Melhorar?

19/03/2008



- “... o mundo não melhora nada, Marga... Deus transforma!” - A frase dita há mais de 20 anos por meu orientador de estágio, ainda hoje ecoa em meus ouvidos. Eu havia preparado a alocução para um enterro, e falara sobre a “segura e certa” esperança em dias “melhores”. A diferença entre “melhorar” e “transformar” se torna ainda mais perceptível diante da morte e seus sinais.

Nesta última semana da “Paixão”, é comum já querermos “melhorar” os dias falando da Páscoa. Nada como já identificar o sabor do chocolate antes da Sexta-Feira Santa. Há quem identifique o “feriadão” com mais um “carnaval”, ou ainda, quem sonhe com dias de folga. Nossos desejos são de “melhorar de vida”, tirar “melhores notas”, ser “melhores amigas”. Melhor afastar pensamentos “negativos”. Diante da doença que se alastra, da falta de zelo com o mundo, da miséria imposta à gente igual à gente, diante da irritação cotidiana com a obra de Deus, desejamo-nos “melhores” dias, “melhoras” para qualquer situação... E vamos tentando “melhorar” o mundo.

Cristo mostrou mesmo que a vida precisa ser cuidada em cada gesto. A morte do nosso Deus denuncia o quanto cada um, cada uma de nós, contribui com a morte em nosso dia a dia, o quanto nos atemos em “melhorias” e esquecemos da “transformação”.

Em vez de colaborarmos com a Vida, vamos colaborando com nossos bolsos, com nossa família, com instituições “nossas”, com gente que conhecemos e que submetemos ao nosso juízo. Em vez de colaborarmos com a Vida, negociamos a mudança de algumas paredes, achando que extrapolamos os limites de onde residimos.

Ora, Deus denuncia nossa sede de festa e poder, nossa sede de esquecer dificuldades, nosso ímpeto de “ir com a multidão” para escondermo-nos no anonimato. Deus denuncia até os gestos “bondosos” de quem lhe enxuga o rosto ou ajuda a carregar o madeiro. No caminho da morte não há “melhora” possível, não há milagre mesmo que seja pedido. No caminho para a morte há somente morte.

É nessa semana, anterior à Páscoa, que não se pode fugir do auto-exame: qual a “minha” contribuição à morte? Qual a contribuição dos sistemas de “melhoria” que apoiamos e que não trazem transformação - Vida nenhuma?

Vida dada por Deus dignifica a Vida cotidiana quando celebramos, partilhamos cura e zelo, quando enfrentamos injustiça e descaso, quando desistimos de “melhorias” para que o mundo seja transformado por Deus. Por enquanto, podemos sim, denunciar a morte e seus sinais. É ainda Tempo da Paixão. A “segura e certa esperança da Ressurreição” nos dá a estranha coragem de enfrentar dias, situações e esquemas tão cruéis.

Margarete Emma Engelbrecht, Pastora da IECLB em Niterói / RJ


Autor(a): Sínodo Sudeste
Âmbito: IECLB / Sinodo: Sudeste
Natureza do Texto: Pregação/meditação
Perfil do Texto: Meditação
ID: 8354
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