Fórum de Musicistas da IECLB
Porto Alegre, 02-04 de novembro de 2012
Mensagem do I Fórum de Musicistas às comunidades da IECLB
Numa iniciativa inédita e há muito aguardada no meio musical da IECLB, ocorreu o I Fórum de Musicistas. Pensar o serviço musical nas comunidades, e não somente o fazer musical propriamente dito (muitas vezes de forma solitária, desconectada ou irrefletida), era o desejo das 52 pessoas participantes. A partir das discussões e palestras, apresentam neste documento uma mensagem às comunidades e à IECLB como um todo, levantando e propondo caminhos para uma melhor execução do serviço musical. Diferentes aspectos do serviço musical são aqui abordados.
►Musicistas estão integrados e integradas na comunhão dos santos, a Igreja, e colocam-se diante desta, como membros do corpo. O corpo é um só, mas tem muitos membros, com diferentes funções (I Coríntios 12). Sabedores das peculiaridades de nossa parte no todo da Igreja fomos desafiados a repensar nossos propósitos e mesmo nossos paradigmas.
A música é um bem e legado precioso da tradição evangélico-luterana. Necessita de constantes cuidados; o resultado do cuidado com o corpo se reflete na voz da comunidade. A música está a serviço da comunidade, com a função primordial de apontar para além de si mesma – para a glória de Deus e a paz e justiça no Mundo. Para que possam executar o serviço musical adequadamente, musicistas apresentam para a Igreja, em suas diversas instâncias, reflexões e indicações, mas também apontam demandas pertinentes ao seu serviço.
Antes de sermos musicistas, somos batizados e batizadas, chamados e chamadas por Deus para fazer parte do sacerdócio geral de todas as pessoas que creem. Nós, musicistas, queremos colaborar com nosso serviço; mas é necessário saber COMO este se organizará, lembrando que na história da IECLB há musicistas (voluntários) amadores e profissionais – pensemos que não há somente uma modalidade de trabalho, mas múltiplas!
Há diferenças de responsabilidades entre musicista que toca eventualmente e aquelas e aqueles que conduzem a vida musical de uma comunidade de maneira regular e constante.
►Somos chamadas e chamados por Deus para o serviço eclesiástico através da música. Partindo do preâmbulo do Estatuto do Ministério com Ordenação, percebe-se a necessidade de definir um mínimo de diretrizes em relação aos espaços de atuação de musicistas no âmbito do Ministério Compartilhado da IECLB, especialmente no que concerne a musicistas permanentes. Para tanto, a criação de diretrizes (seja em forma de estatuto, regimento, ou qualquer nome técnico para isto) auxiliará musicistas na sua atuação profissional ou voluntária, além de promover demandas também no sentido da formação. Por isso, faz-se necessário, mais adiante, colocar no papel (criar diretrizes para) um protótipo de identidade de musicistas que atuam na IECLB (dentro de uma perspectiva que nos unifique, e não que nos uniformize). Necessitamos de organização da vida musical em comunidades, paróquias, sínodos e nacionalmente.
► Por ser a atividade de musicistas serviço à Igreja, entendemos que a liderança a ser exercida permite que a comunidade oficie a instalação em culto ao/à musicista. Esta terá apenas caráter de distinção de tarefas e referência, não apontando para uma elevação de categoria.
► Comunidades e musicistas devem buscar as formas da lei para reconhecimento de vínculo formal, já que musicistas estão inseridos no contexto comunitário e são subordinados à instância que os contrata e instala. Para tanto, que se busquem e possibilitem continuamente condições dignas para o trabalho, também e mesmo no voluntariado.
► Espaços musicais comunitários inserem-se de forma plenamente satisfatória na proposta de uma educação cristã contínua, no decorrer de toda a vida. Salientamos que as atividades em grupo (encontros-ensaio) e individuais exercem papel formador através de suas dinâmicas, vivenciando espontaneamente o que o PECC (Plano de Educação Cristã Contínua) preconiza. São espaços de partilha, aprendizagem e troca de saberes, que também se prestam a uma avaliação processual. Entender esse potencial e trabalhar com intencionalidade formadora, permitindo e fomentando a participação ativa de todas as pessoas da comunidade, é uma das tarefas principais de musicistas em contexto comunitário.
A música faz missão sob a perspectiva de que a igreja é reconhecida através e pela música que faz. Neste sentido faz-se necessária a revitalização e revalorização da música e da educação musical para crianças, adolescentes e jovens, pensando em uma perspectiva musical contemporânea, crescentemente urbana, e uma linguagem contextualizada da teologia luterana. A música é um caminho importante e mesmo essencial para a permanência dos jovens dentro da igreja.
► Reconhecemos que há musicistas atuando com diferentes formações e não se busca uma uniformização. Não existe na IECLB uma formação específica e acadêmica para a música sacra. Concluímos que devemos amplamente incentivar que os musicistas busquem uma formação musical formal, o mais ampla possível, sem atrelá-la a uma instituição específica ou com vínculo confessional. Por outro lado, entendemos que é função e papel da Igreja oferecer formação teológica e litúrgica aos seus musicistas para atuação no contexto comunitário. Portanto, sugere-se a continuidade dos cursos de extensão (conforme o modelo O/A musicista e o ofício da Música na Igreja), e que se estude a viabilidade de transformá-lo em pós-graduação, específica para o serviço eclesiástico.
► O canto comunitário é o momento em que a comunidade participa ativamente do culto, não devendo os que o conduzem fazer PELA comunidade, mas COM ela. O canto carrega a própria PALAVRA. Para tanto, é necessária percepção e sensibilidade para favorecer a participação de todas as pessoas. Os condutores são os modelos vocais para a comunidade, e precisam ser preparados para tal. É salutar ainda buscar conexão entre canto, liturgia e prédica, considerando a confessionalidade.
► Sobre o trabalho dos organistas, pode-se dizer que a melhor forma para manter um instrumento é o seu uso. Encorajamos vivamente as comunidades que possuem instrumentos a fazer uso frequente, dando atenção à sua manutenção e buscando assessoria responsável em eventuais projetos de restauro.
A condução do canto comunitário sempre foi, na tradição evangélico-luterana, o foco de todo acompanhamento instrumental, sendo o órgão o instrumento que mais contribuiu nesta tarefa. A conscientização do valor da música na comunidade e nas famílias pode ser promovida por meio do oferecimento de formação para musicistas que se preparem para acompanhar e conduzir o canto da comunidade. A atividade organística é uma chance de abrir a comunidade para pessoas de fora. A organização de séries de concertos também é uma forma de promover esta abertura.
► O canto coral está ligado à tradição musical luterana e possui importante função na vida celebrativa das comunidades. O trabalho do regente é com pessoas voluntárias (coralistas, coristas ou instrumentistas). Nesse contexto, o regente também possui o papel de educador musical, sendo assim corresponsável pela qualidade da música na igreja. Dele se requisitam o conhecimento teórico musical, teológico, técnico, o agir como líder (sensibilidade) e o conhecimento do meio em que vive. Trabalha na busca da excelência, numa perspectiva de formação contínua.
A partir do I Fórum de Musicistas, e por perceber a premência de discussões não contempladas nesse momento, o grupo reunido em Porto Alegre opta pela criação de uma Rede de Musicistas na IECLB, espaço e local de discussões pertinentes àquilo que primeiramente é um ofício (e não apenas um dom), o serviço musical na igreja. Esta rede buscará congregar lideranças musicais nos diferentes contextos, chamando-as à reflexão conjunta de uma política musical para a IECLB. Para tanto, sugere-se a realização de simpósios e fóruns, onde se possibilite tanto a troca de experiências práticas, quanto a reflexão teórica.
Participantes do
I Fórum de Musicistas da IECLB
Realizado de 02 a 04 de novembro de 2012 em Porto Alegre - RS