Palestra proferida em março de 2013, no Sínodo Nordeste Gaúcho:
No capítulo 9 da sua primeira carta aos coríntios o apóstolo Paulo defende o direito de ser remunerado pelas comunidades. Ele o faz com unhas e dentes. Entre outras coisas, ele pergunta: 'Se nós vos semeamos as coisas espirituais, será muito recolhermos de vós bens materiais? (1ª Cor 9.11). Existe uma correlação entre ambas as situações. A pregação da Palavra do Evangelho deve ter retorno financeiro. Isto não só em termos de salários como também em termos de participação na missão da Igreja. É por isso que Paulo procura motivar as suas comunidades para uma coleta em favor dos cristãos de Jerusalém, de onde partiu o Evangelho. Isto em 2ª Coríntios 8-9.
Portanto, dinheiro na Comunidade se destina não só ao pagamento de salários e outras despesas da própria Comunidade, se destina também a levar adiante a missão da Igreja maior. Se as Paróquias quiserem cobrir apenas os custos internos e deixarem de olhar para além dos seus muros, a IECLB jamais será Igreja missionária
Com isto, já nos aproximamos da segunda pergunta, que diz respeito à compreensão da contribuição. Está claro que Contribuição não é 'pagamento'. A gente não paga a Deus pelas suas dádivas, a gente agradece. Eu não pago pelo direito de ser membro da minha Comunidade. Foi Deus que me deu este 'direito', e isto por graça, pelo Batismo, pelo chamado do Espirito Santo.
Naturalmente, o dinheiro serve para 'pagar' serviços. Também é verdade que, pela minha filiação, eu adquiro direitos na Paróquia, a exemplo: um 'enterro religioso', muito embora estes direitos estejam condicionados a ainda outras premissas. Eles estão definidos em Estatuto. Mesmo assim, importa não esquecer que, antes de perguntar pelos meus direitos, devo perguntar pelos meus deveres. A Comunidade não é um clube criado para atender determinadas necessidades dos seus sócios. Ela é o corpo de Cristo, constituída por membros. Na Igreja, não existem sócios, só existem membros e estes são, como vimos: contribuintes por natureza.
Apenas apostar na espontaneidade dos membros na hora de estabelecer o seu valor de contribuição não funciona. Os membros precisam de orientação e motivação. Devem ser dadas diretrizes. Existem modelos para tanto e que têm funcionado a contento. Entretanto, volto a dizer que a isenção de contribuição deve ser evitada. Ninguém é tão pobre ao ponto de não poder contribuir com absolutamente nada.
Com a mesma determinação se deve cuidar para que não ocorra a exclusão de membros por motivos de pobreza. Muitas vezes, eles se autoexcluem, porque consideram pobreza uma vergonha. Ora, o membro com menos recursos é tão valioso quanto aquele com muitos. Pobreza pode ter motivos alheios à nossa vontade e nem sempre resulta em culpa. Mesmo se esse for o caso, não há porque abandonar a Comunidade. Certamente, há como resolver a pergunta pela contribuição, que, aliás, é uma questão também de dignidade.
O que fazer se um membro atrasar a contribuição? Sei que esse é um dos problemas candentes. Ora, em princípio, há que se distinguir entre os que não podem e os que não querem contribuir. Penso que uma conversa fraternal vai resolver muito. Não basta 'baixar uma lei'. E preciso conversar. Além disso, é importante haver certa flexibilidade na procura por soluções. Estas não devem exigir o impossível. A que se deve o atraso na contribuição? Creio que, com um pouco de boa vontade, a maioria dos casos poderá ser resolvida.
(do Jornal Evangélico Luterano 03 e 04/2014)