Mensagem da Presidência sobre Unidade - 1986

01/09/1986

Volto a lhes dirigir a palavra em carta pastoral, depois de decorrido algum tempo desde a minha última manifestação. Tenho recebido muitas reações às primeiras duas cartas, mostrando-me que a iniciativa é válida. Por toda resposta agradeço, reafirmando mais uma vez ser o meu endereço um canal aberto para quem, por quaisquer razões, desejar escrever-me. As propostas com relação a possíveis temas destas minhas cartas estão anotadas e, dentro das possibilidades, serão atendidas. Envio-lhes minhas fraternais saudações acompanhadas do desejo que Deus lhes dê a Sua graça e a Sua paz.

Hoje pretendo compartilhar uma preocupação que alimento com respeito à IECLB e que se reveste de certa urgência. Refiro-me à diversidade de vozes, posicionamentos e ‘linhas’ em nossa Igreja. Existem conflitos, seja entre pastores, seja entre membros, ou então ente pastores e membros. Talvez a situação seja diferente de lugar para lugar. Mas é nada fácil unir a IECLB em torno de um só testemunho, e, não raro, as comunidades estão confusas com o discurso divergente de seus pastores. Por isto, não são poucos os que manifestam sua inquietude e esperam da direção da Igreja uma palavra orientadora.

De fato, a pluralidade na IECLB merece o nosso cuidado. Existe uma pluralidade legítima, proveniente da diversidade dos dons do Espírito e que significa riqueza. Mas existe também uma pluralidade ilegítima que divide e acarreta prejuízos para o corpo de Cristo. Como evitar o prejuízo e a perda de credibilidade que necessariamente são a consequência da desunião? Permito-me apresentar alguns pensamentos a respeito.

1. Que existe diversidade de opiniões e posições em nossa Igreja, isto em princípio é compreensível. São numerosas as influências teológicas que sofremos em passado e presente. E, diante dos grandes desafios da atualidade, seria até surpreendente se fôssemos unânimes. Já temos avançado um bom trecho na busca de nosso caminho próprio como IECLB em nosso País, Mas muito ainda temos a fazer. Principalmente devemos esforçar-nos pela unidade.

2. Para tanto, dispomos de dois critérios orientadores básicos que são a Bíblia e a confissão luterana. Diante deles devemos responsabilizar as nossas posições. É claro que a prioridade cabe à Bíblia. Mas importa que seja lida em seu conjunto. A leitura seletiva divide e é a origem das seitas. Para que isto não aconteça, insistimos em nossa confissão luterana que, antes de qualquer coisa, significa o compromisso com a leitura integral da Palavra de Deus.

3. O cristão vive no mundo, onde deve aprovar a sua fé. Consequentemente não podem ser excluídos da consideração os assuntos do dia a dia e os desafios que enfrentamos. Deus espera, além da fé, a ação. É porque devemos ter olhos para a nossa realidade e saber o que passa conosco e em volta de nós. É uma condição importante para chegar a um consenso quanto a nossos compromissos concretos. Muitos dos atuais conflitos na Igreja têm sua origem em concepções diferentes quanto à ação exigida pela fé em nossos dias.

4. Todo testemunho cristão, seja em palavra, seja em ação, se reveste de forma muito humana. Temos o tesouro apenas em vasos de barro (2 Co 4.7). Por isto não fugimos da necessidade de justificar nossas atitudes uns perante os outros. Ninguém, exceto Jesus, é a verdade e tem a verdade. Nós somos seus discípulos, gente em contínua aprendizagem. Isto vale para pastores e ‘leigos’. Aliás, conforme a tradição luterana, cabe à comunidade um papel muito importante. Embora o Pastor esteja incumbido da pregação da Palavra de Deus, ele é responsável não só diante do próprio Evangelho. Também o é diante da comunidade e de seus membros. A unidade da Igreja exige que, apesar das divergências, nos respeitemos como parceiros na mesma tarefa e estejamos dispostos a prestar contas de nossa fala e postura.

5. Por isto é preciso argumentar, não simplesmente julgar e decretar. O argumento procura convencer se se dispõe ao diálogo. Evidentemente, dialogar é difícil. A pessoa se dispõe e corre o ‘risco’ de ter que corrigir-se. Diálogo requer a pessoa pronta para aprender. A isto muitas vezes resistimos. Ignoramos as posições divergentes e evitamos o encontro com o oponente. Mas é isto o que entrava o discipulado e provoca desunião. A unidade exige diálogo.

6. Ademais, importa não separar o que no Evangelho está unido. A fé e o amor, a ação e a oração, o esforço humano e a gratidão pelas dádivas de Deus, a responsabilidade social e a piedade individual, a denúncia, a confissão e o perdão dos pecados, a conversão das pessoas e a transformação da sociedade, a esperança por melhoria de vida e por ressurreição dos mortos – tudo isto, e mais, não permite o divórcio. Em boa medida as divisões da cristandade são fruto de uma visão unilateral e mutilada do Evangelho.

Prezadas irmãs e irmãos! Tomei a liberdade de lhes externar a minha preocupação com relação à pluralidade na IECLB. Não deveríamos querer transformá-la em uniformidade. Esta é estéril e não estimula. Nossa Igreja sempre deveria reservar espaço para diferenças de posição. Nem mesmo conflitos poderão ser evitados. Mas devemos trabalhá-los e cuidar para que a pluralidade seja dinâmica, não exclusivista. Unidade não é apenas um assunto ecumênico. É também um compromisso interno das Igrejas. Importa buscar o mesmo Espírito, cujas manifestações são diversas e, ainda assim, cooperam para o mesmo fim.

O que lhes expus são pensamentos muito preliminares. Outros esforços deverão seguir. Entendo, porém, que o problema é de nós todos e que somente em conjunto podemos resolvê-lo. Rogo a Deus que nos dê a Sua ajuda.

Fraternalmente,

Gottfried Brakemeier
Pastor Presidente
 

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