Querida e querido internauta,
querida Noemia, Carmen, Irmgard, Maria, Glorinha, Clotilde...
A presença transformadora da mulher não é coisa só do novo milênio. O seu valor, mesmo que não reconhecido, não vem de hoje. Vejamos, por exemplo, a Bíblia. A Bíblia está cheia de relatos em que mulheres marcaram presença transformadora e libertadora. É que a história sempre foi contada a partir da perspectiva e do olhar masculino, não fazendo muita questão de ressaltar a presença das mulheres.
A história da mulher tem sido resgatada por muitas teólogas que têm procurado descobrir que a mulher marcou sua presença na história, mesmo que essa história não seja contada.
Se olharmos para a história da libertação do povo de Israel no Egito não podemos ignorar que o movimento de libertação de defesa da vida começa justamente com as mulheres parteiras que negaram-se a obedecer a ordem de faraó. A ordem era: matem os meninos ao nascerem!
As parteiras são mulheres fortes, que usaram de sabedoria, cautela, sigilo para ir contra a ordem de faraó. Elas temeram a Deus. Sua fé em Deus estava acima de tudo, porque Deus não é Deus da morte e sim da vida. O faraó queria matar os meninos porque estes representavam perigo quando crescessem, pois como homens adultos poderiam se revoltar contra o rei. Ao contrário, as meninas poderiam viver, pois não representavam perigo. É justamente de quem não se espera que vem a resistência.
E hoje? As parteiras dos dias atuais são as mulheres que não cruzam os braços e vão a luta. São as que defendem a vida, que cuidam para que as crianças vivam. São as mães que têm dupla jornada de trabalho. São mulheres que têm no Deus da vida a inspiração cotidiana para a transformação de tudo o que gera morte em sinais concretos de vida.
E qual era o relacionamento de Jesus com as mulheres? A atitude de Jesus com relação às mulheres foi uma atitude libertadora. Em meio a uma sociedade machista que marginalizava e colocava a mulher totalmente sem valor em meio à sociedade, Jesus encarnou a vontade de formar uma nova comunidade, uma comunidade mais humana. Ele nunca permitiu que a mulher fosse tratada como inferior ao homem. Mas a todas discriminadas pelo sistema opressor da época, Jesus acolhia com amor. Ele devolvia à mulher a sua auto-estima, a sua dignidade de ser criada a imagem e semelhança de Deus. Em Cristo foi superado o desprezo pela mulher e a sua dolorosa marginalização.
Jesus escandaliza curando mulheres em público. Ele liberta da humilhação uma mulher que a 12 anos sofria de um fluxo de sangue. Isto Ele fez numa sociedade onde a menstruação era sinal de impureza. Jesus não permite que este milagre passe despercebido. A mulher, que anonimamente tocou Jesus, é trazida para o meio. Não só é curada como também tem a sua dignidade devolvida e é reintegrada na sociedade. É uma mulher de fé, e é chamada por Jesus de filha, a única que é chamada de filha!
A mulher adúltera, que trouxeram à presença de Jesus para ser apedrejada, foi por ele defendida. Jesus disse: Aquele que estiver sem pecado seja o primeiro a atirar a pedra. E ninguém se atreveu, pois foram acusados por suas próprias consciências e viram que eles também tinham telhado de vidro. Jesus não permitiu que se aplicasse a lei que só punia à mulher. Onde estava o adúltero?
Jesus Cristo veio resgatar essa imagem perdida da mulher, garantir os seus direitos e devolver a sua dignidade. Jesus é o único Senhor!
E hoje, como a mulher tem marcado sua presença transformadora na Igreja?
Se olharmos para dentro de nossas Igrejas vamos perceber que a maioria das pessoas que participam da vida comunitária é mulher. Vamos vê-la presente em quase todos os segmentos. Uma pena é que muitas Igrejas não aceitam mulheres como sacerdotisas, pastoras, por acharem que a mulher não deve ocupar tal espaço. Em contrapartida já existem muitos avanços em outras Igrejas onde as mulheres também ocupam espaço como pastoras, bispas (e aqui não falo daquelas que assim se autodenominam!) e fazem o mesmo trabalho que os homens pastores. Algumas até mesmo estão presentes nos postos hierárquicos da Igreja.
A presença da mulher na liderança da igreja é extremamente importante. Há uma diferença entre o ministério masculino e o feminino. As mulheres são possuidoras de uma sensibilidade maior para com os problemas relacionados à ide feminina. Com tal visão, as pastoras e ministras exercem um papel importante na conscientização de toda a Igreja, inclusive dos próprios colegas pastores e sacerdotes, de que a luta pelos direitos e pela valorização da mulher precisa do engajamento de todos.
A Igreja usufrui do trabalho da mulher, de sua presença transformadora. Contudo, a caminhada que temos pela frente é longa. Cabe a todas nós, mulheres, refletir sobre nossa posição e atuação, e buscar o nosso valor próprio, dado a nós por Deus na criação, e reforçado pela atitude de Cristo de ter, em seu corpo de seguidores mais próximos, mulheres simples, mas que fizeram diferença em seu ministério.
A alegria acompanha a caminhada da fé. Sempre podemos celebrar quando a vida vence a morte, quando a justiça vence a injustiça, quando acontece uma relação de igualdade e reciprocidade entre homem e mulher, quando se vence o racismo, quando lutamos por nossa dignidade. Sinais já existem. Já podemos celebrar.
Um abraço para todas e todos,
Noeme de Matos Wirth, pastora