No que implica o fato de nos assumirmos como cristãos? Será que basta levarmos uma vida de “retidão”, protegendo-se e se excluindo de toda a inferioridade que rege este mundo, ou será que é necessário que “coloquemos nossa cara a tapa”, fazendo com que nossas atitudes sejam a mais fiel imitação do comportamento de Cristo?
Certa vez, Jesus foi convidado a participar de um banquete na companhia de publicanos e pecadores. Os doutores da lei, ao verem Jesus sentado junto com estas pessoas, escandalizaram-se e indagaram ao Mestre o motivo pelo qual Ele aceitava ser visto junto de pessoas daquele “nível”. Jesus, ouvindo-os, respondeu: “não necessitam de médicos os sãos, mas sim os doentes. Ide e aprendei o que significa misericórdia quero, não sacrifícios.” (Mateus 9.10-13)
Em nosso contexto atual, soa-nos estranho esse comentário feito pelos fariseus, reprovando a conduta de Jesus perante os pecadores. Porém, não percebemos que, após 2.000 anos, continuamos persistindo na repetição dessa conduta perante nossos semelhantes mais necessitados. Quantos de nós não viramos o rosto para o irmão que solicita uma esmola, um sorriso, um minuto de atenção? Quantos de nós, tal como os doutores da lei contemporâneos de Jesus, não viramos o rosto para aquele companheiro que se apresenta “sob influência do maligno”?
Muitas vezes, esquecemo-nos das lições de humildade, de amor e de tolerância para com as falhas do próximo que Cristo nos deu. É comum que pensemos que estamos em uma situação mais “confortável”, a partir do momento que nos assumimos como participantes do “Corpo de Cristo” (1 Co 12.13). Dessa forma, concluímos (erroneamente) que não precisamos mais de estar em contato com todas as imperfeições que compõem a inferioridade de nosso mundo.
Porém, de que adiantaria conhecer a Palavra se não soubermos exercitá-la para com as pessoas que estão à nossa volta? O próprio apóstolo Tiago, em sua epístola, nos adverte quanto a esse tipo de conduta diferente que temos quando estamos perante os mais necessitados e os mais abastados: “Meus irmãos, não tenhais a fé de nosso Senhor Jesus Cristo, Senhor da glória, em acepção de pessoas. Porque, se no vosso ajuntamento entrar algum homem com anel de ouro no dedo, com trajes preciosos, e entrar também algum pobre com sórdido traje, e atentardes para o que traz o traje precioso, e lhe disserdes: “Assenta-te tu aqui num lugar de honra”, e disserdes ao pobre: “tu, fica aí em pé, ou assenta-te abaixo do meu estrado”, porventura não fizestes distinção entre vós mesmos, e não vos fizestes juízes de maus pensamentos? Ouvi, meus amados irmãos: Porventura não escolheu Deus aos pobres deste mundo para serem ricos na fé, e herdeiros do reino que prometeu aos que o amam?” (Tiago 2.1-5)
Adiante no versículo 14 Tiago, nos faz a seguinte indagação: “Meus irmãos, que se aproveita se alguém disser que tem fé, mas não tiver as obras?”. O Profeta Isaías, centenas de anos antes da passagem de Jesus entre nós, já nos alertava para esta nossa conduta: “Este povo honra-me com os lábios, mas seu coração está longe de mim (...).” (Isaías 29.13). O Profeta Oseias também nos trouxe advertência tão importante quanto esta, ao trazer a palavra de Deus dizendo: “misericórdia quero, não sacrifícios, e o conhecimento de Deus mais do que holocaustos” (Oseias 6.6).
Será que nossa posição “confortável” nos coloca em tão grande vantagem em relação aos nossos irmãos? Será que nosso conhecimento de Deus é tão mais amplo do que o dos “pecadores” à nossa volta? Dentro desse contexto, é interessante salientarmos que, nos tempos em que Jesus viveu os próprios doutores da lei também não foram capazes de perceber a grandiosidade do momento que eles estavam vivendo! Por mais que eles conhecessem todas as profecias referentes à vinda de Cristo, eles não O reconheceram como o enviado de Deus! Muito pelo contrário: tal reconhecimento veio da parte de humildes homens, como Pedro (vide Marcos 8.29) ou até mesmo da parte dos chamados “espíritos imundos” (como o ocorrido em Marcos 3.11), os quais tiveram mais sensibilidade e entendimento do que aqueles que já possuíam profundo conhecimento “teórico” da Palavra.
Portanto, amados irmãos, urge que mudemos nossas condutas para com os nossos semelhantes mais necessitados. Jesus deu-nos o exemplo, ao afirmar categoricamente que “não necessitam de médicos os sãos, mas sim os doentes”. Os profetas Oseias e Isaías e o apóstolo Tiago também nos alertaram! Façamos como Jesus nos ordenou através de gentileza, com boa-vontade, cooperação, polidez, acolhimento, solidariedade e aprendamos o que quer dizer “misericórdia quero, não sacrifícios”!