Na última reunião dos Pastores Regionais falamos, entre outras coisas, da ordem litúrgica em nossa Igreja. Escrevo-lhes por solicitação expressa dessa reunião, compartilhando a preocupação externada na oportunidade.
A liturgia de nossos cultos pode ser não a melhor. Existem esforços por adaptá-la ao nosso contexto brasileiro e por recuperar as riquezas da tradição litúrgica luterana. Estes esforços deverão ser intensificados no futuro. Sabemos também que vários modelos litúrgicos estão em uso em nossa Igreja. Não é este o problema. O que preocupa é antes o descaso que se verifica em não poucos casos com a ordem litúrgica em vigor, respectivamente a desvalorização da liturgia em geral.
Por isto lembramos que a liturgia é expressão de uma teologia. Todas as partes têm o seu sentido e, em seu conjunto, perfazem o culto. Aplica-se isto também, e em especial, à liturgia dos sacramentos. A forma de sua celebração evidencia seu sentido. Inclusive a prédica nada mais é do que um elemento litúrgico do evento cúltico. Mudanças na liturgia, pois, exigem critérios teológicos claros. Não deveriam ser arbitrárias. Caso contrário, prejudicaremos a natureza de nossos cultos e a sua qualidade evangélica.
Da mesma forma é preciso respeitar que a liturgia identifica nossa Igreja. Se os cultos seguirem ordens sempre diferentes, nossos membros se tornam confusos. O argumento de que o membro não se identifica com a liturgia é de validade muito restrita. É verdade que muitas vezes falta a compreensão por falta de explicação. Compete a nós pastores interpretar as partes do culto e esclarecer, por exemplo, por que na celebração não podem faltar a confissão dos pecados, a leitura bíblica ou então as palavras da instituição na santa ceia. Seria bom se o sentido do culto e a ordem litúrgica fossem mais trabalhados em nossas comunidades. Somente o que conhecemos podemos realmente amar.
Aliás, aproveito a oportunidade para expressar mais um pedido. Também o talar é símbolo de identificação. Seu uso evidentemente não implica salvação ou perdição. Tampouco garante a boa e pura pregação do Evangelho. Mas ele assegura a celebração condigna. Além disto, evidencia o compromisso do pastor ou da pastora de não falar e agir em qualidade particular, mas sim como alguém oficialmente encarregado e responsabilizado. Disse-me um colega certa vez que o talar encobre misericordiosamente nossa indignidade. É sinal da autorização para pregar a palavra de Deus apesar do nosso pecado. Considero isto um pensamento muito profundo. Sob esta perspectiva, quem se arrisca a oficiar sem o talar?
Portanto, peço não desprezar o talar nem substituir o oficialmente em uso por outro de escolha própria. Seguir ordens da Igreja representa, além de outros considerandos, uma exigência do amor às comunidades.
Desejo-lhes a bênção de nosso Senhor e alegria no exercício de nosso ministério
Fraternalmente,
Gottfried Brakemeier
Pastor Presidente