Amados irmãos e amadas irmãs,
que palavras usaríamos para descrever o amor? Como você descreveria o amor? O que é o amor para você? Sem olhar no dicionário, mas a partir da sua própria vida e da sua própria experiência, o que você diria que é o amor? Isso mesmo: o que é o amor? O que é amar? O que é ser amado?
Uma das minhas definições favoritas é a do P. Gottfried Brakemeier que já foi Pastor Presidente da IECLB. Em um artigo sobre o Ministério Compartilhado, o P. Brakemeier diz: “Mil prédicas sobre o amor de Deus não podem substituir o gesto de amor humano que o faz palpável. Teoria sem prática não convence. Ela fica sem efeitos” . É uma frase muito boa e guardo ela com muito carinho no meu coração. Ela significa que não adianta ficar falando muito do amor sem amar! É isso mesmo! Não adianta falar do amor sem amar! Não vale a pena discursar e usar as palavras mais bonitas sobre o amor sem que este amor se torne ação, pois o amor não é outra coisa senão ação. O verdadeiro amor não apenas está em palavras, mas em ações. Podemos fazer mil prédicas sobre o amor de Deus, entretanto, sem o gesto humano de amor, todas elas seriam completamente vazias e sem sentido. Teoria sem prática não convence. No amor cristão, não pode haver esse papo de “faça o que eu digo, mas não faça o que eu faço”. É preciso colocar em prática o amor que acreditamos.
João é o apóstolo do amor. É dele o versículo mais conhecido da Bíblia, João 3.16 que há pouco tempo vimos em uma série muito legal. João gosta de falar do amor. João é uma pessoa simples. Sua linguagem não é tão culta como a do apóstolo Paulo e nem tão robusta quanto a linguagem do médico e historiador Lucas, autor do Evangelho com seu nome e de Atos dos Apóstolos. João possui uma linguagem simples e carinhosa. Enquanto outros autores do Novo Testamento se chamam de irmãos, João os chama de filhinhos.
João compreendeu o amor de Deus em sua essência. João percebeu que este amor não é apenas em palavras, mas deve ser em ação. O próprio amor de Deus não é um amor apenas em palavras, pois Deus não disse que amava ao mundo de braços cruzados nos céus; Deus não revelou seu amor dizendo que ama ao mundo sentado confortavelmente em seu trono celestial; Deus não amou apenas em palavras, mas em ação. Por isso, o Deus cristão é o Deus que desce, encarna-se, faz-se humano para saber o que é ser humano. Ele não apenas diz que ama, mas age pelo seu amor. Deus se fez gente como a gente, tão humano quanto nós, porém, sem deixar de ser Deus. Ele vem atrás do ser humano. Não entoa seu amor do céu, mas pratica o amor na terra e entre nós. O Deus cristão não é alguém barbudo, sentado em um trono em uma nuvem e que apenas vê as coisas acontecerem. Não! É o Deus aqui, presente, pertinho, que desceu para estar próximo e agir na História da Salvação. Ali onde há um fraco, ali Deus está e ali Deus deve ser encontrado, conforme Jesus mesmo afirmou em Mateus 25.
É por isso que João diz “nós amamos porque Deus nos amou primeiro”. (v. 19). Deus fez tudo em seu amor. Entregou-se para morrer na cruz em nosso lugar. Recebeu o nosso castigo. O inocente é tornado culpado para que os culpados sejam transformados em inocentes. Isso é a justificação: Deus nos torna justos em Cristo Jesus, mesmo que não mereçamos.
Nas minhas férias escutei alguém dizer que a pandemia é um castigo de Deus e que mesmo que Deus esteja nos chamando através da pandemia, as pessoas não querem acordar para a verdade. São palavras duras e fortes. Meditei bastante tempo sobre essas palavras. Sabe a qual conclusão cheguei? Isso não pode ser verdade! Se a pandemia é um castigo de Deus e a maneira pela qual Deus está chamando o mundo ao arrependimento, então a pandemia substituiu e anulou a própria obra de Deus na cruz. Se é pela pandemia que o ser humano chega ao arrependimento, então ela é mais salvadora que a própria morte de Deus na cruz. Portanto, a pandemia não é castigo de Deus nem chamado ao arrependimento, mas consequência dos nossos atos para com a Criação de Deus. O problema é que destruímos a boa Criação de Deus e ainda temos a ousadia de colocar a culpa pela pandemia na conta de Deus, dizendo que é castigo dele e chamado ao arrependimento.
Queridos e queridas, o verdadeiro chamado de Deus ao arrependimento aconteceu na cruz do Senhor e Salvador Jesus Cristo. É ali que está o sinal mais claro e luzente que foi erguido por Cristo Jesus, pois, por amor ao mundo perdido, deu a própria vida na cruz.
O Deus da cruz é o chamado ao arrependimento e conversão e não a pandemia ou qualquer outra coisa. É na cruz que vemos o amor de Deus. Diante da cruz, nos vemos em um espelho onde tomamos consciência da tragédia dos nossos pecados ao mesmo tempo em que percebemos o quanto ele nos amou ao ponto de nos substituir na cruz. Deus prova seu amor a nós não através da pandemia ou qualquer outra coisa, mas Deus provou seu amor a nós ao entregar seu próprio Filho para morrer na cruz em nosso lugar! Deveríamos gritar glória a Deus ao percebermos isso!
Este foi o primeiro gesto de amor de Deus. Amor que foi gesto, doação, ação. Não é um amor egoísta, nem um amor que apenas nos quer bem, mas ágape que é o amor incondicional. Deus não entoa apenas belas palavras de amor, mas agiu para demonstrar e provar seu amor por nós. Se a cruz não é suficiente para nos convencer do amor de Deus por nós, então nada será suficiente! Repito: Se a cruz não é suficiente para nos convencer do amor de Deus por nós, então nada será suficiente!
A partir dele, também nós podemos amar como ele amou. Nós amamos porque ele nos amou primeiro. Ao recebermos o seu maravilhoso amor, não iremos querer fazer outra coisa senão amar. Assim como recebemos a doação do seu amor, também doaremos amor aos nossos irmãos e irmãs. Se recebemos verdadeiramente o amor de Deus, vamos agir pela prevenção, pelo cuidado, pela proteção das outras pessoas. Por quê? Por amor! Martinho Lutero dizia que pela fé não estou sujeito a ninguém, mas sou completamente livre de tudo e de todos, porém, pelo amor, estou sujeito a todos e sou escravo de tudo e todos. Pela fé, livres; pelo amor, escravos.
Por isso João diz: “Se alguém disser: “Amo a Deus”, mas odiar o seu irmão, esse é mentiroso. Pois quem não ama o seu irmão, a quem vê, não pode amar a Deus, a quem não vê”. (v. 19). Veja como tem lógica estas palavras de João! Como posso dizer que amo a Deus – que não vejo – se não amo ao meu irmão – a quem vejo? O que isso significa? Significa que só posso amar verdadeiramente a Deus – que não vejo – se primeiro amar ao meu irmão – a quem vejo. Percebeu? O amor a Deus não é declarado apenas nas orações, nos hinos, nas palavras, nas lágrimas, etc. O amor de Deus é declarado na ação!
Isso é lindo! Posso, sim, manifestar meu amor a Deus cantando, orando, pregando, assim por diante. Porém, a maior manifestação de que alguém realmente ama a Deus é encontrada quando alguém age em favor do seu próximo! E Jesus mesmo nos deu uma lista do que podemos fazer para mostrar se amamos a Deus de verdade ou se é tudo faixada. Jesus disse: “Porque tive fome, e vocês me deram de comer; tive sede, e vocês me deram de beber; eu era estrangeiro, e vocês me hospedaram; eu estava nu, e vocês me vestiram; doente, e me visitaram; preso, e foram me ver.” (Mateus 25.35-36). E quando é que fazemos isso a Jesus? Ele mesmo continua, dizendo: “Em verdade lhes digo que sempre que o fizerem a um destes meus pequeninos irmãos, foi a mim que o fizeram.” (Mateus 25.40). Com o perdão da palavra, muitas vezes o servir a Deus tem muito “oba, oba”, coisas fantásticas e extraordinárias, mas pouca ação! E conforme João, quem diz amar a Deus mas odeia ao seu irmão, é mentiroso, pois não pode estar amando a Deus.
Por isso, João diz: “Quem ama a Deus, que ame também o seu irmão”. (v. 21). Não há outro jeito. Se amamos a Deus de fato, iremos tratar as outras pessoas (mesmo as mais diferentes de nós mesmos) com humanidade, respeito e amor. Não iremos desprezar os que pensam diferente de nós. Não iremos menosprezar aqueles que tem uma linha de pensamento diferente da nossa. Amor é ação! Vivemos uma polarização tão grande que quem tem uma visão política diferente é tratado como se nem fosse um ser humano. Entretanto, o amor leva à paz É tão difícil assim se sentar e conversar como adultos sobre as coisas? Sem ofensas? Sem diminuir o outro? Quem se diz cristão deveria, por via de regra, praticar isso. Do contrário, é mentiroso e mentirosa e não ama a Deus!
Claro, há também outras inúmeras possibilidades de agir através do amor de Deus. Estamos diante de uma pandemia, mas não estamos de braços cruzados. Nas últimas duas semanas as nossas duas OASEs – Bom Pastor e Vida Nova – realizaram a doação de muitos materiais de higiene e limpeza para o Hospital Sapiranga. Também a nossa Paróquia fez doação de produtos. É assim que provamos que amamos a Deus de verdade: quando agimos em amor aos nossos irmãos. Doamos o que podíamos para ajudar a quem precisa. Esta é a nossa missão! Lembram a frase do P. Brakemeier lá do início? “Mil prédicas sobre o amor de Deus não podem substituir o gesto de amor humano que o faz palpável. Teoria sem prática não convence. Ela fica sem efeitos.”
Também temos recebido na secretaria paroquial alimentos que são doados a pessoas que vem pedir. Também ali revelamos que amamos a Deus de verdade e não apenas de faixada. Temos recebido também caixas de leite para doarmos à Liga Feminina de Combate ao Câncer de Sapiranga. E poderia citar ainda outros exemplos. Acredito que todos estamos fazendo alguma coisa. E não dizemos isso para nos mostrarmos, mas para mostrar o amor de Deus a qual acreditamos. Não é um amor apenas falado, orado, cantado, mas é amor ação! Amor que faz, como Deus fez por nós.
Amados irmãos, amadas irmãs.
É tempo de Quaresma que é tempo de penitência, arrependimento, conversão, interioridade. Vamos pensar no amor. Vamos também arregaçar as mangas e agir. O mundo precisa de amor! O que será do mundo sem amor? E não estou falando do amor-palavra, mas do amor-ação. Vamos agir pelo amor! Por onde começar? Comece em casa: casais, não apenas digam que se amam, mas façam gestos que mostrem a verdade do amor; pais e filhos, não apenas digam que se amam, mas façam gestos que demonstrem o amor; irmãos, irmãs, eu sei, às vezes é difícil, mas também ali comecem a demonstrar o amor de Jesus; avós e netos, manifestem o amor através do respeito a quem tem uma idade maior ou menor; e também para fora da família: amigos, não coloquem seus amigos em perigo, pois onde a vida é colocada em risco por brincadeiras bobas, ali não há verdadeiro amor de amigos; patrões e empregados, exerçam suas profissões cumprindo sua vocação para servirem a Deus por meio do próximo. E assim seguimos em todas as partes da nossa vida.
Como cantava Renato Russo: “é preciso amar as pessoas como se não houvesse amanhã, porque se você parar pra pensar, na verdade não há!” Não deixe para depois. Amor é ação, é doação, é perdão, é reconciliação, é fazer o bem, é querer bem, é cuidar, proteger, confortar, consolar, assim por diante.
Fomos amados primeiro. Que ao recebermos esse primeiro amor, estejamos bem engajados no amor ao próximo, pois é amando ao próximo – a quem vemos – que provamos que amamos a Deus – a quem não vemos. Amor gente! Amor!
E a paz de Deus, que excede todo o entendimento, guardará os nossos corações e as nossas mentes em Cristo Jesus, amém.
4º DOMINGO NA QUARESMA | VIOLETA | CICLO DA PÁSCOA | ANO B
14/03/2021
Série de Pregações: Quaresma: O Raio-X de nós mesmos | Episódio 3
P. William Felipe Zacarias