Não tem nada a ver...

Meditação

14/03/2003


A sociedade humana é muito rica em desenvolver figuras, imagens, definições que apontam tendências teológicas para explicar quem é Deus e interpretar quem é Jesus Cristo!.

A caminho de Jerusalém, Jesus pergunta a seus discípulos: Quem dizem os homens: que sou eu? Pedro, um dos líderes do Grupo dos Doze, faz uma confissão: Tu és o Cristo, tu és o Messias, o escolhido de Deus. Qual é a imagem de Cristo difundida na teologia em nossos lares? Que conceito os/as cidadãos/ãs de Joinville, cidade que nos acolhe e abre os braços para o trabalho e a vida, desenvolveram, no decorrer de seus 152 anos de história, sobre Jesus Cristo? Quem dizem as pessoas, na 'Cidade das Flores', que sou eu?

O evangelista Marcos reparte seu testemunho com uma das comunidades oprimidas, até a morte, pelos promotores da pax romana. O profeta Isaías destaca que o Servo de Deus era desprezado e o mais rejeitado entre os homens; homem de dores que sabe o que é padecer; e, como um de quem os homens escondem o rosto, era desprezado, e dele não fizemos caso. Certamente, ele tomou sobre si as nossas enfermidades e as nossas dores levou sobre si; e nós o reputávamos por aflito, ferido de Deus e oprimido. Mas ele foi traspassado pelas nossas transgressões e moído pelas nossas iniqüidades; o castigo que nos traz a paz estava sobre ele, e pelas suas pisaduras fomos sarados (Isaías 53. 3-5). Seria Jesus, o Servo de Deus?

Apesar dos desacertos sociais, econômicos, éticos e políticos, a fé cristã anuncia e aposta que o nosso mundo tem futuro. Há esperança para a humanidade e para toda a criação! A salvação acontece através da cruz do Calvário e da novidade da Páscoa. A vontade de Deus em relação a seu Filho efetivamente não visa à glorificação maravilhosa. O Messias de Deus, Jesus Cristo, não veio ao mundo encarnado num super-homem ideal, que elimina a miséria humana com violência, porque a violência gera ainda mais desgraça. Cristo assume a qualidade de Filho de Deus à medida que acolhe os perdidos, abraça os intocáveis e compreende as transgressões dos desumanos. Seu reinado nada tem a ver com o jeito de imperar dos governantes autoritários.

Nas frentes de batalhas, os comandantes vitoriosos andavam garbosamente entre campos e lugarejos destruídos, observavam orgulhosos a destruição e os inimigos mortos e eliminados. Na atualidade, os donos do mundo fazem uso de aviões velozes ou da tecnologia sofisticada dos satélites para fotografar as frentes destruídas, ou para dimensionar as florestas tropicais e os campos de petróleo conquistados. Cremos em Deus que completa a sua missão, através do Cristo na cruz. A história da salvação acontece pelo lado avesso. Somos desafiados a protestar em favor de Deus que não prioriza a vitória em favor dos seus partidários ou aliados. Seu plano de salvação é a renúncia, é a oferta da própria vida para salvaguardar a vida de todas pessoas.

O Deus dos cristãos não divide o mundo em vitoriosos e derrotados, em bons e maus, em convertidos e perdidos. A tendência do ser humano é subir, ter sucesso, ser mais, ter mais, conquistar mais. No Cristo da cruz, Deus desce e nos encontra na forma mais humana e mais humilde possível. É tempo da Quaresma. Como entender os mistérios da vida a partir da cruz? Com certeza, um questionamento que desafia a desenvolvermos nossa própria opinião!

Manfredo Siegle
pastor sinodal do Sínodo Norte-catarinense
da Igreja Evangélica de Confissão Luterana no Brasil (IECLB)
em Joinville - SC
Jornal ANotícia - 14/03/2003


Autor(a): Manfredo Siegle
Âmbito: IECLB / Sinodo: Norte Catarinense
Área: Confessionalidade / Nível: Confessionalidade - Prédicas e Meditações
Natureza do Texto: Pregação/meditação
Perfil do Texto: Meditação
ID: 7970
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