Natal no campo

20/12/2015

Natal no campo

Roberto Ervino Zwetsch


 Este dezembro foi bem diferente. Enquanto as crianças viajavam com pais e mães para a praia, Lua e sua família decidiram celebrar a festa de Natal no sítio. Mas desta vez receberam a visita de Mano G, seu pai, e uma amiga da mamãe e sua filha Dália.

A casa ampla com dois pisos e rodeada de árvores e muitas flores estava preparada. A vovó, que mora junto com a família e é exímia doceira, ajudou a preparar bolos, doces, e até compotas pra dar de presente. Ela é uma pessoa muito especial.

Lua esperou com certa ansiedade a chegada de mano G e de sua querida amiga Dália. Naquela manhã de sol e ar fresco foi uma alegria só quando as visitas chegaram. Mamãe Paula e papai Mário acordaram cedo para os preparativos daquela festa especial.

O dia foi de muitas brincadeiras e um belo passeio até o riacho que corre nos fundos do sítio. As crianças não deixaram por menos. Aproveitaram o calor e se jogaram na água, brincando com as reviravoltas da correnteza que levava gravetos, folhas e deixava uma leve espuma entre as pedras. Até aproveitaram para colher pedrinhas lisas para suas caixinhas de guardados.

Mas a expectativa das crianças era a noite que se aproximava. Que surpresa haviam preparado os adultos para elas? Não sabiam, mas ficaram imaginando. Fora a ceia de Natal que deveria ser rica e preparada pelo povo da casa, os sucos que a vovó e o papai de Lua vinham guardando fazia meses, os ovos das galinhas caipiras pintados de diversas cores, e as velas da árvore de natal acesas iluminando a sala, não sabiam que mais poderia acontecer.

Foi uma noite de festa, de muitos abraços, de canto, o papai Mário tocando em seu violão cantigas da época e incentivando as crianças a acompanhá-lo. Mamãe Paula leu a história de Natal como está no evangelho e – diferente dos outros anos – convidou as crianças para montarem elas mesmas o presépio naquela noite. Ali estavam a palha, alguns gravetos e folhas de palmeira que as crianças usaram para fazer uma cabana. Depois vieram os bonecos de barro: a mulher Maria, o pai José, a manjedoura com a palha, e um menino sem roupa que as crianças colocaram no coxo com todo cuidado. Lua – cuidadosa como sempre – o envolveu num pano limpinho e o deitou com a cabeça perto da mamãe Maria. E então vieram os animais: galinhas, patos, a tartaruga, a anta, o veado, até um porquinho do mato teve lugar naquele presépio. E mais adiante ficaram outras pessoas: alguns pastores de ovelhas, um carpinteiro, uma lavadeira, um viajante que passava pelo lugar e se sentiu atraído pela luz de lampião, e mais as crianças da vizinhança, sempre curiosas. De fato, aquele presépio ficou muito diferente e animado.

Depois de cantarem e fazerem oração, as crianças receberam a bênção dos adultos e foram abrir os presentes que estavam ao redor da árvore de Natal. E seus olhinhos brilhavam a cada surpresa que os pacotes escondiam.

Depois foram dormir.

Passada da meia noite, as crianças escutaram um barulho estranho. Era como se uma voz vinda de longe chegasse de leve aos seus ouvidos. Como dormiam juntas na sala grande, resolveram descer bem devagar e conversar baixinho para não acordar os adultos. Perto da porta da cozinha perceberam que a voz agora soava bem clara. Era como voz de uma criança, um bebê que estivesse choramingando. Ficaram bem quietinhos para escutar melhor. E concordaram: sim, era voz de um bebê. Mas onde estaria a criança? E quem cuidava dela nesta hora da noite?

Lua propôs que fossem dar uma olhada seguindo a voz do bebê. Ela, precavida que só, tinha uma lanterna que ajudou a iluminar a escuridão. As crianças andaram por algum tempo e viram lá no fundo, perto do mato, uma luz fraquinha que brilhava. Sentiram que era o caminho que deviam seguir.

Foram ao encontro da luz e encontraram um barraco de gente pobre, mas bem ajeitado e iluminado. Ali não tinha luz elétrica. Só luz de lampião de querosene. Da janela aberta, só protegida pelos vidros, se podia ver que algumas pessoas estavam conversando em volta de uma roda. Lua, mano G e Dália se olharam e pensaram juntos: vamos bater? E assim fizeram.

A porta se abriu e um homem jovem, de barba, abriu e deu um baita sorriso. Nunca podia imaginar que àquela hora crianças viriam fazer visita. E convidou a turma a entrar. Uma surpresa as aguardava. Uma criança havia nascido naquele barraco pouco antes e a mamãe dava de mamar ao menino. A parteira da vila viera cedo para ajudar a pobre mãe e estava feliz ao seu lado, agora que a criança nascera sem problemas e com saúde. O pai do menino perguntou se as crianças aceitavam tomar chá de camomila ou de frutas vermelhas e elas disseram que sim, meio sem jeito, mas felizes pela criança que agora não chorava mais, aconchegada nos braços da mãe.

Voltaram para casa pouco depois com o coração pulsando forte. E diziam umas às outras: que nome aquela mãe e aquele pai darão ao menino? Ele é tão lindo. Ele é uma graça. É como se fosse um sinal de esperança, uma luz no meio da noite escura. Lua arriscou um nome. Se eu pudesse, disse ela, daria ao menino o nome de Jesus!

No outro dia souberam o final da história. De fato, Maria e José trabalhavam para a família vizinha do sítio. Depois que as crianças saíram, eles resolveram dar o nome de Jesus ao menino porque ele nascera na noite de Natal. Jesus cresceu e se tornou um menino esperto e cheio de graça! Era como se nele o Filho de Deus estivesse novamente entre nós.

Roberto E. Zwetsch
São Leopoldo, 20/12/2015
 

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