Neblina de julho

Artigo

14/07/2006


Viajar na neblina causa sensação estranha. A paisagem encoberta por neblina compacta revela que as pedras e as árvores, embora próximas, são incapazes de perceber a presença uma da outra. Vidas humanas convivem com experiências idênticas. A neblina espessa impede a visão e acarreta perigo ao viajante. Já em dias de azul e de sol brilhante, as estradas também podem surpreender. Quem conhece a Dona Francisca, a rodovia que conduz ao Planalto Norte catarinense, encontrará traçados retilíneos e seguros, onde os olhares se perdem na linha do horizonte.

Caminhos humanos, no entanto, podem ter outras características. Tomando como exemplo a rodovia em aclive nas encostas da serra do Mar, via sinuosa, em poucos minutos ocorrem surpresas adversas. Nesta época do ano, a neblina trazida pelo vento encobre depressa a cadeia montanhosa. Sofre sobremaneira o viajante, que, desconhecendo o traçado, precisa dar continuidade à viagem. De repente, o rumo certo e a segurança estão comprometidos. Viajantes, quando surpreendidos por grossas camadas de nuvens varrendo o piso de asfalto, sentem-se perdidos.

A decisão correta seria parar e esperar que um vento forte sopre e afaste a neblina. Ser envolvido pela neblina é sensação humana verdadeira: a realidade das perdas torna-se um exemplo vivo dessa situação. Existem pessoas queridas que se despedem temporariamente, mas retornam; em contrapartida, há perdas eternas sem reparação. No rastro, permanecem espíritos transtornados, causa de um futuro ameaçado e incerto, manancial de agonia e desesperança. Pesam aquelas situações que exigem atitudes e decisões imediatas.

A experiência da vida solitária e das incertezas, como se fosse vida sob a coberta da neblina densa, revela o tamanho da limitação do ser humano. Percebemos que de forma idêntica à árvore solitária vive a geração jovem, cujo futuro no mundo do mercado é incerto. Assim também um contingente sempre maior de pessoas brasileiras vive encoberto pela neblina da corrupção e da falta de credibilidade de legisladores políticos.

A neblina, um fenômeno natural e tão comum em nosso contexto geográfico e climático, assume função pedagógica, sábia e interessante. Em especial as pessoas, determinadas pelo orgulho e tentadas a extrapolar as próprias potencialidades, deixam de enxergar os limites que as caracterizam como humanas. Em meio à paisagem da neblina, soa a boa notícia a respeito de uma pessoa companheira e fiel: Jesus Cristo, verdadeiro homem e verdadeiro Deus. Ele divide a experiência da neblina e conduz a caminhos seguros.

É verdadeira sua promessa que ele veio ao mundo para servir. Os raios do sol da esperança lembram a Páscoa de Cristo e desfazem o poder da neblina! É prudente, então, seguir na companhia de pessoas em quem se tem confiança. Sábia é a pessoa que, apesar da neblina, se põe a caminho, na companhia do Cristo, o Sol da Graça, o Deus-conosco. Prescindir de sua companhia será tolice.

Manfredo Siegle
pastor sinodal do Sínodo Norte-catarinense
da Igreja Evangélica de Confissão Luterana no Brasil (IECLB)
em Joinville - SC

Jornal A Notícia - 14/07/2006

 


Autor(a): Manfredo Siegle
Âmbito: IECLB / Sinodo: Norte Catarinense
Natureza do Texto: Artigo
ID: 7781
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