O bom humor é um santo remédio
Armindo L. Müller
Se existe alguém que sempre me deixa impressionado, então este é o reformador Lutero. A sua maneira de falar e de dizer as coisas era simples e direta. Ele sabia transmitir as profundas verdades bíblicas e teológicas de uma forma precisa e simples, de maneira que todos conseguissem entendê-las com facilidade. Por exemplo: quando ele passou instruções a jovens pastores sobre como portar-se no púlpito, a dica foi muito prática: ¨Sê firme, abre a boca e termina logo¨. Para um bom entendedor, basta!
Katharina von Bora, a esposa, agia de forma diferente. Ela o fazia com poucas palavras, mas com humor. Por exemplo: Lutero estava passando por momentos de grande angústia e perseguição e, por isso, andava cabisbaixo, mal se alimentava e pouco falava. Quando ele retornou à casa, a esposa estava vestida de luto. Ele ficou assustado e perguntou quem tinha falecido. Ela, com amor e humor, respondeu: ¨Se eu vejo você andando deste jeito, só posso imaginar que o nosso Deus morreu¨. E isto foi um santo remédio.
Rosto feliz
Eu aprendi, com todos os meus anos de ministério, que o humor faz uma grande falta em nossa atividade pastoral e eclesiástica. Em geral, somos muito sisudos e fechados, carrancudos até. Se aprendêssemos a ser mais humorados, muitas coisas seriam facilitadas em nosso convívio, na Igreja e fora dela. O próprio Goethe já lamentava: ¨Pregam contra tantos vícios, mas nunca ouvi ninguém condenar de um púlpito o mau humor¨. Humor não é simplesmente contar piadas e anedotas, mas é uma maneira diferente de encarar a vida e as dificuldades que ela apresenta. O mau humor transforma a aparência do rosto, deixando-o contorcido e carrancudo. O bom humor alivia a fisionomia, tornando-a serena, bondosa, agradável e feliz.
Numa vitrine estava exposto um pequeno cartaz, onde se lia: ¨Para fazer uma cara feia, é necessário contorcer centenas de músculos; para sorrir, basta repuxar um pouco a boca¨. E tenho a certeza de que todos concordarão comigo, quando afirmo que a coisa mais linda que existe sobre a face da terra é um rosto sorridente e feliz. A própria Bíblia sugere que ¨um coração alegre torna o rosto formoso¨ (Pv 15.13). Está aqui uma maneira simples e prática — que não custa nada — para um eficiente tratamento de beleza. Ter humor e sorrir é uma forma de soltar-se, libertar-se. Foi, por isso, que o filósofo Kant afirmou que ¨Deus deu ao ser humano, como contrapeso aos inúmeros contratempos da vida, três coisas: a esperança, o sono e o sorriso¨. E estou convicto de que quem se alegra e sabe sorrir vive mais e melhor. É, pois, com justa razão, que o padre e educador Champagnat, há pouco canonizado, dizia: ¨É fazendo os outros felizes que encontramos a nossa própria felicidade¨.
Humor na Igreja
Mas o humor não é apenas uma maneira de mudar a própria vida. Ele também pode transformar a vida e as pessoas ao nosso redor. Ser simpático, agradável e bem-humorado é uma forma simples e eficiente de conquistar os outros. A cara feia espanta, mas um rosto simpático atrai e convida para a aproximação e o diálogo. E isto vale também para as atividades da própria igreja. Temos que fazer tudo com muita seriedade, mas isto não significa com mau humor. Eu sempre fico impressionado com a alegria contagiante da Bíblia. O reino de Deus também é alegria, paz e felicidade. E eu somente consigo imaginar o próprio Cristo como um homem sorridente, agradável e bem-humorada. Resumindo a sua mensagem de salvação em palavras simples, vejo-o falando assim: dá um pouco mais de bondade e amor, leva um pouco mais de luz e esperança para dentro do mundo, e a tua vida terá um sentido. Pois quem traz alegria à vida de uma pessoa abre-lhe a porta do céu; quem trata uma pessoa com paciência contagia-a com esperança, e quem aceita uma pessoa assim como ela também foi aceita por Cristo solta-lhe a língua para o louvor.
Concluo com a seguinte mensagem: o melhor que podemos fazer neste mundo e por este mundo é alegrar, consolar e tornar felizes as outras pessoas. E assim estaremos cumprindo o desejo mais profundo do próprio Cristo, que veio a este mundo para que todos tenham vida e a tenham em abundância (Jo 10.10). E esta vida plena e cheia de sentido Deus deseja a todas as pessoas, indistintamente. Mas ele espera que nós cristãos sejamos os primeiros a praticá-la, levando-a para todo o mundo.
Só tem uma coisa: Deus nos dá o rosto, sorrir nós mesmos precisamos fazer.
O autor é pastor da IECLB e atua na Comunidade Evangélica Luterana de Nova Friburgo, RJ
Voltar para o índice do Anuário Evangélico 2000