Mesmo que 75% do teu esforço se perca - a tua missão é semear!

12/07/2020

Isaías 55. 10-13
Mateus 13.1-9; 18-23
Romanos 8.1-11

O livro do profeta Isaías divide-se em três partes: a primeira podemos chamá-la de livro da denúncia; a segunda, livro do anúncio, e a terceira, livro da consolação. O texto que lemos hoje pertence a esta última sessão do livro, e isto já nos dá uma pista para a interpretação da passagem.

Isaías III nos apresenta uma comparação que destaca o papel fundamental da palavra de Deus para que se verifique a eficácia de sua obra ou ação. A palavra de Deus é então a chuva que torna fecundos até mesmo os terrenos mais áridos e duros. Descreve-se o ciclo completo da água, desde sua precipitação como gotas nas nuvens, passando para a sua ação benéfica no terreno cultivado, até seu retorno ao céu, pronta para recomeçar novamente seu ciclo. De forma semelhante a palavra de Deus, que parte veloz da boca de Deus, torna fértil o campo cultivado e realiza a missão para a qual foi enviada.

O evangelho de Mateus complementa esta imagem tão poderosa e sugestiva com a 'parábola do semeador'. Nesta parábola os elementos decisivos são a excelente qualidade da semente e a disposição do terreno. O semeador lança uma semente de excelente qualidade e o faz com a generosidade e esperança de quem ama seu campo de cultivo. Não poupa esforço nem sementes; lança-as inclusive em lugares aonde não caberia esperar nenhum resultado já que seu interesse não é conservar mas esperar que essa semente faça frutificar todos os setores de seu campo. O terreno responde de diferente maneira conforme a 'qualidade' da terra.

A interpretação da parábola que aparece na seguinte seção do evangelho, nos dá umas chaves poderosas de compreensão. A disposição do terreno refere-se à atitude das pessoas. Algumas se deixam cultivar e oferecem uma terra apta onde a semente lança raízes profundas.
Outras oferecem terrenos onde a semente se perde por excesso de dureza, por descuido, superficialidade ou negligência.
Tanto o grupo representado pelos bons terrenos, como o grupo representado pelos terrenos não receptivos, fazem parte do mesmo campo. Os dois estão na mesma geografia, na mesma história e no mesmo momento.

Esta parábola refere-se a uma realidade da comunidade cristã. Na comunidade encontram-se pessoas, com diferentes atitudes e projetos. Não se pode saber de antemão que resposta vai dar cada uma. A única coisa que se sabe é que o semeador reparte com generosidade sua fértil semente. No desenvolvimento do processo do cultivo sabe-se quem é e quem não é apto. Não baseando-nos, porém, em critérios arbitrários, mas no fruto que cada qual mostra. A expressão 'dar frutos' tem um valor muito preciso na Bíblia e se refere sempre à resposta positiva do ser humano ao projeto de Deus. Porém, não a qualquer projeto apresentado em nome de Deus, mas à proposta dos profetas que Jesus de Nazaré chamou de 'reino de Deus', ou seja, uma experiência humana onde seja possível o amor solidário, a liberdade para fazer o bem e a justiça.

Certa uma pessoa me disse o seguinte, depois do culto. “Pastor, muito se prega sobre o amor e a solidariedade, mas as desigualdades continuam a crescer em todo o mundo. A sociedade está cada vez mais dividida. No passado estava dividida numa luta de classes entre ricos e pobres. Hoje os conflitos sociais tomam cada vez mais a forma de racismo, de ultranacionalismo, de sexismo, de rivalidades esportivas e religiosas, de xenofobia, de homofobia. Parece que não está adiantando muito falar de Deus nesse mundo de hoje.”

Essa pessoa tem grande parte de razão. Mas nessa parábola do semeador Jesus nos chama para a persistência, para manter o pensamento positivo.
Quando a gente se propõem a fazer uma coisa – a gente se pergunta: Quais são as probabilidades que isso dê certo?
Vejam: Jesus conta uma história onde 75% do esforço e da semente se perdeu. Mesmo que 75% das sementes não produzam frutos, é preciso continuar lançando a boa semente. Mesmo que a maior parte do nosso esforço seja em vão – e que tenhamos muitas razões para desanimar, nos frustrar e sentir vontade de abandonar o barco, – mesmo assim, Deus nos diz: a semente lançada não voltará vazia.

Essa parábola anima-nos a arriscar, a tentar coisas novas, a não nos desanimar com o contexto e nem nos preocupar tanto com a necessidade de um resultado. O que Jesus nos pede é confiança, porque acima de tudo, Deus está agindo. O importante aqui é compreender que somos apenas parte de um processo. A nossa parte é somente lançar as sementes. O processo de crescimento e de produção de frutos – essa é a parte de Deus. Cedo ou tarde, elas brotarão, e essa é a esperança que nos move.

Por isso, nos momentos de falta de resultados, quando o desânimo invadir a nossa alma, Jesus nos diz: No campo do mundo tu és um semeador(a). Não podes fugir da responsabilidade de semear. Não digas que o solo é áspero, que não chove frequentemente, que o sol queima, ou que a semente não serve. Não é tua função julgar a terra e o tempo, tua missão é semear.

A semente é abundante! Um pensamento, um sorriso, uma promessa de alento, um aperto de mão, um conselho, um pouco d´água são sementes que germinam facilmente. Não semeies, porém, de qualquer jeito como quem cumpre uma missão desagradável! Semeia com interesse, com amor, com atenção, como quem encontra nisso o sentido da vida!

E ao semear, não penses: Quanto receberei? Quanto demorará a colheita? Recorda que não semeias para enriquecer, aguardando o ganho multiplicado; semeias porque não podes estar inativo, porque não podes viver sem dar, porque não podes servir a Deus sem servir aos demais!

Semeia! Tua semente não cairá no vazio. Sem esperar recompensa, receberás recompensa; sem esperar riquezas, enriquecerás; sem pensar em colheita, teus bens se multiplicarão. E tudo porque semeias num Reino onde dar é receber, onde perder a vida é encontrá-la, onde desgastar-se servindo é aumentar. Semeia sempre, em todo o terreno, em todo o tempo, a boa semente com amor, com interesse, como se estivesse semeando o próprio coração. Sê, pois, um semeador(a).

A parábola do semeador põe-nos em contato com a profecia consoladora de Isaías. A palavra de Deus age na história humana, nas pessoas que cultivam o amor solidário, a escuta atenta do irmão e o serviço generoso e desinteressado aos excluídos. A palavra de Deus faz-se fecunda nas comunidades e pessoas que assumem uma atitude responsável perante a história e não permitem que a 'boa nova do Evangelho' se converta em oferta barata nem em clichê de espiritualizações alienantes e supérfluas, mas que fazem de tudo para que a palavra do profeta seja eficaz na história.

É nos momentos de escuridão que devemos ser luz. É nos tempos de injustiças, de corrupção que somos chamados a falar profeticamente em defesa dos valores éticos. Deus precisa que seus filhos e filhas sejamos terra boa, onde a boa semente pode produzir frutos.
Desta maneira a graça de nosso Senhor Jesus Cristo, o amor de Deus nosso Pai e a comunhão do Espírito Santo estão presentes no meio de nós. Amém.
 

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