Notícias fantasiosas

A realidade e o perigo das falsas notícias entre o povo de Deus

16/08/2019

“Sou eu apenas um Deus de perto”, pergunta o Senhor, “e não também um Deus de longe? Poderá alguém esconder-se sem que eu o veja?”, pergunta o Senhor. “Não sou eu aquele que enche os céus e a terra?”, pergunta o Senhor. “Ouvi o que dizem os profetas, que profetizam mentiras em meu nome, dizendo: ‘Tive um sonho! Tive um sonho!’ Até quando os profetas continuarão a profetizar men-tiras e as ilusões de suas próprias mentes? Eles imaginam que os sonhos que contam uns aos outros farão o povo esquecer o meu nome, assim como os seus antepassados esqueceram o meu nome por causa de Baal. O profeta que tem um sonho, conte o sonho, e o que tem a minha palavra, fale a mi-nha palavra com fidelidade. Pois o que tem a palha a ver com o trigo?”, pergunta o Senhor. “Não é a minha palavra como o fogo”, pergunta o Senhor, “e como um martelo que despedaça a rocha?” (‭Jeremias‬ ‭23:23-29‬ ‭NVI‬‬)


Introdução

Aquele pastor tinha um zelo especial com os adolescentes do Ensino Confirmatório. Como o período de preparação de dois anos estava chegando ao fim, começou a escolher cuidadosa-mente o versículo bíblico que iria constar da certidão. Para fixar bem o conteúdo de cada versí-culo, dava uma tarefa aos adolescentes: tinham que escrever uma pequena reflexão a respei-to do versículo de sua lembrança de confirmação, para que as palavras ficassem gravadas no coração.

A doce Letícia recebeu o versículo do Ev. de João 14.27: “Deixo-lhes a paz; a minha paz vos dou. Não se perturbe o seu coração, nem tenham medo.”

Ela escreveu: “Jesus é um cara muito querido e compreensivo com todos nós. Ele diz que não precisamos ter medo de nada e que ele vai nos deixar em paz. Não vai mais nos perturbar com seus mandamentos e com a obrigação de decorar versículos, porque quer que cada uma viva de acordo como quer.”

Querida comunidade.

Nestes tempos em que vivemos fica muito evidente, mais que em outras épocas, que as pes-soas querem satisfação pessoal. Não levam em conta as consequências que suas ambições pessoais possam ter na vida do próximo. Estas pessoas estão fadadas e ter problemas na família, emprego, escola, carreira profissional. O próprio exercício político visivelmente tem consequências desastrosas quando acontece conforme a opinião ou desejo de uma só pessoa. O totalitarismo, evidentemente, tira a paz. A desenfreada busca por riqueza pessoal certamente comprometerá o bem-estar das pessoas empobrecidas, assim tirando delas a paz e a dignida-de. É inerente à palavra de Deus que ela julgue, purifique e acabe por se impor, mesmo que is-so aconteça num doloroso processo.

Temos disposição de ouvir uma pregação da palavra bíblica, mesmo que ela fale contra nós?

“Uma pessoa sem fantasia é como um pássaro sem asas.” (Wilhelm Raabe)

Exatamente isso acontece na fantasiosa Igreja cristã de maneira odiosa e demoníaca. Constantemente somos tentados a confundir os nossos sonhos e nossas fantasias com a voz da profecia.

A situação vivida pelo profeta

Jeremias, a esta altura do seu livro, está empenhado em chamar a atenção para a existência de falsos profetas no reino de Judá. Estes que se diziam inspirados por Deus anunciavam aquilo que queriam que fosse crido pelo povo, mesmo sendo mentiras. Por exemplo, falavam em paz, mesmo sabendo que ela não seria alcançada. Jeremias aponta como uma das caracterís-ticas destes falsos anunciadores da vontade de Deus o fato de romperem com o equilíbrio entre a realidade espiritual, social e política.

Nos versículos anteriores ao texto lido, Jeremias se diz atônito com o fato de profetas e sacerdotes de Judá se uniram para orgias nos rituais de culto. Suas práticas imorais se tornaram tão naturais e habituais (veja 2 Rs 21.5 e Ez 8.6-18) que admoesta seus pares a terem cuidado para não serem pegos andando na escuridão, tropeçando e caindo no mau caminho. Profetas e sacerdotes que baniram as leis e ordenanças de Deus como palavras de autoridade de seus cultos, são exatamente aqueles que incentivam a maldade, o adultério, ultrapassando inclusive toda a maldade vista em Sodoma e Gomorra (v.14).

Deus está perto

O Deus de longe é caracterizado com bastante clareza em nosso texto. O Deus que está perto é o mesmo que está longe. Afinal, como diz o texto, é Ele quem enche os céus e a terra (v. 24). Dizendo isso um pouco diferente: não porque alguém diz que está mais perto de Deus que pode dizer que os que estão longe dEle não são percebidos ou vistos. Deus tudo vê. Deus tudo percebe. Você e eu não temos esta capacidade.

O reformador Martin Luther, ao comentar este texto, diz que Deus está na morte ou no inferno, e que isto é mais terrível e repugnante do que estar num antro ou numa cloaca (OS 4.36s). Não há como se esconder de Deus. Não há como se esconder da graça de Deus. Não há como se esconder do juízo de Deus. A argumentação de Luther acontece na sua disputa com Eras-mo de Roterdã (livre arbítrio versus vontade cativa) estabelecendo uma clara distinção entre humanismo e a doutrina da justificação por graça e fé.

Ao citar o versículo 24 de Jeremias capítulo 23, Luther afirma que Deus necessariamente está onde alguém é jogado num cárcere ou numa cloaca. Lá é possível invocar a Deus e crer que Ele assiste ao que lhe pede ajuda. Ao mesmo tempo o texto profético diz que ninguém pode se esconder do olhar perscrutador de Deus.

Indicativos da palavra do Senhor

Se colocarmos duas pessoas vestidas de forma igual, com o mesmo tom de voz, dizendo que são mensageiros do Senhor, como poderíamos diferenciar o falso do verdadeiro profeta? Provavelmente diríamos que vamos escolher aquele que “maneja” melhor a Palavra (2Tm 2.15). Mas nos deparamos com outro problema: há grupos – também em nossa Igreja – que defen-dem a ideia de que não temos uma palavra de Deus. Que a Bíblia “apenas” contém a Palavra mas não é a Palavra. São falsos os profetas e sacerdotes que assim afirmam. Ao desacreditar a Palavra, tentam tirar as claras referências que baseiam a fé do povo de Deus. Estes falsos, cf o v.25, mentem e enganam. O termo original diz: carregam um hálito de nebulosidade, defendendo ideias e coisas passageiras. Falsos profetas podem estar levando pessoas a servir a outros deuses.

Jeremias é claro ao afirmar através de uma pergunta retórica: “o que tem a palha a ver com o trigo?” Sua palavra não é palha, que é jogada de um lado para o outro pelo vento. Não é um pedaço seco que pode ser manuseado e distorcido ao bel prazer. Não é visão que se amolda ou encaixa com exatidão em cada pessoa para trazer satisfação a cada momento da vida. Pelo contrário, Sua palavra é semente, é grão que sustenta e gera vida, mas que primeiro precisa ser traba-lhado e digerido. É palavra semeada que precisa romper o casulo e romper a crosta da terra para vencer a escuridão.

É fogo a palavra de Deus (v.29). Arde no peito e na boca do profeta e queima aqueles que a ouvem. Cria consternação e mal estar entre os que a ouvem. Deixa gente irritada, descontente, desejosa de mandar para longe o atrevido e ingrato criador de problemas que a anuncia. É fogo porque não amacia a acusação, não tem a preocupação de ser politicamente correta. Agride. Quebra. Transforma.

Essa constatação nos faz perguntar pela possibilidade de uma convivência pacífica e harmoniosa entre a pessoa que anuncia a palavra e vontade de Deus e as pessoas que são atingidas por ela, sejam ricas, pobres ou remediadas, radicais ou pacíficas, de direita ou de esquerda.

É inerente à palavra de Deus que ela julgue, purifique e acabe por se impor, mesmo que isso aconteça num doloroso processo. Não há obstáculo que resista a ela. Essa convicção certa-mente esteve presente para Jeremias quando tinha contra si as evidências e a maioria, e precisava se curvar ante aparentes derrotas.

Indicativos da sociedade em que vivemos

Toda a estrutura econômica que impera nas igrejas ajuda na neutralização da palavra poderosa de Deus. A estrutura social que exige satisfação própria, esfria a importância da Palavra reta e correta anunciada pelos pregadores e profetas. As comunidades têm seus meios de eliminar ou amansar os mensageiros das palavras mais desafiadoras e, em casos extremos, optam pelo profeta da paz” e da acomodação das coisas.

Os sinais da tempestade do Senhor estão aí para todo mundo enxergar: concentração cada vez mais estúpida de renda, bens e terra; governo cada vez mais abertamente manobrado por interesses econômicos; legislativo vergonhosamente legislando em causa própria; envenenamento irresponsável da natureza, da água, dos alimentos, o que põe em risco a saúde, a vida e o futuro dos brasileiros; desmatamento inescrupuloso de imensas áreas comprometendo a vida de todos, e a fome aniquilando gente em toda parte enquanto há quem ganhe mensalmente o que daria para matar a fome de centenas de crianças e adultos.

Certamente restam poucas dúvidas de que só há uma postura possível para os que querem levar a sério trabalho e vivência cristã: colocar se com todas as forças e possibilidades na de-fesa da verdade sem compromete-la com as aparentes necessidades de nossa época. E a Palavra é a Verdade!

Esse confronto de profetas evidencia que todo nosso trabalho não pode menosprezar que a palavra de Deus compele, leva ao arrependimento, onde são abandonadas as visões do coração e se espera apenas no Senhor, que de longe se deixa ver melhor que de perto, por não cairmos na tentação de dominá-lo com nossas vontades.. Só então se poderá ter realmente capacidade de fazer frente a todo mal que destrói a vida plena, Toda caminhada deve passar por esta cruz e assim esperaremos ativamente pela paz a favor da qual Jesus se deu no Gól-gota. Ou devemos concordar com os doutores que dizem que a cruz de Cristo é uma hipocri-sia?

Concluindo

Prezada comunidade.

O que se pode esperar da palavra de um profeta ou pregador?

Clareza e firmeza!

A palavra de Deus é clara.
Falsas profecias tornam as verdades nebulosas.
Ou, verdades nebulosas são frutos de falsas profecias.

Algumas instituições eclesiásticas parecem estar primando pelo anúncio de falsas profecias. Aliás, também grupos dentro da nossa Igreja privilegiam o que ideologicamente falam ser “atuação profética” e chegam a ridicularizar aqueles outros grupos que falam de uma “atua-ção evangelizadora”.

A palavra é clara. Tão clara que afirma que o consolo do Evangelho de Jesus Cristo não está naquilo que se pode facilitar à humanidade os passos a serem dados. O consolo está na radi-calidade do amor de Cristo Jesus por nós no absurdo da cruz.

A partir do Pentecostes, a ação do Espírito Santo não está nas visões e sonhos particulares, in-terpretados de maneiras a satisfazer sempre o meu eu. A ação do Espírito divino está ali onde se acentua o conflito entre minha vontade e a vontade do Senhor em Sua palavra.

Palavra ou fantasia?
O que queremos seguir?

Amém


Autor(a): Pr. Rolf Rieck
Âmbito: IECLB / Sinodo: Sudeste / Paróquia: Rio de Janeiro - Martin Luther (Centro-RJ)
Área: Confessionalidade / Nível: Confessionalidade - Prédicas e Meditações
Testamento: Antigo / Livro: Jeremias / Capitulo: 23 / Versículo Inicial: 23 / Versículo Final: 29
Natureza do Texto: Pregação/meditação
Perfil do Texto: Prédica
ID: 52857
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Romanos 8.39
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