O céu aberto em 2021

17/01/2021

Prezada Comunidade
Estimados rádio-ouvintes:

A maioria dos membros das comunidades luteranas são pessoas batizadas na própria igreja e educadas num lar e ambiente luterano. É claro que temos tido vários casos de pessoas que entraram na igreja luterana por profissão de fé, mas para a maioria das pessoas, ser membro da igreja luterana é um processo quase “automático”. Com isso não quero desprezar a tradição. A tradição é valiosa e é importante. Aqui na Igrejinha somos a única Comunidade Luterana que ainda tem culto em língua alemã todos os domingos. A tradição é um fator importante de continuidade e de estabilidade.

Mas além de valorizar a tradição luterana, já vemos muitos casos onde os filhos não mais acompanham os pais na igreja. Os pais são ativos, mas os filhos não. Alguns até foram para outra igreja, mas a maioria dos filhos está sem igreja nenhuma. Por que os filhos não acompanham os pais? Talvez seria interessante que os pais perguntassem isso aos seus filhos.

Estamos iniciando um novo ano e em nossas comunidades estamos ansiosos por voltar as atividades presenciais. Mas será que vamos voltar as antigas dificuldades? Ou será que podemos também tentar novas respostas para problemas antigos?

Nessa época do ano estamos celebrando o tempo da Epifania, que é uma palavra que significa Revelação. Trata-se da revelação de Jesus o Enviador de Deus. Jesus foi enviado por Deus ao povo de Israel. Jesus representa o cumprimento das antigas promessas de Deus. Tudo o que está escrito na Torá sobre o Messias, isso está se cumprindo em Jesus de Nazaré.

Mas hoje em dia não basta apenas repetir essa terminologia cristológica. Hoje em dia não basta ter uma igreja que apenas repete a maneira como sempre pregou a Palavra de Deus. A palavra de Deus não mudou, mas as pessoas que a ouvem mudaram. Por isso, é preciso reinterpretar essa palavra de Deus para as pessoas de hoje. A igreja precisa falar sobre a revelação de Jesus e a sua relevância para os dias de hoje. Em outras palavras, a igreja deve intensificar cada vez mais a consciência cristã de seus membros, convertendo cristãos por tradição em cristãos por convicção. Essa é uma das tarefas que temos pela frente para tornar nossas comunidades atrativas, acolhedoras e inclusivas para aqueles e aquelas que deixaram de participar na igreja.

O Evangelho de hoje nos quer animar nessa tarefa. É um texto muito bonito para se conversar num estudo bíblico. Quem eram os discípulos que Jesus está chamando aqui. O que eles faziam da vida? Onde estão as promessas de Deus no Livro da Lei? Falar sobre a atitude de Filipe e a reação de Natanael: Será que pode vir alguma coisa boa de Nazaré? Natanael entendeu muito bem o que Jesus quis dizer com: Eu já te havia visto sentado debaixo da figueira. O que significa isso?

Mas para a pregação de hoje, gostaria apenas de destacar um versículo. O último (o v.51) onde lemos assim: «Em verdade, em verdade vos digo que vereis o céu aberto e os anjos de Deus subindo e descendo sobre o Filho do homem.»

Vereis o céu aberto. Não é isso que nós gostariamos de ver também? O que significa isso de o céu aberto? Nós seres humanos estamos tão perdidos que parece que o céu está fechado e se olhamos para o comportamento das pessoas parece que até Deus já jogou a toalha e foi embora.

Por outro lado, o inferno — este sim! Esse parece estar com as duas portas abertas. Willian Shakespeare, que é quase contemporâneo de Lutero, pois nasceu um pouco depois de Lutero, em sua obra chamada Hamlet, tem o seguinte texto: O inferno deve estar vazio, pois todos os demônios estão aqui na terra. Hamlet vê todos esses sinais infernais: violência, traições, feminicídios, vinganças, crimes, intolerância, tudo isso em grande quantidade e por todos os lugares. Por isso, ele diz: O inferno deve estar vazio, pois todos os demônios estão aqui.

E parece que os demônios não saíram mais daqui. Hoje poderíamos acrescentar vários outros sinais infernais: fake News, ódio social, depredação do meio ambiente. E isso não são coisas que lemos penas nos noticiários. Isso já acontece em muitos lugares bem perto de nós, e às vezes até mesmo com a nossa participação.

Mas Jesus fala aos seus discípulos que o céu se abriu sobre esse mundo.
Na noite de seu nascimento de Jesus, o céu estava aberto e os anjos anunciam a boa mensagem da salvação. No batismo de Jesus, o céu se abriu e uma voz do céu disse: Este é meu Filho querido que me dará muita alegria. O céu se abriu sobre Jesus e Moisés e Elias vieram se reunir com ele no monte Tabor. No domingo da ressurreição o céu se abriu e os anjos desceram para dizer as mulheres que Jesus já não estava morto, mas que foi ressuscitado.
Portanto, o céu se abriu e o Filho de Deus veio visitar a terra. Deus abriu o céu para chegar perto da sua criação, para ouvir seus clamores, estender-lhe a sua mão. Deus abriu o céu porque ele não é indiferente a dor e ao sofrimento, nem é indiferente a destruição da Natureza, o jardim de Deus, que ele pediu que nós cuidássemos.

Quando Jesus diz que o céu se abriu ele disse que a fé cristã é a única religião que fala da “humanização de Deus”. Deus se importa com as pessoas e com o que acontece a sua Boa Criação. Deus se importa com o sofrimento das pessoas que lá em Manaus, no meio da selva amazônica, estão morrendo asfixiados por falta de oxigênio.

E porque Deus abriu o céu e porque ele se importa, é que os cientistas conseguiram encontrar a vacina contra o COVID-19. Essa descoberta das vacinas deve ser recebida por nós que somos pessoas cristãs como uma bênção de Deus. A vacina é uma bênção de Deus e em gratidão a Deus por essa bênção é que devemos todos e todas tomá-la. Ao tomar a vacina nós estaremos colaborando com Deus para combater o coronavírus. Nós podemos ajudar Deus a controlar essa doença.

Eu sei que nem todas as pessoas vão tomar a vacina. Mas não tomar a vacina, significa deixar as portas abertas para que o coronavírus se modifique. E quem não tomar a vacina estará ajudando para que o coronavírus se fortaleça e fique mais forte que as vacinas. Portanto, estará ajudando a continuidade dessa situação de morte. Ninguém é obrigado a tomar vacina, assim como ninguém é obrigado a reconhecer que a vacina é uma bênção de Deus. Mas, como proclamadores da Palavra de Deus devemos dizer: Um dia, cada pessoa – cada um de nós – teremos que comparecer e responder pelos nossos atos diante do juízo de Deus. Então é Deus mesmo que nos julgará.

Portanto, quando Jesus fala que o céu está aberto sobre ele, é para nos dizer que os poderes infernais já não são os únicos donos do mundo. Com a humanização de Deus em Jesus Cristo, Deus quer que o ajudemos a acabar com a maldade nesse mundo. Deus nos quer como colaboradores para acabar com o ódio, as mentiras, a intolerância, que causam tanto sofrimento morte. Pois o que está acontecendo em Manaus, com o colapso dos hospitais e dos recursos para atender pessoas com COVID 19 está na iminência de se repetir em qualquer outra grande cidade do país.

Portanto, nós como igreja luterana falamos hoje do céu aberto, da vinda do Filho de Deus como a humanização de Deus em Jesus Cristo. E quando falamos disso, dizemos que Jesus tem uma tarefa. Ele quer chamar as pessoas para que façam a vontade de Deus.

Talvez alguns dirão que a situação da humanidade está tão ruim que é muito difícil que as coisas melhorem. Pois, nós podemos fazer um pequeno ensaio de mudança em nossas comunidades, em nossas igrejas. É nas igrejas que podemos nos alimentar da Palavra de Deus, alimentar os nossos filhos e filhas com essa Palavra e praticar a solidariedade, a prática da justiça., do amor, da tolerância, do perdão e da paz. A igreja, a Comunidade, é o lugar onde nós Ouvimos o chamado desse Jesus que se importa com o sofrimento das pessoas e da Criação e que quer que nós colaboremos para que haja menos sofrimento, menos dor, menos indiferença. Uma comunidade onde a Palavra de Deus é lâmpada para os nossos pés e luz para o nosso caminho.

A volta as atividades presenciais é uma oportunidade para fortalecer-nos no ouvir e na prática da Palavra de Deus. E para isso, Jesus está convidando seus seguidores. Convida a nós, mas também quer convidar nossos filhos (as) netos (as).

Não é essa também a angústia de muitos pessoas que não estão participando de nenhuma igreja, mas gostariam de ser parte de um lugar onde a comunhão, o respeito, o amor fosse a norma de convivência? Quando Jesus disse a Natanael: Eu já tinha visto você sentado debaixo da figueira, Natanael entendeu que Jesus estava falando das preocupações e angústias de Natanael. Assim Jesus também já olhou dentro de nossos corações e Ele conhece as nossas angústias. Por isso mesmo é que ele nos chama dizendo: Vem comigo porque o céu ainda está aberto.

Que a graça de nosso Senhor Jesus Cristo.....
 


Autor(a): Nilton Giese
Âmbito: IECLB / Sinodo: Paranapanema / Paróquia: Curitiba - Igreja de Cristo
Área: Confessionalidade / Nível: Confessionalidade - Prédicas e Meditações
Área: Comunicação / Nível: Comunicação - Programas de Rádio
Área: Missão / Nível: Missão - Coronavírus
Testamento: Novo / Livro: João / Capitulo: 1 / Versículo Inicial: 43 / Versículo Final: 51
Natureza do Texto: Pregação/meditação
Perfil do Texto: Prédica
ID: 60880
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Assim como o fogo sempre produz calor e fumaça, também a fé sempre vem acompanhada do amor.
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