Jesus Cristo quer que os seus discípulos sejam um (João 17,21), servindo com seus diferentes dons uns aos outros, como membros do mesmo corpo (Rm 12,3ss; I Co 12,3ss...). Infelizmente, a cristandade, em sua história, não soube preservar sua unidade, fracionando-se em grande número de Igrejas e denominações. Forças de separação sempre atuam onde pessoas convivem. Mas a Igreja deve resistir-lhes, procurando manter, readquirir ou intensificar a comunhão visível, na qual é chamada a viver.
Dentro dessa preocupação, o Conselho Diretor da IECLB, juntamente com vários convidados especiais, pastores e leigos, realizou um retiro no Lar da OASE em Camboriú, de 14 a 18 de abril de 1980, sob o tema: Nossa unidade na pluralidade. Vivemos uma situação que submete a nossa unidade a uma prova especialmente dura: a diversidade de tradições, de expressões religiosas, de posicionamentos diante dos desafios sociais e políticos da nossa sociedade, além de outros fatores, conduziram e conduzem a tensões não só individuais, mas também grupais na nossa Igreja. Em Camboriú nos ocupamos prioritariamente com as diferentes articulações da fé, sem dúvida existentes entre nós e levantando a pergunta pelo que, afinal de contas, nos une como IECLB. Foi uma boa experiência. Ela abriu perspectivas, revelou-nos a importância de tais encontros e nos encorajou a prosseguir no caminho iniciado.
Cremos que tal esforço é necessário em muitos níveis da nossa Igreja. É necessário ouvir e falar com o outro que não compartilha exatamente a mesma maneira de crer e pensar. É mais necessário ainda refletir as nossas perguntas e os problemas da atualidade à luz do Evangelho, em busca de respostas comuns. Não se trata de abafar o Espírito Santo (I Ts 5,19) ou de reprimir a pluralidade dos carismas, característica do corpo de Cristo. Não estamos pretendendo uma uniformidade que, em última instância, é estéril. Queremos, isto sim, uma pluralidade que sabe conviver, aguentar tensões e que aprofunda a compreensão do Evangelho.
Para alcançar este objetivo melhor do que o temos conseguido até agora, convidamos a todos, pastores, leigos, comunidades, instituições e departamento da nossa Igreja, a buscar o diálogo fraternal e a refletir conjuntamente as Sagradas Escrituras, as bases confessionais e a missão da nossa Igreja dentro da realidade em que vivemos. Em Camboriú foi dado um início. Ele precisa ser levado adiante e traduzir-se em outras iniciativas congêneres.
Em vez de agredir, devemos esforçar-nos por compreender. Em vez de fecharmo-nos em nós mesmos, devemos aprender uns dos outros. Em vez de temer, devemos arriscar conflitos, certos de o Espírito Santo ser capaz de superá-los. Em vista dos grupos que se haviam formado em Corinto, Paulo lançou a pergunta: “Acaso Cristo está dividido?” (I Co 1,13) É pergunta atual, também para nós.
Porto Alegre, 06/05/1980
Augusto Ernesto Kunert
Pastor Presidente p/Conselho da Igreja