Não há uma, mas diferentes juventudes

01/12/1999

Não há uma, mas diferentes juventudes

Joni Roloff Schneider 

Foi-me pedido para escrever um texto sobre O que está acontecendo com os jovens na Igreja . Para dar essa resposta precisamos ter em mente que não vamos falar de jovens como se estivessem fora do mundo. Os jovens da nossa Igreja também são os cidadãos e as cidadãs dessa sociedade. Por isso, podemos destacar alguns traços que podem ser considerados comuns a todos, que é a sua forma de pensar, de vestir, de atuar, bem como a visão social que predomina em nossa sociedade. O que os caracteriza, genericamente, como jovens da nossa Igreja, pelo menos para nós adultos, é que foram batizados e confirmados na IECLB.


Juventude hoje

Nos anos 89/90, começou-se a falar de que os jovens são uma geração nova, vazia, individualista, alienada. Muitos passaram a chamá-los de geração Coca-Cola, miolo de abobrinha. Criaram estereótipos e uma visão genérica desse numeroso e complexo grupo.

Hoje, há diferentes interpretações a respeito da juventude entre educadores e pesquisadores. Na verdade, não há uma juventude, mas sim diferentes juventudes, no plural, com uma enorme diversidade de formas de expressão, de modos de vida, de problemas e necessidades, que mudam conforme o local onde vivem, sexo, faixa etária e classe social.

Para compreendermos os jovens de hoje, é preciso despir-nos de modelos e preconceitos, de lembranças da nossa própria juventude e analisá-los à luz das transformações socioculturais violentas e rápidas que estamos vivendo. Também não podemos encará-los, simplesmente, como uma etapa de transição, um momento de preparação para a idade adulta. Parece-me mais significativo encarar a adolescência e a juventude como um tempo específico da vida humana, onde se solidifica a identidade, elabora-se o projeto de vida e constrói-se um conjunto de valores que orientam a perspectiva de vida: quem eu sou, quem eu quero ser, o que quero para mim e para a sociedade.

Juventude protagonista

Existem muitos jovens que não vivem no ¨mundo da lua¨, mas são extremamente ativos, conscientes, participativos, solidários. Neles podemos depositar esperanças de que serão, não só herdeiros, mas valentes promotores da cultura que se lhes oferece hoje, capazes de constituir um mundo melhor nas ciências, letras, artes, tecnologia, bons na área da ética — base fundamental de todo progresso humano.

O neoliberalismo e a globalização da economia, com sua ênfase na liberdade individual, proporcionaram à juventude, principalmente, um terreno fértil para o individualismo e os demais valores da sociedade capitalista. Porém a sensibilidade para o social, demonstrada pelos jovens, é um gancho¨¨  importante no sentido de conquistá-los para o projeto de uma sociedade em que o consumo não seja a finalidade primeira da vida humana.

Para atuar com jovens, é importante identificar as principais demandas e carências e desenhar um conjunto de ações que precisam agir de forma integrada. A juventude não pode ser somente o público-alvo da comunidade. Não adianta elaborar um plano de ação sem perguntar aos próprios jovens o que querem. E necessário tratá-los como sujeitos, participantes ativos para se tornarem protagonistas, parceiros e interlocutores.

Nosso desafio é tornar o jovem solidário e autônomo. Não é através de preleções, conselhos, prédicas, explanações logicamente estruturadas. Mas é através das práticas e das vivências. Através da sua participação ativa, construtiva, solidária, o jovem pode envolver-se na solução de problemas reais na escola, comunidade, sociedade. Para isso, a comunidade deve ver o jovem como fonte de três coisas: iniciativa (ação), liberdade (opção) e compromisso (responsabilidade).

Juventude e religião

A pesquisa realizada por Tânia Zagury, com 943 jovens estudantes de 12e r graus, em sete capitais e nove cidades do interior (1995), e a pesquisa realizada por João Pedro Schmidt, nos Vales do Rio Pardo e Taquari/ RS (1996), apontam praticamente os mesmos resultados sobre o significado social da religião para os jovens. Como IECLB, ainda não realizamos uma pesquisa qualitativa entre a juventude, mas, pelas experiências e conhecimento que temos da realidade da juventude da Igreja, podemos colocar algumas questões.

Para começar, temos que lembrar o que já falamos, ou seja, não podemos generalizar e colocar os jovens da IECLB como um contingente homogêneo. Por isso, precisamos dividir os e as jovens em três grupos:

* Que acreditam em Deus, mas não participam da Igreja. Acham importante acreditar em alguém superior, em Deus, mas veem pouco sentido nas religiões existentes, considerando-as ultrapassadas. Predomina a ideia de que a religião é algo ¨interior¨, que cada um acredita em Deus a seu modo.

* Que acreditam em Deus, mas participam pouco. Justificam sua posição alegando defeitos e problemas que vêem nas Igrejas, como desatualização, conservadorismo, celebrações desinteressantes. Dizem que, se estes problemas fossem sanados, poderiam participar.

* Que acreditam em Deus e participam ativamente da Igreja. As formas de participação são: como integrantes e líderes de grupo de jovens; na orientação do Culto Infantil e Ensino Confirmatório; em conselhos na comunidade; em acampamentos como Repartir Juntos; Encontrão e outros que reúnem grande número de jovens a cada ano; em grupos alternativos de solidariedade; em grupos de música e teatro, em pastorais universitárias e outros mais.

A religião confere a estes jovens um sentido de vida e exerce uma influência prática de fazê-los participar da comunidade. Mas tal participação não impede que percebam problemas nas Igrejas.

O que está acontecendo na IECLB com os jovens é que eles querem mudanças na Igreja, como atualização, cultos e celebrações mais dinâmicas, alegres e participativas, orientações e posicionamentos da Igreja quanto a valores e comportamento humano, materiais mais criativos, comunicação mais moderna.

Olhando para além dos muros da IECLB, reparamos que a idéia de que a Igreja é uma instituição antiquada, ou o distanciamento dela, não significa que os jovens estejam rejeitando Deus ou a dimensão da espiritualidade. Indica, sim, um refluxo da religião da esfera comunitária para a esfera individual, ou seja, a fé não precisa ser externada nem partilhada.

Se as Igrejas históricas não derem maior espaço aos jovens, respeito, acolhida, a sua perspectiva é o esvaziamento. E uma Igreja sem juventude é uma Igreja sem futuro.


A autora é obreira catequista da IECLB e coordenadora do Departamento Nacional para Assuntos da Juventude, em São Leopoldo, RS


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Autor(a): Joni Roloff Schneider
Âmbito: IECLB
Área: Missão / Nível: Missão - Jovens
Título da publicação: Anuário Evangélico - 2000 / Editora: Editora Sinodal / Ano: 1999
Natureza do Texto: Artigo
ID: 33071
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