouco antes do fato acontecer, o rei Acazias condenou Elias à morte. O profeta sequer morreu. Ele foi elevado direto aos céus. Contudo, Acazias, depois de um tempo acamado, faleceu. Sem filhos para o suceder, o trono passou às mãos do seu irmão Jorão (2º Reis 1.1-18), que deu sequência ao péssimo governo. Um final feliz para quem ama e serve ao Senhor, cumprindo com fidelidade seu chamado, incumbindo um sucessor à altura. Um triste fim àqueles que desprezam e brincam com Deus.
Assim relatam as Escrituras: “O Senhor estava por levar Elias ao céu por intermédio de um vento forte. O profeta estava em Gilgal na companhia do jovem Eliseu. Ele disse: O Senhor me enviou a Betel. Por enquanto, espere-me aqui! Respondeu Eliseu: Não vou te deixar ir sozinho. Assim, acompanhou-o na viagem. Em Betel encontraram outros discípulos de profeta, que perguntaram: Hoje é o dia em que Deus levará o mestre? Eliseu acenou que “sim”. Mas, pediu que nada comentassem. Em seguida, disse Elias: Vou a Jericó! Fique aqui com os demais. Mas, Eliseu não consentiu, acompanhando-o na caminhada. Lá encontraram ainda outros discípulos, os quais também questionaram: É hoje que vai acontecer? Estou sabendo! Disse Eliseu. Mas, aconselhou: Não comentem nada. Outra vez, Elias tentou despistar, dizendo: Vou ao Jordão! Espere aqui. Eliseu apenas disse: Sozinho você não vai! Então, desceram juntos ao rio. Lá estavam Elias, Eliseu e 50 discípulos. O profeta pegou o manto, enrolou-o e bateu nas águas, que se abriram. Assim, passaram pelo leito seco. Perguntou Elias para Eliseu: Você sabe que logo serei levado? O que você quer de mim? O jovem apenas respondeu: Como herdeiro, quero porção dobrada do teu Espírito. Disse o profeta: Você sabe o que está me pedindo? Todavia, se você me enxergar sendo elevado às alturas, o teu pedido será atendido. Caso contrário, não. Então, surgiu no caminho um vento forte que separou os dois. Num carro de fogo com cavalos em chamas, Elias foi elevado aos céus. Eliseu gritou: Meu pai, carros de Israel e seus cavaleiros! Em seguida, ajuntou o manto que Elias deixou cair. Voltando ao Jordão, enrolou-o e batendo nas águas, perguntou: Onde está o Deus de Elias? As águas se dividiram e ele passou sem molhar os pés (2º Reis 2.1-14).
Reflexões & lições. Eterno é somente Deus. Nossa vida é passageira. Será que estamos conscientes de que precisamos, tanto à morte, quanto preparar nossos sucessores? Elias teve a graça de saber o dia, a hora e o jeito de sua partida. É pouco provável que algo assim aconteça conosco. Todavia, o preparo, tanto à morte, quanto ao serviço é necessário. Além de ser “voz de Deus”, Elias é também mentor. Há um grupo de aprendizes de profeta, em diferentes localidades. Mas, quem será o sucessor? Havia uma expectativa no ar. A prova é lançada junto ao anúncio de que estava partindo de Gilgal para Betel, depois de Jericó ao Jordão. Eliseu não foi preguiçoso. Muito pelo contrário, mostrou-se cuidadoso ao acompanhar o mestre. Percebemos aqui um elo bíblico com tema que estamos abordando nos últimos cultos. O discipulado envolve caminhada e “sacrifício”. O cargo de sucessor fica estabelecido num desafio: Eliseu! Fique atento ao que acontece comigo. Olhe com atenção e procure entender a última lição. O momento da decisão e suas consequências, o antes e o depois na vida do crente são fatos históricos na vida do povo de Deus. Com um bastão, Moisés abriu o mar, onde para trás ficou a escravidão do Egito e, adiante, a escola do deserto. Josué passou em seco pelo Jordão, da escola do deserto à terra prometida. Mesmo Jesus dividiu a história humana, antes e depois de Cristo. A vitória conquistada na cruz é um marco na história do mundo. Assim também ocorre conosco: Antes e depois de Cristo! Somos novas criaturas. O antigo passou. Tudo agora é novidade (2ª Coríntios 5.17). Eliseu percebe a lição ao ver Elias dividindo as águas. O mentor, então, pergunta: Você tem certeza de que dará conta do recado? Pense um pouco naquilo que já enfrentei para chegar até aqui: Perseguição, solidão e dúvidas, muitas dúvidas. Eliseu deixa claro seu desejo, chamando-o de “pai”, mesmo não sendo filho. Eliseu também deixa claro quando pede por porção dobrada, tal qual era o direito de todo primogênito. Outra lição se torna perceptível na maneira como Elias é levado. O vento e o fogo apontam, de maneira nítida, ao evento futuro de Pentecostes. Diante de toda vida sofrida do profeta proclama-se com clareza: Não por força, nem por violência. Mas, pelo meu Espírito (Zacarias 4.6). Os carros e cavalos dos reis não são nada, absolutamente nada, diante do poder de Deus. Por fim, não sabemos onde ou a que distância estava o grupo de discípulos. Mas, eles perceberam o manto que estava na mão de Elias agora, com Eliseu, abria as águas, tal qual ocorrera momentos antes. Um novo tempo chegou. Há um novo líder. Mas, Deus continua o mesmo.
Diante do que refletimos até aqui, pense comigo: 1º) Deus decidiu e instruiu a hora de buscar o seu servo! A vida tem um fim. Estamos preparados? Seja a minha ou dos meus queridos? Estou encaminhando meu(s) sucessor(es)? Reflita tanto fisicamente, quanto espiritualmente. 2º) Deus indica e confirma um sucessor, dando-lhe autoridade. Não podemos esquecer que o comando sempre pertence a Deus. Cabe-nos simplesmente a obediência. 3º) Eliseu tem no coração o desejo de servir a Deus e ao seu povo. Era uma tarefa honrosa, mas também perigosa. Temos também tal intuito e consciência? 4º) Ninguém nasce pronto. A vida é uma escola. A igreja é uma escola. Já testemunhei e repito: Sou o que sou graças a minha família. Mas, com certeza, posso afirmar ainda com mais força: Sou o que sou graças a minha vivência em comunidade. Deus moldou e molda meu caráter dia a dia. Vocês fazem parte deste processo, com certeza. Por isso, 5º) A palavra-chave é a obediência. Não cega, antes aquela que esclarece. Jesus é a minha luz. Ele é meu parâmetro de conduta. Se algo, dentro ou fora da igreja, não condiz com seus princípios, deixo de lado. A obediência se dá em relação à vontade do Senhor. Mas, também à liderança espiritual. Elias, Eliseu e os demais discípulos formavam um grupo coeso. Com Deus sempre serei livre, para amar e servir. Por fim, 6º) O que acontece quando digo “sim” ao chamado? Passo a fazer parte do plano maior de Deus, da execução do seu Reino, o que nem sempre significa sucesso aos olhos humanos. Mesmo Elias, depois Cristo, sofreram muito. Mas, alcançaram a salvação. Elias passou direto da vida à eternidade. Com Jesus, até podemos passar pela morte. Todavia, a “coroa da vida” está garantida. Amém!