O Espírito vem pelas águas

04/05/2003


O Espírito vem pelas águas

Há dados que indicam que em 25 anos cerca de um terço da humanidade não terá água potável

Marcelo Barros - Hoje nós temos seis bilhões de seres humanos no planeta Terra, dos quais dois bilhões não têm acesso à água potável. Daí decorrem problemas gravíssimos. Por exemplo, de cada cem doenças que existem no mundo 80 — principalmente as que atingem as crianças — estão ligadas ao uso de água contaminada. 75% da sua superfície da Terra é água, mas somente 0,75% é água doce. O mais é água salgada e geleiras. Quando era menino, pensava que a água era uma coisa que não acabava nunca. E hoje a gente sabe que acaba. O rio São Francisco, por exemplo, está com oito metros a menos que a sua vasão normal. E por que isso ocorre? Primeiro: por causa da poluição, do desrespeito. à natureza, do desmatamento, da destruição das matas ditares, queimadas, etc. Segundo: devido à mercantilização e a privatização da água. Quer dizer, a água virou mercadoria e essa mercadoria é privatizada por grandes empresas inclusive multinacionais. Hoje em dia a água é propriedade da Nestlé, da Danone, da Coca-Cola e aí é claro que os pobres não têm acesso à água. Então é preciso democratizar o uso da água.

Qual é o processo para que isto aconteça?
Marcelo Barros — Eu penso que a primeira coisa é a conscientização. Conversar sobre isso ajuda muito. Tem gente que nunca pensou nesse assunto e diz ((puxa, eu não sabia. Segundo, é o pessoal se reunir em comunidades que, a partir da nossa fé cristã ou a partir de um amor à vida, comecem a se organizar em comissões de defesa da água. Em muitos lugares do Brasil já existem comitês de água. Gente que começa a se organizar para democratizar a água e defender as fontes. No seu livro O Espírito vem pelas Águas você fala da relação da água com a espiritualidade.

Como esse tema aparece no seu livro?
Marcelo Barros:
O próprio título do livro revela um olhar bíblico, porque a Bíblia começa dizendo: No princípio, Deus criou o céu e a terra, a Terra era informe e era fazia e o espírito de Deus pairava sobre as águas. Quer dizer, o sopro de Deus estava, vinha através da água. Eu percebi que em todas as tradições religiosas, mas na Bíblia também, a água é o primeiro veículo da vida. Hoje a ciência diz que a vida veio de dentro d'água. Então a fé nos diz que se a vida vem pela água, a vida divina também. O espírito de Deus também. E no caso do cristão, por exemplo, se a gente renasce, renasce da água e do Espírito Santo, mas é muito mais amplo do que isso. É a própria relação com Deus que se faz através da comunhão com a terra e com a água.

E como isso se estabelece na prática da comunidade?
Marcelo Barros:
É preciso mudar a maneira de a gente se relacionar com a água. Quando escovo os dentes com a torneira aberta, eu gasto até 60 litros d'água. Se eu fecho e uso só o que é necessário, eu gasto dez vezes menos. Isso não é um problema meramente de poupança, mas é um problema de respeito. Mas também é preciso mudar o sistema social, político e econômico do mundo. Não pode descuidar do dia a dia, mas ao mesmo tempo também é importante lutar por uma política macro. Eu acho que, cada dia mais, está havendo no mundo uma consciência nova sobre isso e, principalmente, nas comunidades religiosas. A partir da fé as pessoas estão se unindo para transformar o mundo e para transformar a relação com a água e com a terra.

TÉCNICA:

Seguem algumas sugestões de atividades:

1. Junte o seu grupo e organize um passeio às margens de um rio, lago ou arroio próximo à sua cidade.
2. Promova uma reflexão sobre as condições da água, a sua necessidade para a vida e o •cuidado que devemos ter para garantir a sobrevivência das próximas gerações.
3. Converse sobre a relação entre o Batismo e a água.
4. Promova um mutirão de limpeza das margens de um rio, arroio ou lago em sua localidade.


Entrevista de Marcelo Barros, monge Beneditino e assessor das CEBs e da Pastoral da Terra, ao jornalista Ricardo Fiegenbaum


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