O erro de Richard Dawkins

11/12/2015

 

O ERRO DE RICHARD DAWKINS

Prof. Dankwart Bernsmüller

Após palestra de Richard Dawkins proferida em maio deste ano em Porto Alegre no âmbito do ciclo ‘Fronteiras do Pensamento’, várias pessoas expressaram decepção e – confesso – também fiquei decepcionado, mas com eles. Explico:

Motivo da crítica da audiência é o fato de Dawkins não ter aprofundado sua defesa do evolucionismo ateísta que o tornou conhecido pelo mundo afora. Ele e seus seguidores têm uma visão limitada de ciência com a qual querem disseminar uma weltanschauung que acaba sendo uma vilania contra ela mesma, pois a coloca num patamar que falseia e deifica o científico. Negar a religião em favor da ciência pura e contestar a existência de Deus, corresponde a negar os sentimentos de afeto e amor que nutrimos por cônjuges, filhos e netos, é desconsiderar o belo das artes, em suma, é negar a dignidade da vida. Ser ateísta é uma opção pessoal, mas ridicularizar, maldizer ou considerar alienados aqueles que não o são, como Dawkins o faz, demonstra pobreza de espírito.

Além disso, há que se considerar o fato de Dawkins nada apresentar de original. Sem dúvida ele tem abrangentes conhecimentos, mas assume um posicionamento científico do século 19. Para ele, a ciência demonstra verdades absolutas. No entanto, hoje a ciência reconhece que ela não é ‘o’ mundo, mas abarca apenas parte dele.

Adeptos do evolucionismo excludente de Dawkins fazem missão nem tanto pela ciência, mas contra a religião. O que mais espanta, é desconhecerem o juízo científico sobre religião. Para exemplificar, afirmam que no passado as pessoas acreditavam que o mundo havia sido criado em seis dias e que hoje, qualquer criança sabe que isso está errado. Ora, quem detém um mínimo de visão científica sabe que há três mil anos as pessoas eram tão inteligentes como hoje. É certo que não dispunham de tantos recursos e, por consequência, de tantas informações como nós – mas imbecis elas não eram. Para entender o mundo na época, criavam histórias sobre ele. Nada de errado nisso – como nada de errado há na criação artística de um poeta, pintor, escultor ou dramaturgo. Suas obras são maneiras de interpretar o mundo ou de interagir com ele. A história bíblica dos seis dias de trabalho de Deus era uma adaptação narrativa a seu próprio ritmo de trabalho. Se hoje há cientistas que tendem a considerar importante apenas o mensurável, não deveriam supor que todas as pessoas também o considerem assim. Valorizam o mensurável – mesmo que irrelevante – em detrimento ao não-mensurável, ao espiritual. Para as pessoas na antiguidade a história da criação do mundo em seis dias por um Deus único, confiável e onipotente – não por inúmeros espíritos naturais assustadores que se expressam por raios, trovões, tempestades – conferia-lhes a confiança de estarem vivendo num mundo razoável e substantivo, no qual vale a pena viver. Da mesma forma para nós, hoje, vale a pena viver neste mundo se confiarmos em Deus e aceitarmos que ciência e religião não são excludentes.

Ante as grandes questões da vida, todos os cientistas estão tão inquietos como qualquer outra pessoa. Um cientista sério sabe que não dispõe de acesso privilegiado às definitivas respostas. Nenhum historiador ao vasculhar um arquivo, nenhum botânico ao perambular por um ecossistema, nenhum astrônomo ao perscrutar a Via Láctea vai subitamente encontrar Deus. Quem faz da ciência uma weltanschauung vai mais cedo ou mais tarde se deparar com alguém que tem a sensibilidade de perceber que essa forma de encarar o mundo e a vida não abarca todo o nosso horizonte, pois a ciência na realidade explica muito pouco – pelo contrário, a cada resposta faz emergir mais perguntas. Tenho dó daqueles que defendem o míope ponto de vista sintetizado por Gagarin na tristemente famosa frase, “Estive no espaço sideral e não encontrei Deus” – assim como tenho dó daqueles que expressaram sua decepção com a palestra de Richard Dawkins em Porto Alegre.
 


Autor(a): Dankwart Bernsmüller
Âmbito: IECLB
Área: Publicações / Nível: Publicações - Artigoteca
Natureza do Texto: Artigo
ID: 36209
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Nenhum pecado merece maior castigo do que o que cometemos contra as crianças, quando não as educamos.
Martim Lutero
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