“Pedro, disse: Se és tu, Senhor, manda-me ir ter contigo, por sobre as águas. E ele disse: Vem! E Pedro, descendo do barco, andou por sobre as águas e foi ter com Jesus” (Mt 14.28-29)
Não é de espantar a reação daqueles homens, discípulos de Jesus, com o pavor estampado nas suas faces, ao avistarem um homem vindo ao encontro deles em cima do mar revolto. “não pode ser!....isso não está acontecendo realmente!......é um fantasma!” – até o momento no qual Jesus vem e dá sua palavra: “Tende bom ânimo! Sou eu! Não temais!”. Neste momento também Pedro toma coragem e realiza o mesmo inacreditável.
Muitas coisas passam pela minha cabeça. Uma delas, num primeiro momento, é a de que Jesus quer vir ao nosso encontro em meio às tempestades de nossas vidas - e quando a água já está até o pescoço. Deus prometeu algo semelhante ao povo de Israel: “Não tenha medo (...) quando você atravessar águas profundas eu estarei ao seu lado” (Isaías 43.1s). E o povo experimentou na prática o cumprimento desta promessa: “Há muito tempo, Senhor abriu um caminho no mar, uma estrada no meio das águas perigosas” (Isaías 43.16).
Num segundo momento, esta história, envolvendo principalmente Pedro e Jesus, deixa claro: Jesus não vem quando nós achamos que ele tem de vir. Por quê? Porque certamente é Ele quem sabe o momento no qual nós mais dele estamos precisados. Na ocasião, Jesus havia mandado os discípulos à frente enquanto ele despedia as multidões. Depois, ainda subiu o monte para orar – a essa altura os discípulos já estava longe, mar adentro (ou lago adentro). Humanamente falando não havia mais esperança. É dessa maneira que também Deus muitas vezes coloca nossa fé à prova. Muitas vezes Deus permite que nós mergulhemos no mar revolto de nossos problemas que não sobra ninguém e nem mesmo nada em que nós possamos nos agarrar. Nem mesmo um canudinho para não afogar. Mas, logo descobrimos que uma situação tal serve para nos trazer bem mais perto dos braços de Deus.
Curiosamente, também me pergunto: mas porque Jesus anda sobre as águas? Talvez porque ele queira mostrar aos seus discípulos que até mesmo o que eles temem deve a ele servir. Também me intrigou o fato de os discípulos não terem reconhecido Jesus no homem que andava sobre as águas. Certamente se eles o tivessem esperado com fé, o teriam reconhecido imediatamente. O medo e o pavor não deixam a fé enxergar as “coisas de Deus” e muitas vezes ficamos cegos e ignoramos sua presença misericordiosa (e por isso gloriosa). O mesmo aconteceu com o empregado do profeta Eliseu, cujos olhos somente viram o exército assírio chegando, e a fé embotada pelo medo e o pavor, não viu que Deus estava agindo naquela mesma situação – cf. 2Rs 6.
Neste acontecido sobre o mar, certamente Jesus teve por intenção provocar o amadurecimento da fé. Afinal, posteriormente, Jesus não mais estaria visível aos seus seguidores. Muitas tempestades iriam pesar no serviço dos discípulos e seguidores de Jesus. Então seria muito importante aprender a confiar, mesmo que Ele não estivesse mais visivelmente presente. Os discípulos aprenderiam que Jesus está atento ao que se passa com os seus, ainda que nada se perceba de sua presença.
Pedro aprendeu sua lição muito bem. Ele sempre reagia de uma maneira diferente que os outros discípulos a uma mesma situação. Também no episódio aqui descrito. Afinal, sentar e observar qualquer um faria – talvez tenha ele pensado. E, quando menos se espera ele já está andando sobre as águas como Jesus, após ter ouvido o chamado de Jesus: “Vem!”. Mas então algo sai errado. Por quê? Porque ele tirou o seu olhar que estava fixo em Jesus e o redirecionou à força do vento. Duvidou, teve medo e embotou o olhar da fé. Como nós muitas vezes o fazemos: substituímos o olhar puramente para Jesus, pelo vento das dificuldades que soprar, seja ele de qual intensidade for. Entretanto, ainda em tempo, antes de se afogar, Pedro grita para Jesus. Volta novamente seu olhar em direção a Ele. Uma firme e segura decisão que recebe a mão de Jesus que o segura.
As tempestades da vida não são fáceis de leves de se suportar e vencer. Mas, muitas vezes, depois de as atravessarmos com o amparo do Senhor, percebemos o quanto elas nos ensinam a confiar em Jesus, o Cristo, independente das circunstâncias, bem como o quanto nos preparam para obras maiores que nem mesmo sonhávamos.
“Pedro saiu do barco e começou a andar em cima da água até onde estava Jesus”
Tenha ainda uma abençoada semana!
Elisandro Rheinheimer pastor da IECLB em Tangará da Serra /MT