Meditação no Lar | Quarta-Feira de Cinzas

12/02/2021


Quarenta dias antes da Páscoa! Lockdown. Verdadeira quarentena; “recolhimento” antes de uma “vida nova”... Desafios! Quarenta foram os dias de duração do Dilúvio. Provações! Durante quarenta anos, o Povo de Israel peregrinou pelo deserto, rumo à Terra Prometida. Quantas perguntas! Também Jesus esteve no deserto, por quarenta dias e quarenta noites, e ali foi tentado pelo mal. Quem de nós já não passou por provações?!

Desertos lembram circunstâncias difíceis, lugares esquecidos, ruínas, cinzas... E cinzas são restos; aquilo que sobra, pó. Elas são o mais evidente retrato da conhecida descrição: “do pó viemos e a ele voltaremos!” (Eclesiastes 12.7). Afinal, “formou Deus ao ser humano do pó da terra e lhe soprou nas narinas o fôlego de vida” (Gênesis 2.7), mas lembrou-o, logo em seguida, de sua condição: “tu és pó e ao pó tornarás” (Gênesis 3.19).

Por isto, é oportuno que, a cada sepultamento, nos seja trazido à memória que não faz sentido uma vida pautada sobre a vaidade e o orgulho: “Terra à terra, cinzas às cinzas e pó ao pó...” – ninguém escapará disto! Daí que a tradição bíblica do Antigo Testamento nos lembra do ritual de “recolher-se, jejuar, vestir-se de pano-de-saco, raspar o cabelo, jogar cinzas sobre si e prostrar o próprio rosto na terra...” (Jó 16.15, Gênesis 37.34, Lamentações 3.29, entre outros).

Cinzas sempre remetem ao limite e às coisas do fim; portanto, elas são um convite à humildade e à humilhação pessoal na presença de Deus através de introspecção, contrição e arrependimento! Todavia, é sabido que a tradição quaresmal é muito pouco praticada entre nós.

Portanto, queremos propor que recuperemos parte deste hábito. Se possível, pois, tenham ao dispor um tecido cru, um recipiente rústico com cinzas (ou barro/pó), vela...

...Deixem os elementos simbólicos o tempo todo à vista em suas casas, mas, a cada domingo da Quaresma, procurem manter um ritual antes da principal refeição familiar (igualmente pode ser realizado por quem vive só): acendam uma vela; previamente, escolham um texto bíblico (ex: Salmos), ou uma canção, uma poesia, uma oração. Façam um sinal na testa (com cinza ou barro) – pode ser o sinal da cruz ou simplesmente um “traço”, uma marcação.

...De forma muito livre, troquem ideias a respeito da brevidade e da preciosidade da vida; sobre as “quarentenas” pelas quais todas e todos nós passamos; sobre os “tempos cinzentos – literalmente de cinzas” aos quais tantas famílias têm sido expostas nestes tempos de pandemia. Que, ao final, alguém resuma as impressões partilhadas, os receios, propósitos, renúncias em uma oração; e, daí, que saibam abraçar-se e celebrar a vida!

Porque, às vezes, mais parece que nossa história se assemelha a uma “feira de quarentenas e de cinzas” na qual “feirantes e pessoas consumidoras da vida” nem sempre sabem o que poderá vir para os “cestos” de suas memórias... Apenas existe a certeza de que momentos desafiadores e impactantes exigem que sejamos pessoas resilientes e resistentes e que “Deus é conosco!”

Algumas indicações para o diálogo:

1. Na Quaresma, voltamos o nosso olhar ao sofrimento de Jesus, Sua trajetória de lutas, abandono, sofrimentos... De igual modo, somos desafiadas/os a compreender o sentido das próprias tribulações e a necessidade de encará-las com fé, coragem, caráter e esperança...

2. Quarentenas sempre testam nossos limites, nossa integridade e coerência. Normalmente, por exercerem uma impressão muito grande sobre nós, tendem a nos seduzir e nos enganar, para ver se cedemos às tentações e às “curas” fáceis, aos encantos milagrosos...

3. Em Jesus encontramos um exemplo inspirador de quem soube lidar com os “monstros externos e as sombras internas” de sua vida. Ou seja, tempos difíceis e delicados nos esgotam, mas também nos reconciliam com nosso vigor e revelam nossa força escondida/desconhecida (o poder de Deus em nós).

4. Quarentenas e cinzas têm intenções pedagógicas! São também tempos oportunos nos quais poderemos ter “encontro ou reencontro com o sagrado” e ouvir Deus falar... É um tempo de exercício da espiritualidade, da sensibilidade e do aprendizado.

5. Deus nos torna pessoas atentas, vigilantes, orantes, confiantes e sábias, especialmente em tempos delicados, pois é exatamente neste que moram nossos maiores enganos, ciladas e perigos...

6. Entender e interpretar o “mito de fênix” – pássaro da mitologia grega que, ao morrer queimado, ressurge das cinzas... Quantas vezes nós já passamos por restaurações?!

7. A quais atitudes e hábitos queremos nos dispor nesta quarentena, antes da Páscoa chegar?

8. Sugestões de textos de apoio: Lucas 4.1-13; Salmo 90.1-6, 12-17; Salmo 91; 2 Coríntios 4. 7-15.

9. Sugestões de hinos: O Povo de Deus (Livro de Canto da IECLB 580); Dia a dia (LCI 629); Segura na mão de Deus (LCI 612); Se sofrimento te causei (LCI 36).

(Elaboração: P. Ilmar Kieckhoefel - Sapiranga/RS)
 

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Há algo muito vivo, atuante, efetivo e poderoso na fé, a ponto de não ser possível que ela cesse de praticar o bem. Ela também não pergunta se há boas ações a fazer e, sim, antes que surja a pergunta, ela já as realizou e sempre está a realizar.
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