Em razão do maior desastre da aviação brasileira, registrado há pouco, os jornais refletiram as opiniões dos responsáveis pela navegação aérea no País. Passados alguns dias depois da tragédia, disseram: Só não sai um laudo oficial porque contamos ainda com milagre.
Milagre! Você acredita em milagre? Embora conflite com a razão humana, a crença em fenômenos sobrenaturais faz parte de nossa existência. Acreditar em milagres traz benefícios? Seriam os milagres truques divinos materializados por pessoas carismáticas especiais? Crianças se entusiasmam sobremaneira com narrativas de milagres. E não seria Jesus, o milagreiro-mor, de que se tem notícia? A definição clássica do milagre remete a fenômenos que apontam à quebra de leis que determinam o ritmo de vida na natureza. As leis da mecânica primam pelo princípio causal que gera efeitos.
No mundo da piedade, observamos correntes de oração em favor de situações difíceis na vida; são orações que clamam alto aos céus em busca do auxílio para os doentes em estado terminal; outras são intercessões pela interferência do poder divino diante de realidades angustiantes, motivadas por catástrofes, acidentes, guerras e por situações desumanas. A confiança das pessoas cristãs sublinha que o maior milagre de Deus se tornou visível na pessoa de Jesus Cristo, longe do conceito clássico do milagre-espetáculo. Nada de fantástico aconteceu na insignificante Belém. O Filho de Deus não teve lugar digno para nascer; condenado ao sacrifício, morreu fora dos muros da cidade de Jerusalém. Os fariseus, seus adversários e teólogos da época, não aceitaram o Cristo como maior milagre de Deus; pelo contrário, acusaram-no de representante do diabo. Jesus alertava seus semelhantes incrédulos que não são os milagres a convencê-los da presença transformadora de Deus.
O maior milagre de Deus, na realidade considerado um escândalo, materializado na pessoa de Jesus, não subverteu as leis da física e da mecânica. A vinda de Cristo, que se integrou com todas as conseqüências na realidade de mundo, significou a inauguração de um novo tempo. O Messias nasceu, agiu conforme a vontade do Pai e somente poucos o reconheceram. Viveu para transformar as consciências humanas a partir do amor e das obras do amor. Nos passos de Cristo, assumimos o compromisso em relação ao grande milagre da transformação da vida. O Deus da família cristã não se realiza aplicando truques espetaculares. Ele age sabiamente no silêncio, semeia a boa notícia para fortalecer a fé e a esperança, consola e vem para realizar o milagre do amor.
Os olhares de Deus são bondosos, semelhantes aos da mãe amorosa e do pai atencioso. Cooperar para que aconteça, a cada dia, o milagre da vida, na esperança da nova sociedade liberta e reconciliada: trata-se de uma dívida que permanece!
Manfredo Siegle
pastor sinodal do Sínodo Norte-catarinense
da Igreja Evangélica de Confissão Luterana no Brasil (IECLB)
em Joinville - SC
Jornal A Notícia - 06/10/2006