NÃO
demos a vitória ao terror, recusando submeter-nos a um mundo criado à imagem deles... Não devemos permitir que o terror nos distancie daquilo que Deus quer que sejamos.
O mundo sofre com uma nova onda de terror. Nós cariocas, de repente, estamos no centro das notícias onde se levantam suspeitas sobre possíveis atos de terrorismo durante as Olimpíadas. Devemos ter medo ou devemos ser pró-ativos espalhando a paz e a esperança como pessoas comprometidas com o Reino de Deus?
Acreditamos ser este um dos melhores argumentos para interromper a onda de terrorismo que assusta nosso globo terrestre e que também nos causa apreensão em nossa cidade:
AGIR E REAGIR CONFORME A IMAGEM DE DEUS E NÃO DE ACORDO COM A IMAGEM DO TERRORISMO.
Acreditamos que falar em valores morais ou éticos para condenar os atos de barbárie vistos por todo mundo – atos que certamente também representam um grito desesperado de explorados e excluídos – seria repetir o que sempre é dito. É verdadeira a afirmação de que falta moral e ética à humanidade, de todos os lados. Mas o que falta realmente ao ser humano? Muitas pessoas já se colocaram a responder a esta pergunta. São respostas satisfatórias? Ao mesmo tempo constata-se que o “quem sou eu?” é tão antigo e desgastado quando o “por que estou aqui?”
Olhando para nossa cidade e nossa nação, as enxergamos como incubadoras da corrupção e da impunidade, incubadoras da violência de forma especial contra mulheres e crianças, do tráfico de drogas, das balas supostamente perdidas, incubadoras da religiosidade descomprometida, do universalismo que não se importa com vidas. Ou seja, o terrorismo já habita entre nós.
Todas as formas de terrorismo que existem entre nós exigem do povo cristão, comprometido com a Palavra e a Verdade em Jesus Cristo, uma postura repensada. Gostaríamos de sugerir uma pista, a de ensaiar uma reflexão sobre esta questão do terrorismo a partir da pista do imago dei.
Seria o mundo sem fronteiras a origem dos conflitos modernos? Ou então o mundo conectado on-line pela internet seria o facilitador do terror? Através destas facilidades, nos parece que o ser humano não está se colocando individualmente de forma tão central na criação que justifica qualquer procedimento. O que lhe importa realmente é que possa ter prazer, poder, ser dono da vingança e viver uma auto-realização mesmo que seja sarcástica. É pensando em si que o ser humano se torna fundamentalista. Não devemos esquecer, no entanto, que o fundamentalismo do capitalismo e da ganância é tão ou mais devastador que qualquer outro fundamentalismo, seja islâmico ou de qualquer outra orientação.
Quem sabe, compreendendo o conceito de ser Imagem de Deus (imago dei), possa se ajudar a cristandade a entender novamente seu lugar específico como criatura no contexto da criação diante do Criador. Este conceito parece não estar, de fato, muito claro, nem entre aqueles que deveriam ser formadores de opinião.
De forma sutil, os relatos da criação deixam em aberto algumas questões relacionadas ao poder e função da criatura no contexto da criação. O ser humano é dono de vontade própria e é revestido de poder, sim. Além disso, a história da criação pode estar aberta para as concepções científicas e sociológicas próprias de cada época; assim também a percepção do papel do ser humano em cada época é passível de reinterpretação. Certamente o conceito ser humano não é de todo fechado. No entanto, o ser teomorfo, ter a forma de Deus, criado à imagem de Deus, não reproduz em nenhum momento o autoritarismo ou o exercício de poder, egoísmo, violência ou outros atributos de suposta supremacia como sendo características que o classificam como coroa inconteste da criação.
O ser humano é s,äläm ,elohím. Como imagem de Deus, o ser humano tem um diferencial que o torna único. É este o atestado que recebe no ato da criação. Como fruto da obra do Criador, o ser humano é não somente constituído, mas também protegido pelo Criador. É imago dei não somente porque é constituído e está protegido pelo Criador (só isso não o diferenciaria do restante da criação), mas porque tem liberdade de opção, posição e decisão. Mais, é um ser-em-companheirismo com seu Criador, pois somente o ser humano é capaz de relacionar-se com Deus, diferentemente de todos os animais e demais criaturas. Pode-se dizer que é uma espécie de senhor sobre si e sobre o restante da criação. Neste sentido, tem o mesmo atributo de seu Criador, enquanto ser de livre escolha e companheiro. Significativo é o fato de que em nenhum momento, nem sequer nos dias da maior devassidão testificada pelos relatos bíblicos, o ser humano deixa de ser considerado s,äläm ,elohím.
Hoje há uma grande distância entre Criador e criatura. Certamente este é o nosso grande problema. Os fatos o atestam. Se há um hiato abissal que distancia o Criador da criação (homem, animal, planta, rio, astro, universo) na perspectiva do Deus infinito, há também um hiato entre o ser humano e os demais aspectos da criação (homem, animal, planta, rio, astro, universo) na perspectiva do Deus pessoal. Deus é caracterizado como pessoal porque interage de forma diferenciada com o ser humano, coroa da criação: eles se falam e se entendem cognitivamente. Resgata-se aqui novamente o conceito ser-em-companheirismo. Ou seja, o ser humano sabe quem ele é e o que se espera dele na sua inter-relação com o Criador e a criação. Sabe que não é apenas um átomo ou uma partícula de energia. Não é apenas uma bomba humana. Não é um terrorista ou apenas alguém sujeito a fatalidades terroristas. Pelo contrário, e justamente por ser mais do que tudo isso, é imagem de Deus. Olhando toda a criação ao seu redor, tem consciência de estar à frente da mesma criação da qual ele mesmo é oriundo, mas não é um animal, uma planta, um rio ou um simples átomo.
Se – e isso não é apenas uma conjectura, mas um fato – a imagem da humanidade não corresponde mais à imago dei, é porque está turvada pela real e cruel presença do pecado. O pecado quebrou esta imagem, estraçalhou o propósito do Criador, explodiu com o respeito e a misericórdia nas relações interpares. Assim estraçalhada pela violência, pela falta de valores identificatórios, pela indiferença e omissão do amor, a humanidade consegue no máximo ser uma vaga lembrança daquilo que fora harmonioso e bom. O apóstolo Paulo descreve esta cena da morte, aparentemente irreversível, em Romanos 5.12-21.
Justiça, paz, reino de Deus hoje é espelhar o imago dei para dentro do tempo presente. Neste sentido ser imagem de Deus não acontece fora da comunhão do amor, do perdão, do arrependimento. Nesta preciosa comunhão o ser-em-companheirismo fomenta a vida santificada e transformadora diante do Criador. Onde pessoas se relacionam com base nos princípios do Evangelho de Cristo, não há espaço para o terrorismo. Nunca mais! E este conceito transformador torna a vida um grande e comprometido SIM.