Nossa casa é Siloé

Mensagem pensada e escrita no contexto da pandemia da covid19

23/03/2020


João 9.1-12 , 14 [15-41]

1 Ao passar, Jesus viu um cego de nascença. 2 Seus discípulos lhe perguntaram: Mestre, quem pecou: este homem ou seus pais, para que ele nascesse cego? “ 3 Disse Jesus: Nem ele nem seus pais pecaram, mas isto aconteceu para que a obra de Deus se manifestasse na vida dele. 4 Enquanto é dia, precisamos realizar a obra daquele que me enviou. A noite se aproxima, quando ninguém pode trabalhar. 5 Enquanto estou no mundo, sou a luz do mundo”. 6 Tendo dito isso, ele cuspiu no chão, misturou terra com saliva e aplicou-a aos olhos do homem. 7 Então lhe disse: Vá lavar-se no tanque de Siloé ( que significa Enviado ). O homem foi, lavou-se e voltou vendo. 8 Seus vizinhos e os que anteriormente o tinham visto mendigando perguntaram: Não é este o mesmo homem que costumava ficar sentado, mendigando? “ 9 Alguns afirmavam que era ele. Outros diziam: Não, apenas se parece com ele. Mas ele próprio insistia: Sou eu mesmo”. 10 Então, como foram abertos os seus olhos? , interrogaram-no eles. 11 Ele respondeu: O homem chamado Jesus misturou terra com saliva, colocou-a nos meus olhos e me disse que fosse lavar-me em Siloé. Fui, lavei-me, e agora vejo”. 12 Eles lhe perguntaram: Onde está esse homem? Não sei, disse ele.

14 Era sábado o dia em que Jesus havia misturado terra com saliva e aberto os olhos daquele homem.

Nossa casa é Siloé

Siloé é nossa casa

Caminhamos.

Deveríamos estar em casa!

Mas neste tempo da Quaresma seguimos o rumo a Jerusalém onde há a culminância da esperança. É um tempo de incertezas que vivemos mas, tivéssemos ouvido as palavras anunciadas anteriormente, já saberíamos que em meio ao sofrimento se semeia a esperança da vida eterna, em Jesus Cristo. Depois de todas as incertezas, sabemos, haverá a Páscoa da ressurreição. Isto é motivo de festa.

Mas é nesta andada que os discípulos perceberam a desgraça daquele homem doente. Doenças trazem ainda mais incertezas. Apavoram e criam pânico. A doença deste homem era a cegueira. E o acontecido narrado por João tem um lugar: Siloé. Trata-se do mesmo lugar onde Isaías descreve as águas calmas e curadoras (Is 8.6) que não chamaram a atenção de um povo desobediente e rebelde, ou o lugar onde a torre cai matando 18 pessoas que, nas palavras de Jesus, não eram merecedoras da morte porque supostamente seriam mais culpadas que as que permaneceram vivas (Lc 13.4).
Hoje nossa doença tem um nome estranho: covid19, ou seja, a doença causada pelo novo corona vírus surgido no ano de 2019. E há muita gente especulando quem é o culpado por tudo isso. Haveria uma governo por detrás da produção deste virus? Teria havido proibição, por parte de governo totlitarista, de comentar o assunto? Haveria uma intenção de derrubar as bolsas e passar o controle das riquezas a outra nação?

Este tipo de especulação não alteraria a forma de Jesus agir no caso do doente e de sua doença. No seu caminho para a cruz dá lições de como agir em situações de perigo e insegurança sanitária.

Primeira — A declaração de Jesus: não há culpa que justifique a situação deste homem. “Nem ele nem seus pais pecaram…” O propósito desta situação é clara: “… para que a obra de Deus se manifestasse na vida dele.” Diante da urgência de um socorro, não se pergunta primeiramente pelo culpados, quando estes de fato existem, mas se busca cooperar no auxílio e no espaço mais curto de tempo possível com as ferramentas mais adequadas que estiverem ao alcance.

Segunda — Diferentemente dos demais presentes na cena, o olhar de Jesus revela atitude e o faz reagir de forma didática. Com suas palavras esclarece — joga luz — sobre a situação que tem à sua frente e ensina como fazer. Ele faz uma parte da cura e envolve o próprio doente na coparticipação da cura. A lama feita do pó e saliva se tornam o elemento portador da Palavra e do gesto de cura. Jesus age utilizando o que está ao seu alcance.

Terceira — Ao envolver o próprio doente na solução de seu problema de nascença - importante frisar, Jesus não apenas o torna coparticipante da cura, como engaja o doente em um testemunho de confiança. O nome Siloé é carregado de significância. É o lugar da cura a partir da confiança e obediência a Deus. Mas também é o lugar de onde vem as suspeitas: quem pecou? quem errou? devemos ajudar ou deixar como está?

O relato deste acontecimento é surpreendentemente longo. Há muitos vais-e-vens na narrativa. Tudo, ao meu ver, por causa do v.14: Era sábado o dia em que Jesus havia misturado terra com saliva e aberto os olhos daquele homem”. Na tentativa de desqualificar a cura e seu promotor, buscam as desculpas legais para incriminar quem curou e quem foi curado.

Jesus conhece e acompanha todas as pessoas que buscam nEle amparo e proteção. Mas isto tem um sentido além do espiritual e da fé. Nesta época de pandemia é evidente que devemos ter a fé e a confiança que este homem cego veio a ter. No entanto, devemos também agir responsavelmente dentro das normas e critérios estabelecidos pelas autoridades sanitárias.

Sιloé (Σιλωαμ) é lugar conhecido. Na verdade é um sistema de calhas que transportava a água das quedas de Gihon até a cidade fortificada de Jerusalém, a cidade de Davi. Enviava, portanto, água para a cidade. Alí havia um tanque onde a água chegava para ser consumida pelo povo e animais. Lugar de refrigério. Lugar para preservar a sanidade da cidade.

Hoje, nosso tanque de Siloé chama-se NOSSA CASA.
NOSSA CASA É SILOÉ.
E, como todos sabemos o que isso significa, não precisamos mais nos ocupar muito com o tema, pois sabemos que devemos:

ir para casa
Ficar em casa
Voltar pra casa
Não sair de casa
Não ir pra casa de ninguém
Não receber visitas em casa
Limpar a casa
Trabalhar em casa
Orar em casa
Dormir em casa
Comer em casa
Ver tv em casa
Passar a semana em casa

Claro que as injustiças sociais perenes em nosso País privam milhões de pessoas de poderem dizer o que é sua CASA. Eis aí mais um desafio que a pandemia do Corona Vírus impõe a nós brasileiros. Será que, com esta crise, alguma coisa vai mudar no sentido de dar saúde e moradia digna a todas as pessoas?

O que devemos enxergar mais — mais luz — para que esta situação de sofrimento realmente seja resolvida? Que as riquezas injustas e perniciosas desapareçam e que a justiça social fique mais evidente.

Cuidem-se!

Amém!


Autor(a): Pr. Rolf Rieck
Âmbito: IECLB / Sinodo: Sudeste / Paróquia: Rio de Janeiro - Martin Luther (Centro-RJ)
Área: Confessionalidade / Nível: Confessionalidade - Prédicas e Meditações
Área: Missão / Nível: Missão - Coronavírus
Testamento: Novo / Livro: João / Capitulo: 9 / Versículo Inicial: 1 / Versículo Final: 41
Natureza do Texto: Pregação/meditação
Perfil do Texto: Prédica
ID: 55613
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