Nova Geração | Juízes 2.8-16

5º Domingo após Pentecostes

27/06/2021

 

Amados irmãos, amadas irmãs,

Josué foi um dos mais importantes líderes da história de Israel. Josué foi um dos 12 espiões enviados por Moisés para examinar a viabilidade da conquista da terra prometida. Enquanto 10 espiões retornaram a Israel dizendo que a conquista não seria possível, Josué e Calebe testemunharam que, em Deus, a entrada na terra era mais do que certa (cf. Números 13.1-33; 14.1-38). É também de Josué o conhecido versículo “eu e a minha casa serviremos ao Senhor” (Josué 24.15). O nome Josué significa O Senhor é salvação. Em seu próprio nome, Josué testemunha da salvação que há no único Deus.

Há um ponto em que as histórias de Moisés e Josué são bem parecidas: Moisés comandou a travessia do povo pelo mar vermelho (cf. Êxodo 14); Josué comandou a travessia do Rio Jordão (cf. Josué 3). Josué tomou a cidade de Jericó, conquistou Canaã e a distribuiu entre as 12 tribos de Israel (c. Josué 8-21); ele também renovou a aliança do povo com Deus (cf. Josué 22.10-34).

Este homem tinha sua origem na tribo de Efraim que era uma das mais prestigiosas e numerosas de todo o Israel. Conforme Números 1.33, “e foram contados deles, da tribo de Efraim, quarenta mil e quinhentos”. Só a tribo de Efraim dava mais ou menos a metade da população de Sapiranga. Mais tarde, quando o rei Salomão morreu, o reino foi dividido e a tribo de Efraim ficou no Reino do Norte chamado Israel e cuja capital era Samaria. Inclusive a Samaria pertencia ao território original da tribo de Efraim.

Além de tudo isso, Josué foi o assistente pessoal de Moisés (cf. Êxodo 17). Após a morte de Moisés, Josué o sucedeu na liderança do povo de Deus, recebendo do próprio Deus o encorajamento: “Não foi isso que eu ordenei? Seja forte e corajoso! Não tenha medo, nem fique assustado, porque o Senhor, seu Deus, estará com você por onde quer que você andar”. (Josué 1.9). No livro e na gestão de Josué, praticamente todas as promessas de Gênesis, Êxodo, Levítico, Números e Deuteronômio são cumpridas. Foi um homem de Deus. A Aliança de Deus com Abraão (cf. Gênesis 12.1-3) é cumprida em Josué. John Lilley, professor na Magdalen College da Universidade de Oxford na Inglaterra, diz: “Israel, sob a liderança de Josué, demonstrou mais coragem do que sob a liderança de Moisés”1. No Novo Testamento, Josué é lembrado como alguém que agiu pela fé (cf. Hebreus 11.30).

Entretanto, tudo isso que eu acabei de resumir e falar pra vocês, agora era coisa do passado. Várias gerações haviam visto os grandes feitos do Senhor, o Deus de Abraão, Isaque e Jacó, entre o povo. Sinais e maravilhas que demonstravam o amor de Deus ao povo e a fidelidade do Senhor à aliança com o seu próprio povo. Havia, inclusive, um credo que deveria ser utilizado dentro das famílias para que a memória dos feitos de Deus fosse passada de geração em geração. Esse credo nós encontramos em Deuteronômio 6.4-9, que nos diz: “Escute, Israel, o Senhor nosso Deus é o único Senhor. Portanto, ame o Senhor, seu Deus de todo o seu coração, de toda a sua alma e com toda a sua força. Estas palavras que hoje lhe ordeno estarão no seu coração. Você as inculcará a seus filhos, e delas falará quando estiver sentado em sua casa, andando pelo caminho, ao deitar-se e ao levantar-se. Também deve amarrá-las como sinal na sua mão, e elas lhe serão por frontal entre os olhos. E você as escreverá nos umbrais de sua casa e nas suas portas”.

O “discipulado” não era terceirizado ao templo, mas algo que deveria ser exercitado em casa! Os pais deveriam levar seus filhos a amarem as palavras do Senhor para que, depois, possam passar estas palavras e toda essa memória aos seus filhos e, estes, e aos filhos dos seus filhos. Toda a história deveria ser ensinada de geração em geração para que a fé no único Deus e Senhor não se perdesse. E – mesmo que muitas vezes de desviassem dos ensinamentos de Deus – essa transmissão oral dos feitos de Deus aconteceu até Josué.

E então chegamos ao livro de Juízes onde constatamos o triste texto que já ouvimos antes da pregação. Josué morreu e com ele toda a geração que havia visto os grandes feitos de Deus. Aqui as coisas começam a desandar. Infelizmente, parece que o ser humano ama a Palavra de Deus quando está em necessidade; porém, basta alcançar o que deseja para desacreditar completamente dos ensinos de Deus. Deus havia sido útil até a conquista da terra prometida. Agora, Deus poderia ser descartado, jogado pela janela. Apenas uma geração não cumpriu o credo de Israel e o que veio em seguinte foi arrasador.

Por mais que Deus havia feito muitos sinais e maravilhas entre o seu povo, uma geração não cumpriu a sua tarefa de passar toda essa memória aos filhos, para que seus filhos passassem aos seus filhos, de geração em geração. O resultado é entristecedor. Nos diz Juízes 2.10: “Toda aquela geração também morreu e foi reunida aos seus pais. E, depois dela, se levantou uma nova geração, que não conhecia o Senhor, nem as obras que ele havia feito em Israel.” Aqueles pais haviam falhado com os seus filhos. Faltou o discipulado no lar. Faltou ensinar as obras do Senhor. Então, levanta-se uma geração que “não precisa mais de Deus” e que esqueceu completamente de Deus.

O resultado disso é que essa nova geração sofre com uma grande e grave crise de liderança. Não havia quem os conduzisse nos caminhos do Senhor. O livro dos Juízes nos traz “a narrativa cíclica da época dos juízes, com ênfase na constante falta, por parte de Israel, de fidelidade à aliança”2. O povo de Deus entra em um ciclo vicioso de pecado, desobediência e idolatria. Eles, de fato, “Deixaram o Senhor, Deus de seus pais, que os havia tirado da terra do Egito, e seguiam outros deuses, os deuses dos povos que havia ao redor deles, e os adoraram, e provocaram o Senhor à ira”. (Juízes 2.12).

Se você ler todo o livro de Juízes, perceberá o seguinte ciclo vicioso: 1) o povo faz o que é mau aos olhos do Senhor; 2) O Senhor envia a Israel uma nação para os oprimir; 3) O povo clama pelo nome do Senhor; 4) O Senhor envia um juiz libertador; 5) A nação opressora é derrotada; 6) o povo tem descanso: e então começa tudo novamente: 1) o povo faz o que é mau aos olhos do Senhor; 2) O Senhor envia a Israel uma nação para os oprimir; 3) O povo clama pelo nome do Senhor; assim por diante. Quando o ser humano esquece de Deus, ele passa a andar em círculos e apenas a satisfazer-se a si mesmo com as coisas deste mundo. Poderá até ser “o tal” diante do mundo, mas a grande verdade é que enquanto não se arrepender e mudar, não é nada diante de Deus!

Apenas uma geração não cumpriu a sua tarefa de passar a memória dos feitos de Deus para a próxima geração e o desastre foi iminente; uma geração não exercitou o “discipulado” amoroso dentro do lar e seus filhos se perderam completamente dos caminhos do Senhor; uma geração não ensinou seus filhos a amarem ao Senhor Deus de todo o coração, alma e entendimento e eles passam a amar os deuses dos povos vizinhos.

Amados irmãos, amadas irmãs,

toda essa reflexão nos leva a perguntas importantes que precisamos fazer a nós mesmos e às nossas famílias no séc. XXI. Ao quê estamos educando as novas gerações? Amor ao quê os pais estão ensinando aos filhos como uma grande memória e herança familiar? O discipulado familiar está acontecendo? Ou estamos terceirizando essa tarefa apenas às igrejas? São perguntas muito importantes!

Talvez estejamos educando os filhos e as filhas a idolatrarem jogadores de futebol ou de outros esportes; talvez os filhos estejam sendo educados a idolatrarem artistas famosos, cantores, youtubers, influencers. Vivemos quase um “fale mal da minha mãe, mas não do meu youtuber favorito”; talvez os filhos estejam sendo educados a amarem até políticos que não deveriam ser nada mais que servidores do próprio povo que os elegeu; ou talvez os filhos estejam sendo ensinados a idolatrar objetos como casas, carros, assim por diante; ou talvez, pior ainda, uma idolatria à sua própria vida que é vivida de maneira perversa e distante do Senhor como se não houvesse amanhã; a idolatria não é apenas uma adoração a deuses estranhos, mas também àquilo que quer tomar conta da nossa vida. Martinho Lutero dizia que “o coração do ser humano é uma fábrica de ídolos”. O que os filhos estão aprendendo a idolatrar a partir do exemplo de seus pais?

Vem cá! Deixa o pastor te fazer mais umas perguntas: Os jogadores de futebol ou de outros esportes te conhecem? Os artistas, youtubers e influencers sabem que você existe? Os seus políticos de estimação conhecem o seu nome e a tua história de vida? Tirando uma ou outra exceção que porventura poderia acontecer, nós sabemos que a resposta para essas perguntas é não! Então, a pergunta agora é: por que os amamos e idolatramos tanto? Por que os transformamos em deuses na terra? Uma coisa é a admiração por uma pessoa pelo trabalho e função que realiza. Agora, idolatria é algo bem mais sério e perigoso.

Queridos e queridas, Deus te conhece. Ele conhece a tua vida desde o ventre materno ( cf. Salmo 139). Você estava sendo formado no ventre de sua mãe e já era amado por Deus! Olha que magnífico! Ele viu você nascer! Ele viu você crescer! Deus sabe exatamente onde e em que situação você está ouvindo este culto nesta manhã! O nosso Deus é o Deus que nos conhece exatamente como somos, mesmo quando não vemos saída para nós mesmos.

Você diz “Isso é impossível”, e Deus te responde: “Tudo é possível” (cf. Lucas 18.27); você diz: “Eu já estou cansado”, e Deus te responde: “Eu te darei repouso” (cf. Mateus 11.28-30); você diz: “Ninguém me ama de verdade”, e Deus te responde: “Eu te amo” (cf. João3.16); você diz: “Não tenho condições”, e Deus te responde: “A minha graça é suficiente” (cf. 2 Coríntios 12.9); você diz: “Não vejo saída”, e Deus te responde: “Eu guiarei os teus passos” (cf. Provérbios 3.5-6); você diz: “Estou angustiado”, e Deus te responde: “Eu te livrarei da angústia” (cf. Salmo 90.15); você diz: “Não vale a pena”, e Deus te responde: “Tudo vale a pena” (cf. Romanos 8.28); você diz: “Eu não mereço perdão”, e Deus te responde: “Eu te perdoo” (cf. 1 João 1.9; Romanos 8.1); você diz: “Não vou conseguir”, e Deus te responde: “Eu suprirei todas as tuas necessidades” (cf. Filipenses 4.19); você diz: “Estou sempre frustrado e preocupado”, e Deus te responde: “Confiai-me todas as tuas preocupações” (cf. 1 Pedro 5.7); você diz: “Eu não tenho talento suficiente”, e Deus te responde: “Eu te dou sabedoria” (cf. 1 Coríntios 1.30); você diz “Não tenho fé”, e Deus te responde: “Eu dei a cada um uma medida de fé” (cf. Romanos 12.3); e você diz: “Estou me sinto só e desamparado”, e Deus diz: “Eu nunca te deixarei nem desampararei” (cf. Hebreus 13.5).

Irmãos e irmãs, vocês estão plenamente capacitados pela Palavra de Deus a evangelizarem dentro da própria casa. Não é só falar de Jesus para os vizinhos, mas também para aqueles que habitam debaixo do mesmo teto. Nós conhecemos o amor que Deus revelou por nós em Jesus Cristo em sua morte e morte de cruz. Sabemos o quanto somos amados por Deus. Porém, precisamos ensinar a nova geração a também amar e confiar plenamente no Senhor, antes que seja tarde demais. A educação cristã não começa na igreja, em uma escola ligada à igreja, ou seja lá aonde for; a educação cristã começa dentro do lar quando pais passam sua fé para os filhos. Porém, se os próprios pais não amam ao Senhor, não leem a Bíblia e nem oram em casa, será muito difícil que os filhos passem a amar a Deus. Precisamos ter o Evangelho dentro dos nossos lares!

Se esta palavra falou com você, talvez você esteja se perguntando: “por onde começar, pastor?” Aqui vão algumas dicas para você:

1) Orar com perseverança: Pais, nunca deixem de orar pelos seus filhos; filhos, orem também pelos seus pais. A oração é o início de tudo porque ela significa o pedido de ajuda a Deus. Ela é o reconhecimento de que não conseguimos, mas que Deus pode fazer e soprar seu vento onde quiser. Não basta apenas apresentar Deus aos filhos; é preciso também apresentar os filhos diante de Deus. Por isso, ore muito! Nunca deixe de orar! Ore até seu último suspiro por todos da sua família e confie em Deus que age no tempo certo para a salvação;

2) Aja amorosamente: Não seja um legalista dentro de casa, querendo que seus filhos sejam como você. Não! Você não é perfeito! Eles devem aprender a ser como Jesus. Evangelizar dentro de casa não significa ficar cobrando mais e mais, mas demonstrar uma vida que está sob a graça e o amor de Deus. É mais fazer do que falar! É mais ação do que exigências. É acolher como o pai que acolheu seu filho perdido que gastou toda a sua herança e acabou comendo a lavagem dos porcos (cf. Lucas 15.11-32). Se você quer perder o seu filho, diga pra ele: “Você nunca vai dar nada na vida”. Essa é uma frase que nenhum filho deveria ouvir! Já se você quer ganhar seu filho, demonstre todo o seu amor materno e paterno em palavras e ações;

3) Bíblia: Cristãos leem a Bíblia em casa. Não faça isso apenas individualmente, mas também em família. Tirem um tempo do dia ou mesmo da semana para lerem um texto bíblico, um devocional e conversarem a respeito. É ali que Deus produzirá a fé, pois a fé vem pelo ouvir da Palavra de Deus (cf. Romanos 10.17). Portanto, Bíblia em casa é mais que importante: é necessário para uma verdadeira espiritualidade cristã;

4) Orar pelas lideranças das igrejas: Ore por aqueles que estão à frente do trabalho, seja os ministros/as e presbíteros/as. Somos humanos. Também temos fraquezas. Nem sempre é fácil. Há lutas e provas. Nem todas visíveis, pois muitas lutas pertencem ao mundo invisível. Se tem uma coisa que o diabo não suporta é um ministério dando frutos. Ele começa a dividir os irmãos e irmãs, a desmotivá-los da fé, a criticarem tudo o que é feito. Por isso, cuidado! Ore com fé e repreenda o inimigo para que a Igreja e suas lideranças estejam cada vez mais unidas, fortes e firmes nas promessas de Jesus.

Amados irmãos, amadas irmãs,

que Deus nos ajude a colocarmos tudo isso em prática. Não é e não será fácil. Somos atacados e perturbados por todos os lados. Certamente as propostas do mundo agradam muito mais aos corações fracos do que o Evangelho. Mas precisamos insistir! Para que estas duas comunidades continuem, precisamos fazer o nosso “tema de casa”. Passe sua fé com coragem de geração em geração.

Amém.


 5º DOMINGO APÓS PENTECOSTES | VERDE | TEMPO COMUM | ANO B

27 de Junho de 2021


P. William Felipe Zacarias


1 LILLEY, John P. U. “Josué”. in: DOUGLAS, James Dixon. O Novo Dicionário da Bíblia. 3. ed. São Paulo: Vida Nova, 2006. p. 725.

2 FEE, Gordon D; STUART, Douglas. Como ler a Bíblia livro por livro: um guia de estudo panorâmico da Bíblia. São Paulo: Vida Nova, 2013. p. 83.


Autor(a): P. William Felipe Zacarias
Âmbito: IECLB / Sinodo: Rio dos Sinos / Paróquia: Sapiranga - Ferrabraz
Área: Missão / Nível: Missão - Coronavírus
Área: Confessionalidade / Nível: Confessionalidade - Prédicas e Meditações
Área: Celebração / Nível: Celebração - Ano Eclesiástico / Subnível: Celebração - Ano Eclesiástico - Ciclo do Tempo Comum
Testamento: Antigo / Livro: Juízes / Capitulo: 2 / Versículo Inicial: 8 / Versículo Final: 16
Natureza do Texto: Pregação/meditação
Perfil do Texto: Prédica
ID: 63441
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