No dia 20 de julho de 2017 no município de Verê (PR), aconteceu a XIV Festa Regional das Sementes, organizada pelo Fórum Regional das Organizações e Movimentos do Campo e da Cidade. Participaram do evento 1.200 agricultoras, agricultores e camponeses do Sudoeste do Paraná e de outras regiões, como Guarapuava, São João do Triunfo, Palmeira, Fernandes Pinheiro e Marechal Cândido Rondon.
Neste ano, com a temática Semeando biodiversidade, colhendo comida saudável para o campo e cidade, mais uma vez a festa comprovou ser uma importante ferramenta de resistência, defesa, multiplicação e partilha de sementes, assegurando que o domínio das sementes deve estar na mão dos povos que cultivam a terra.
Na parte da manhã, a mística de abertura ficou sob a responsabilidade das crianças das quatro escolas municipais e do Centro Municipal de Educação Infantil Chapeuzinho Vermelho (CMEI) de Verê, que trabalharam o tema sementes como parte de suas atividades pedagógicas, e já preparando a participação na festa. As crianças confeccionaram mandalas com sementes e promoveram um concurso de paródias sobre a temática da festa. As paródias escolhidas foram cantadas pelas próprias crianças.
A palestra foi feita por Laércio Meirelles, do Centro Ecológico de Ipê (RS), que falou do monopólio de meia dúzia de grandes empresas que dominam, no mundo, a produção e o comércio de sementes, agrotóxicos e transgênicos. Enfatizou ainda em sua fala que o domínio das sementes é dos povos e com eles deve permanecer, mas que esse direito está sendo colocado em risco. Destacou ainda que eventos como esse realizado em Verê “reforçam a nossa capacidade de resistência a essa opressão que vem sobre nós”.
Mesmo sendo uma disputa de aparente desigualdade, Laércio comenta que a esperança não pode morrer. Citou um autor que ensina: “todo pessimista é um chato, todo otimista é um tolo, eu sou um realista esperançoso”, e emendou “não temos tempo para ser pessimistas, porque temos muita coisa por fazer, estamos cheios de esperança e não nos sentimos derrotados”.
No momento das perguntas, um agricultor perguntou se a agroecologia conseguiria alimentar toda a humanidade. Laércio começou dizendo que nem a agricultura tradicional consegue alimentar toda a humanidade, há sempre cerca de um bilhão de pessoas passando fome, porque o problema não é a falta de alimentos, mas sim a má distribuição. E conclui dizendo que gostaria que a agroecologia tivesse uma chance para alimentar a humanidade.
Na comemoração dos 20 anos do CAPA/Núcleo Verê, que ocorreu na parte da tarde, o coordenador do Jhony Alex Luchmann fez um breve histórico da atuação do CAPA na região, bem como as dificuldades e conquistas ao longo desses 20 anos de caminhada e encerrou falando e apresentando o vídeo da Campanha Comida Boa na Mesa.
Jhony agradece a todas as agricultoras e agricultores, associações e cooperativas, entidades parceiras que ao longo desses 20 anos contribuíram para o desenvolvimento do trabalho. Fez ainda um agradecimento especial ao coordenador do CAPA/Núcleo Marechal Cândido Rondon, Vilmar Saar, e a sua equipe, que vieram prestigiar e festa e trouxeram 50 agricultoras e agricultores para a festa.
O Bispo da Diocese de Francisco Beltrão e Palmas, Dom Edgar Xavier Ertl, foi convidado para fazer a benção das sementes antes do momento da partilha e acentuou a importância da produção agroecológica. Destacou a importância das ações de organizações como o CAPA, que estão preocupadas com o futuro da produção de alimentos saudáveis.
“O alimento tem que prolongar a vida, e não abreviá-la. Apoiamos toda a agricultura familiar, tudo que é orgânico, que é saudável. Vamos divulgar, porque é um valor que trazemos dos nossos antepassados, que não podemos esquecer. Temos que incentivar, inclusive as nossas famílias, para que ninguém mais use venenos. Ainda existem instrumentos para trabalhar a terra, como enxadas e foices, e esses não podem desaparecer, não podem virar peças de museu”.
Texto e fotos: CAPA/Núcleo Verê