No Caminho para Emaús

Autoria P. Me. Alexander Busch

26/04/2020

Estimada comunidade,
Não está sendo fácil caminhar nestes tempos de pandemia. Hoje completa mais de um mês que adentramos o isolamento social, que suspendemos as atividades presenciais nas comunidades, que entramos numa nova e incerta rotina. E bom lembrar que em nosso município somos pessoas privilegiadas: a agropecuária continua produzindo e movimentando a economia de Maripá, nossas ruas e avenidas largas possibilitam caminhar com relativa segurança, e, graças ao bom Deus e graças às medidas de prevenção, não tivemos nenhum caso confirmado de covid-19 e muito menos uma morte decorrente deste vírus. Mesmo em tempos de pandemia, a qualidade de vida em Maripá é bem melhor do que nas grandes cidades. Somos pessoas privilegiadas.

Mas ainda assim, a pandemia cobra seu preço. A mudança de rotina e a incerteza quanto ao futuro geram sofrimento e ansiedade. E é pela porta do sofrimento que queremos nos aproximar dos dois discípulos de Emaús. Segundo o relato bíblico, dois companheiros de Jesus percorrem o caminho. Partiram de Jerusalém, cenário da crucificação e morte de Jesus, e estão a caminho do povoado de Emaús. Caminham com tristeza. Caminham abatidos e cabisbaixos, corpos cansados e sofridos, corações sem esperança. A dor dos acontecimentos em Jerusalém pesa nos seus ombros. Jesus está morto. E não há nada mais a fazer, a não ser caminhar de volta para casa, para Emaús.

No caminho conversam um com o outro. É preciso conversar, colocar para fora a angústia, expressar o desânimo. De repente, no meio do caminho, um homem se aproxima. O sofrimento, entretanto, lhes é como um véu. A dor impede que reconheçam quem é que deles se aproxima. Estão fisicamente próximos de Jesus, mas os dois discípulos não conseguem enxergar além de si mesmos e seu sofrimento.

Jesus, porém, enxerga seus corações. Ele reconhece sua dor. Ao se colocar ao lado delas, Jesus não julga nem condena essas pessoas. Apenas pergunta, “o que é que vocês estão conversando pelo caminho?”. Num primeiro momento Jesus quer doar seu tempo e doar seus ouvidos para escutar suas palavras. Os ouvidos de Jesus estão abertos para que os discípulos compartilhem seu sofrimento.

Num segundo momento, Jesus desvia o foco dos discípulos voltados para a sua própria angústia. É preciso reacender a esperança. A atenção dos discípulos se volta para Deus e sua missão neste mundo. Começando por Moisés e percorrendo os livros dos profetas, Jesus expõe o seu caminho de sofrimento e glória, sua cruz e ressurreição. E como se palavras não fossem suficientes – e de fato nunca o são – Jesus ainda compartilha um gesto, uma ação, que transforma o destino dos dois discípulos.

Ao chegar em Emaús, a noite se aproximando, os dois discípulos, ainda sem reconhecer Jesus, insistem em acolher o viajante em sua própria casa. Sentado à mesa, Jesus então realiza o gesto da partilha. Pegando o pão e dando graças a Deus, Jesus reparte o pão com os dois companheiros. Na partilha os olhos deles se abrem e eles reconhecem Jesus.

O foco definitivamente não é mais seu próprio sofrimento, mas sim Jesus e o sofrimento de outras pessoas. Os dois discípulos sabem que Jesus está vivo e imediatamente se levantam para retornar à Jerusalém. É noite. O dia já chegou ao fim. Mas é preciso enfrentar o caminho escuro. É urgente aliviar o sofrimento e a dor dos demais discípulos que ficaram em Jerusalém. É necessário repartir com os demais companheiros em Jerusalém a boa notícia da cruz e da ressurreição de Jesus.

Estimada comunidade, acredito que todos nós podemos nos identificar com os dois discípulos no caminho para Emaús. Seja no tempo presente, seja no passado ou no futuro, o sofrimento e a dor quando atravessam o nosso caminho abatem nosso espírito e prejudicam nosso corpo. Tanto externamente como internamente nos sentimos cansados e desanimados. Quando atravessamos momentos de sofrimento e angústia, a tendência é pensar no meu sofrimento, focar na minha angústia. É uma tendência natural do ser humano visto que o sofrimento pessoal é uma ameaça à minha vida, a angústia é um perigo à minha própria existência.

A missão de Jesus entre nós é boa notícia. Jesus não é indiferente à nossa dor e certamente se coloca ao nosso lado para ouvir nosso lamento, doar seus ouvidos e doar seu tempo para caminhar conosco. Sua intenção para conosco é curar nossas dores.

A missão de Jesus, porém, vai além. De um coração quebrantado e consolado Jesus quer mover sua comunidade, Jesus quer nos mover em direção a outras pessoas em sofrimento. Assim o foi na história dos dois discípulos de Emaús. Assim o foi em muitos momentos na história da Igreja. Assim há de ser no momento presente e no tempo futuro de nossa Igreja. A comunidade cristã que é fiel a Jesus Cristo não olha apenas para as suas necessidades internas, mas se deixa conduzir por Jesus em direção ao próximo, em missão e serviço para aliviar as dores e ajudar as pessoas a reencontrarem a esperança.

Eu sei que estes tempos de pandemia que nos forçam ao isolamento social representam um grande desafio à missão da Igreja, e especificamente à missão nas comunidades da Paróquia evangélica em Maripá. Existem limitações do que podemos fazer. Mas também existem possibilidades, entre elas, entrar em contato por telefone ou pelo vídeo do whatsapp com outra pessoa. Entrar em contato para ouvir sua voz, doar seu tempo, conversar sobre alegrias e preocupações, compartilhar uma palavra da bíblia e carregar um ao outro em oração. E, quem sabe, nesta conversa por telefone você acaba descobrindo outras maneiras de ajudar seu vizinho/a: talvez ir à farmácia buscar remédios ou ir ao mercado para trazer alimentos.

Também entre as possibilidades e, esta é uma pergunta que eu faço e não sei a resposta, será que em nossa comunidade temos pessoas ou famílias passando necessidades por falta de alimentos? Eu sei que a prefeitura tem ajudado famílias carentes cadastrados pelo serviço social do município. Desconheço se temos esta necessidade entre os membros das comunidades da Paróquia. Se esta necessidade existe é urgente que Pastora ou Pastor sejam informados para que junto com o presbitério possamos elaborar uma ação solidária.

Por fim outra possibilidade de missão que gostaria de destacar é a oferta financeira. Visto que não temos cultos presenciais as ofertas estão deixando de ser recolhidas. E certamente uma boa parte do destino das ofertas é contornável. No futuro, quando voltarmos à normalidade, as pessoas terão oportunidade para ofertar a estes destinos específicos. Mas algumas ofertas são urgentes e necessárias como a oferta para a Pastoral da Saúde. No convite para este culto online escrevei palavras de motivação para esta oferta. E aproveito aqui para reforçar que a Pastoral da Saúde é um serviço importante de acompanhamento a pessoas hospitalizadas em Cascavel, um centro de referência hospitalar e tratamento de saúde em nossa região. Quando for possível novamente realizar visitas pastorais nos hospitais a demanda será grande. Por isto a importância da nossa oferta para apoiar a missão da igreja indo ao encontro de pessoas em sofrimento.

Estes são alguns exemplos de se deixar conduzir por Jesus e sua missão. Assim como Jesus transformou o destino dos dois discípulos de Emaús, que ele possa também transformar o nosso destino e o destino do mundo. Amém.
 


Autor(a): P. Me. Alexander R. Busch
Âmbito: IECLB / Sinodo: Rio Paraná / Paróquia: Maripá (PR)
Área: Missão / Nível: Missão - Coronavírus
Área: Celebração / Nível: Celebração - Ano Eclesiástico / Subnível: Celebração - Ano Eclesiástico - Ciclo da Páscoa
Testamento: Novo / Livro: Lucas / Capitulo: 24 / Versículo Inicial: 13 / Versículo Final: 33
Natureza do Texto: Pregação/meditação
Perfil do Texto: Prédica
ID: 56288
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João 14.6
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