Natal - A Vida a caminho

28/11/2013

Em meio às muitas histórias adocicadas e pouco convincentes sobre o menino Jesus que ouvimos neste tempo de Advento e Natal, convém ouvirmos o que a Bíblia tem para nos falar: Esta conta no início do Evangelho de Lucas a história de uma jovem, chamada Maria, que engravidou de forma inesperada. Ela fica apavorada, foge para as montanhas para se esconder na casa da sua prima Isabel.

Quer esconder a sua vergonha do inexplicável. Ela é noiva de José. Com esta gravidez, a princípio, este noivado está em ruínas. A vida parece estar acabada.

Neste momento a vida de Maria nada tem a ver com a imagem bonita de Maria que está no centro desta página, que é de Beate Heinen, uma artista de origem católica. Parece muito mais com tantas jovens no Brasil dos nossos dias cujas vidas são tolhidas por uma gravidez precoce.
É verdade que Maria sonhou com um anjo que sussurrou ao ouvido dela a mensagem que esta criança será o filho de Deus. Mas não deve ter sobrado muito do sonho a luz do dia. A crise se instala. O novo inesperado desenraíza Maria. Refugiada na casa da prima ela a supera, é rendida pela dádiva da vida. Ao final ela exclama a oração do Magníficat que está carregada com a esperança por uma mudança fundamental da relações do mundo: “Deus derruba do trono os poderosos e eleva os humildes...” (Lc 1,52)

Mas não devemos imaginar esta virada como algo acontecido num passe de mágica. Há um longo caminho das pedras no meio. Maria permanece três meses na casa de Isabel. Mas ao final ela ressuscita e volta para encarar a vida. Ela conquista seu lugar de volta porque enfrenta tudo com fé e coragem e dá assim um sentido ao seu desastre pessoal. Ela redescobre a mensagem do sonho inicial: “O Santo que vai nascer de você será chamado Filho de Deus.” (v. 35)

Acontece também em nossa vida: Acontecimentos que nos arrancam do nosso lugar e nos deixam em crise. A possível virada sempre se dá pela descoberta de sinais da vida em meio ao desastre. Deus escreve reto por linhas tortas. Temos que fazer o nosso caminho das pedras, mas podemos ressuscitar.

Na vida pessoal há muito desenraizamento. O caminho das pedras às vezes parece interminável. Mas podemos ser iguais a Maria e aprender a dar um sentido ao desastre. Podemos até “dar um tempo” mas podemos ter a certeza que Deus implantou dentro de cada pessoa a mensagem do anjo que nos chama de volta para a vida.

No final a imagem bonita da artista há de refletir a nossa vida, a da comunidade, enfim do mundo, porque com o menino que vai nascer a própria vida se pôs a caminho.

Guilherme Nordmann

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