É comum ouvirmos pessoas, afirmando: “Eu mereço”. Ou: “Ele merece.” Quando vemos alguém sofrendo, procuramos esta mesma argumentação: “Ela não merece isso!”
Muitas vezes, ao passarmos por situações de sofrimento, reclamamos, pois julgamos aquele sofrimento algo injusto, não merecido.
Não raro, nos flagramos julgando as pessoas: “Este aí não merece a ajuda. Ele é um vagabundo, preguiçoso. Não vou ajudar aquelas pessoas, pois lá tem pessoas que não merecem ajuda. “. Se não o dizemos em alta voz, pensamos dentro de nós, julgando também o morador de rua: “Você não merece um prato de comida, pois é um drogado, é um viciado.”
Fico a meditar sobre a esta lógica do merecimento: podemos realmente avaliar quem merece e quem não merece ajuda e compaixão? Como isso é diante de Deus? Será que Deus também usa esse critério do merecimento para abençoar, para dar e tirar a vida, para deixar alguém adoecer mortalmente ou para permitir que aquele outro prospere?
Não. Deus não usa o critério do merecimento. Se Deus usar esse critério, estaremos todos perdidos, pois de Deus não merecemos nada. Tudo o que Deus nos dá, não é por merecimento, mas por graça e por amor.
Jesus, ao se encontrar com pessoas famintas, doentes, feridas, ele nunca perguntou: “Você merece este alimento? Você merece a cura e o perdão que te posso dar?”. Ele simplesmente estendia-lhes as mãos e ajudava, curava, alimentava, perdoava.
Vejamos o conteúdo da parábola do “trigo e do joio”. Essa parábola vai contra qualquer lógica de merecimento. Trigo e joio recebem, compartilham as mesmas dádivas do seu Agricultor. Ouçamos a leitura (vejamos o texto de Mt 13.24-30):
24 Propôs-lhes outra parábola, dizendo: O reino dos céus é semelhante ao homem que semeou boa semente no seu campo; 25 mas, enquanto os homens dormiam, veio o inimigo dele, semeou joio no meio do trigo, e retirou-se. 26 Quando, porém, a erva cresceu e começou a espigar, então apareceu também o joio.
27 Chegaram, pois, os servos do proprietário, e disseram-lhe: Senhor, não semeaste no teu campo, boa semente? Donde, pois, vem o joio? 28 Respondeu-lhes: Algum inimigo é quem fez isso. E os servos lhe disseram: Queres, pois, que vamos arrancá-lo? 29 Ele, porém, disse: Não; para que, ao colher o joio, não arranqueis com ele também o trigo. 30 Deixai crescer ambos juntos até a ceifa; e, por ocasião da ceifa, direi aos ceifeiros: Ajuntai primeiro o joio, e atai-o em molhos para o queimar; o trigo, porém, recolhei-o no meu celeiro.
Vejam como o dono da plantação de trigo é generoso e bondoso. O Dono da plantação de trigo não privou as plantas nem das chuvas, nem do sol, nem mesmo de frio e calor. Ele permitiu que no meio desta plantação crescesse um mato feroz que era o joio. Deus poderia ter pensado: “não vou deixar que o joio cresça, se beneficie das bênçãos que derramo sobre a plantação de trigo”. Se Deus tivesse privado o joio da chuva, ele teria eliminado o joio, mas também teria acabado com a plantação de trigo.
Deus não usa o merecimento como crivo para decidir sobre os benefícios que estende ao ser humano.
Ora, se Deus não usa o critério do merecimento, no que nos baseamos para usá-lo o tempo todo em nossas vidas?
Que Deus siga tendo misericórdia da humanidade, de cada um/a de nós, e não nos julgue conforme achamos que merecemos, pois no merecimento não existe nem graça e nem amor.