Nosso mundo tem salvação

17/05/2003

I - Nosso mundo tem salvação - O tema da Igreja para o ano de 2003

O tema da IECLB para 2003 é fascinante! É, na verdade, uma adaptação do tema do Encontro da Federação Luterana Mundial (For the Healing of the World) que ocorrerá no Canadá. Mas o que podemos dizer desta afirmação: Nosso mundo tem salvação? Não é um exagero afirmar isso?

1.1- Necessitamos de salvação. Tomando a afirmação de Mt 8.25, Senhor, salva-nos! Perecemos!, o Secretário Geral, chama a atenção para o fato de que, nessa passagem, os discípulos, ameaçados pelo mar e pelos ventos, gritam: Senhor, salva-nos! Perecemos! Semelhantemente, a Igreja passa por uma situação difícil: ventos e ameaças de toda natureza rondam-na. Também a vida humana é frágil. Não somos Deus. O ser humano precisa ser protegido do que quer privá-lo da dignidade humana, do que ameaça a vida humana. O sonho de uma vida sem males, sem sofrimentos é constitutivo do ser humano. Assim, o grito por salvação manifesta-se, é uma necessidade humana. Enquanto houver dor, sofrimento, haverá clamor por salvação. Diante das graves ameaças à vida, é preciso perguntar se nós, pessoalmente, concordamos com essa afirmação do tema. Fechamos com isso? A IECLB está afirmando que o Nosso mundo tem salvação. Pretende levar essa mensagem para dentro da realidade. Sabemos que a realidade está atravessada pelo mal. Por essa afirmação, estamos dizendo que o mal precisa ser vencido, denunciado. Precisamos construir sinais de paz, de graça e de salvação no mundo.

1.2- Atitudes diante do mundo: Amiúde afirma-se que o mundo não tem salvação. Com essa afirmação diz-se indiretamente que não adianta fazer nada e que é tempo perdido. Em que se baseiam os que dizem isso? Aponta-se para as guerras, violências, injustiças. Nas comunidades afirma-se que ninguém participa, ninguém coopera, ninguém assume compromisso. Nessa compreensão percebe-se um forte individualismo e uma acentuada atitude negativa. Essa atitude negativa parte da pressuposição de que não há solução nem salvação. O contrário disso é a atitude afirmativa que supõe que há saídas, há salvação. Manchetes de jornais noticiam a atividade de grupos apocalípticos, cuja linha é apressar o fim do mundo. Esses grupos querem determinar o fim, porque partem da convicção de que não há como continuar. Afirmar que o mundo tem ou não salvação são mensagens distintas que, partindo de pressuposições teológicas diferentes, alimentam atitudes distintas e determinam a ação. O fato é que as pessoas se deixam influenciar. Há, por exemplo, uma prática corriqueira de iniciar e enviar correntes. Essas correntes prometem sorte, sucesso, felicidade, prosperidade, saúde, bem-estar, enfim, salvação As pessoas acreditam nisso e isso passa a determinar suas vidas, gerando atitudes. No fundo dessa questão está a pergunta pela salvação. A maneira de tematizar a salvação vai permeando a vida das pessoas.

1.3- Várias ofertas de salvação: Não somos os únicos a falar de salvação. Muitos outros - e não só grupos religiosos - também falam e oferecem salvação. Há oferta de salvação dos mais diferentes matizes: ideológica, econômica, religiosa, etc. Ela se tornou um produto interessante, lucrativo. A realidade é que nós, seres humanos, estamos fragilizados, sofremos, há dores. Pessoas se aproveitam disso e lucram com o nosso anseio por salvação. Como testemunhamos salvação? Como testemunhamos que o mundo tem salvação? Em que nos baseamos?

O lema bíblico que acompanha esse tema é um versículo do livro de Apocalipse 21.4: Deus enxugará dos olhos toda lágrima. (aparece também no Ap 7.17). Parece contra-senso. Muitos usam o Apocalipse para dizer que o mundo não tem salvação. Nós da IECLB estamos usando o mesmo livro para afirmar o contrário. Em que nos baseamos na IECLB? No heroísmo dos obreiros e no voluntarismo dos seus membros? Na verdade, não nos baseamos na nossa ação, mas na ação do próprio Deus. A fé em Deus e a certeza da salvação traduzem-se numa atitude de fé diante do mundo. Trata-se de uma atitude afirmativa.

1.4- Há sinais de paz e de graça: Quatro sinais que sustentam essa afirmação

a. Ação de Deus no Egito. Deus liberta da escravidão no Egito e promete uma terra que mana leite e mel. Deus se distingue dos demais (Eu sou o Senhor teu Deus que tirei da terra do Egito, da casa da servidão. (Por isso) Não terá outros deuses).

b. Profetas. Deus acompanha o povo também no Exílio. É um novo período de escravidão (sem rei, sem terra e sem templo). Deus não está preso ao templo ou à terra. Ele acompanha o seu povo. O profeta Ezequiel traz a imagem do vale de ossos secos que ganha vida. É mensagem de esperança numa situação de desânimo e poucas perspectivas.

c. Jesus. As parábolas, milagres de Jesus são ilustrações da salvação. Perdemos a dimensão do escândalo de Deus em Jesus (manjedoura, sofrimento, cruz). A obra de Jesus encarna o amor de Deus. A integralidade da salvação manifesta-se em Jesus. (Perdão, cura, vida - são manifestações da salvação).

d. Igrejas do Apocalipse. Consta nesse livro cartas às sete igrejas no mundo urbanizado em expansão na Ásia Menor (hoje Turquia). Nessas cartas constam sinais do novo. Essas cartas trazem visões importantes.

II - Deus enxugará dos olhos toda lágrima.( Ap. 21.4) - O lema da igreja para o ano de 2003

2.1 O lema do ano:  Deus que enxuga lágrimas: Ao contrário do usualmente é anunciado, o livro do Apocalipse não afirma que o mundo está perdido. Afirma que o mundo tem um dono. Ele não afirma que o mundo está perdido. É a mensagem do Cristo Ressurreto. É a Páscoa! Sem a Páscoa não estaríamos aqui hoje. Não haveria igreja. O personagem principal desse livro é o Cordeiro e não a Besta. Normalmente, lê-se o livro como se o mundo estivesse pré-determinado, como se não houvesse mais nada a fazer. No entanto, o que o Apocalipse quer é construir esperança. Temos futuro. Temos uma chance. É preciso falar mais do que Deus já fez, do que Ele realiza e, sobretudo, como nos carregará no futuro. É preciso falar da ação salvífica de Deus no passado, no presente e no futuro. Deus mostrou o que pretende de forma clara em Jesus: ele quer a salvação dos seus. Deus é um Deus que enxuga lágrimas. Ele se importa. O mundo não está perdido. O mundo é dele. Ele não abandona os seus. Compartilhamos dessa fé? É a fé sobre a qual construo a minha vida. Isso tem importância demais. Sustentamos essa afirmação? Não se trata de uma afirmação periférica. Ela é fundamental porque ela sustenta uma atitude. Ela fundamenta os valores que defendemos na sociedade.

2.2 - Capacidade e atitude: Narra a lenda que duas crianças patinavam num lago congelado. De repente, o gelo rompeu-se e uma das crianças caiu na água. A outra, com a ajuda de uma pedra, quebrou o gelo e socorreu o amigo. Os bombeiros, ao chegar, não se admiraram como ele tinha conseguido isso com a sua pouca força. Um ancião chegou e disse: Eu sei como ele conseguiu. Não havia ninguém por perto para dizer que ele não era capaz. Quantas vezes desistimos de iniciar algo porque nos dizem que não vai dar certo, que não somos capazes. Há uma outra história de dois pastores que, após os respectivos cultos dominicais, encontraram-se. Um deles reclama que, após extenuante trabalho de preparação, tinha apenas metade da comunidade presente. O outro pastor alegra-se porque metade da comunidade veio celebrar. Ele valoriza as pessoas que vieram e suas situações bem particulares. As dificuldades e tristezas que enfrentam e enfrentaram e os bons momentos que vivenciaram na celebração. São atitudes diferentes diante de uma mesma situação.

2.3 - Convite à conversão: mudar o conceito de Deus: O tema é, no fundo, convite à conversão, isto é, convite a mudar o conceito. Isso significa mudar a idéia que temos de Deus. Temos uma imagem muito pesada de Deus: Deus legalista, carrasco, autoritário, punitivo. Uma história real ilustra como uma experiência difícil mudou a visão de Deus. Um pai de família recebeu como diagnóstico a constatação de um câncer terminal (6 meses de vida). Passaram-se dois anos de luta. Quatro anos depois, a doença estabilizou-se. Seis anos depois a doença sumiu. Ele curou-se. O casal mudou. A vida tinha outro valor, outro sentido. Buscaram ajuda para reconstruir o próprio casamento, pois a luta fora difícil. Foi preciso reconstruir a idéia que tinham de Deus. A mulher não entendia como Deus havia podido dar um câncer ao seu marido. O marido, porém, adquirira uma outra visão de Deus. Deus é pai e mãe. Amamos nossos filhos, mas mesmo assim não podemos evitar certas coisas, dores, sofrimento. Ter câncer faz parte da condição humana. Entretanto, ao longo desse tempo, Deus apoiara, acolhera, consolara.

2.4 - Convite ao arrependimento: mudar de atitude: Qual é a atitude que temos diante das dificuldades? Se afirmamos que o mundo tem salvação, nossa vida também precisa ter também. Afirmações corriqueiras como Se Deus quiser refletem o desânimo. O que Deus quer Ele já deixou claro. Outras afirmações do tipo: Foi vontade Deus ou Temos de aceitar como Deus manda indicam uma atitude fatalista em que a gente deixa tudo como está. Precisamos mudar principalmente o jeito de lidar com as coisas da IECLB. Precisamos valorizar e dizer que a igreja faz a diferença para a nossa vida. Se não estamos convictos disso, de que essa igreja é boa, não convenço os outros. Há coisas boas acontecendo nessa Igreja. Há muitos sinais de salvação. A fé, no caso específico desse tema, tem a promessa da vida em dois sentidos: Deus enxuga lágrimas, o mundo tem salvação. Essa afirmação é um ato de coragem e de fé no Deus que vivifica os mortos e chama à existência o que não existe.
 


Autor(a): Nestor Paulo Friedrich
Âmbito: IECLB / Sinodo: Sudeste
Natureza do Texto: Apresentação
Perfil do Texto: Palestra - Debate
ID: 21878
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