Prezada comunidade cristã unida na confiança e na ação.
Esta não é a hora de se recolher em um queixume azedo e nem resignar como quem não têm forças de reagir. É hora de se colocar em pé e lutar por tudo o que é justo e correto. Para este 6xto Domingo da Páscoa, nes deixemos conduzir pela Palavra.
“Que as palavras dos meus lábios e o meditar do meu coração sejam agradáveis na tua presença, ó Senhor.”
1 Pedro 3.13-22
Quem há de maltratá-los, se vocês forem zelosos na prática do bem? Todavia, mesmo que venham a sofrer porque praticam a justiça, vocês serão felizes. “Não temam aquilo que eles temem, não fiquem amedrontados.” Antes, santifiquem Cristo como Senhor em seu coração. Estejam sempre preparados para responder a qualquer pessoa que pedir a razão da esperança que há em vocês. Contudo, façam isso com mansidão e respeito, conservando boa consciência, de forma que os que falam maldosamente contra o bom procedimento de vocês, porque estão em Cristo, fiquem envergonhados de suas calúnias. É melhor sofrer por fazer o bem, se for da vontade de Deus, do que por fazer o mal. Pois também Cristo sofreu pelos pecados uma vez por todas, o justo pelos injustos, para conduzir-nos a Deus. Ele foi morto no corpo, mas vivificado pelo Espírito, no qual também foi e pregou aos espíritos em prisão que há muito tempo desobedeceram, quando Deus esperava pacientemente nos dias de Noé, enquanto a arca era construída. Nela apenas algumas pessoas, a saber, oito, foram salvas por meio da água, e isso é representado pelo batismo que agora também salva vocês—não a remoção da sujeira do corpo, mas o compromisso de uma boa consciência diante de Deus—por meio da ressurreição de Jesus Cristo, que subiu aos céus e está à direita de Deus; a ele estão sujeitos anjos, autoridades e poderes.” NVI
Pedro é ousado. Escreve esta carta destinada a forasteiros cf 1.1. Estes forasteiros são conhecidos desde o êxodo do povo rumo à Terra Prometida, o lugar da salvação. O povo de Deus se considera apenas um hóspede na Terra e isso expressa muito bem o Sl 119.19: “Sou peregrino (παροικος LXX — forasteiro) na terra; não escondas de mim os teus mandamentos.” No helenismo a compreensão de “forasteiro se dá no dualismo entre o aquém e o além. A verdadeira vida, por natureza, é diferente da vida aqui; ela é estranha a este mundo. O mundo é sinistro e o forasteiro é filho da luz do Espírito de Deus. Portanto esse mundo estranho e de trevas só faz o verdadeiro crente desejar veementemente a pátria que está além. Deseja o mundo da luz onde habita a verdade. O πνηυμα — pneuma, espírito — da pessoa crente é o mundo da luz. A pessoa do caminho de Cristo renuncia ao mundo das trevas — é enviada a este mundo para, como forasteira, agir e viver com responsabilidade, mas sempre animada a fugir dele. (Cf Barth, Gerhard, Sinodal, 1979)
Me faço acompanhar de algumas reflexões de M.Luther a respeito deste ensino:
“Estejam sempre preparados para responder a qualquer pessoa que pedir a razão da esperança que há em vocês”. (v.15) — devemos sempre estar preparados para falar a respeito da esperança que habita nosso coração de forasteiro. Esta convicção não é motivo de orgulho e altivez. Como peregrinos, o fazemos com o conhecimento de nossa pobreza e da nossa situação miserável.
Neste tempo de trevas - pandemia, quarentena, covid-19, corrupção e fake-news - precisamos estar cientes que atitudes furiosas, intrigas e astúcias estranhas continuam habitando o coração de nossos governantes e da sociedade. Precisamos estar atentos para perceber que continuam roubando, corrompendo e sendo corruptos. Luther avisa que os diabos são tão numerosos quanto as telhas nos telhados desta cidade e que, embora nos sintamos desprotegidos como uma flor no campo, devemos estar prontos para responder sobre os nossos valores, sobre a nossa disposição de seguir no caminho da verdade. (OS 6,292)
“...pregou aos espíritos em prisão que há muito tempo desobedeceram, quando Deus esperava pacientemente...” (v.20) — a desobediência traz consequências danosas e tóxicas ao ser humano, mesmo diante da paciência sem fim de Deus. O texto cita Noé que, na comparação de Luther, foi batizado pelo dilúvio. Os pecados de toda humanidade, inclusive ela própria, foram afogados por este dilúvio e salvas foram as pessoas fiéis à Deus. (OS 1,416-7)
Maior ainda é o dilúvio da graça perdoadora e salvadora de Deus através da posse das bênçãos do Santo Batismo. Isto pode e deve ser sinalizado para dentro deste mundo em que vivemos. O batismo continua afogando pessoas deste mundo, do primeiro ao último dia de sua vida. Continua afogando a desobediência e a falta de uma fé ativa no amor. O mandamento de Cristo Jesus continua salvando vidas e as tornando frutíferas, como estudamos no tema da IECLB neste ano.
“... representado pelo batismo que agora também salva vocês—não a remoção da sujeira do corpo, mas o compromisso de uma boa consciência diante de Deus—por meio da ressurreição de Jesus Cristo...” (V.21) — A imundície das coisas humanas, das coisas próprias deste mundo de trevas, é agora exposta, para que a justiça da ressurreição de Cristo aflore. Pela ação do espírito do mundo da luz — Jesus é a luz do mundo (Jo 8.12) — não mais andam nas trevas aquelas pessoas que confiaram sua vida a Jesus. “Pois assim como uma criança é tirada do ventre de sua mãe e nasce, (…) um ser humano pecador e filho da ira (…) é tirado da água do batismo e nasce espiritualmente, um filho da graça e um ser humano justificado.” (Luther, OS 1,415)
Prezada comunidade! Concluindo, percebemos que o último versículo (v.22) do texto em destaque é um fragmento de uma confissão de fé. A ressurreição de Cristo continua sendo a mensagem central na vida de forasteiros como nós. Esta afirmação nos distancia da previsibilidade da maldade humana — nem mesmo em meio à uma pandemia nossas autoridades têm vergonha na cara e agem criminosamente contra a sociedade — e em “uma boa consciência diante de Deus” nos faz viver segundo a vontade de Deus. Isso é fruto da ressurreição e ascensão de Cristo ao céu, onde permance à direita de Deus.
O centro desta mensagem é: sigamos os exemplos do sofrimento de Cristo e a segurança da sua vitória. Como pessoas forasteiras saibamos que a nossa conversão a Jesus acarreta separação completa daquilo que se pratica na devassidão de uma existência não justa, não amorosa, não salva pelo Cristo. Nossos frutos são frutos de luz e esperança.
Expressemos isso com muita alegria. Sim, o Espírito Santo nos empurra para a ação.
Vem, Espírito Santo!
Amém.