Normalmente o calendário litúrgico não combina com as estações do ano no hemisfério sul. Natal no verão é o melhor exemplo. É tão estranho que historicamente esta festa não teve muito peso no Brasil. Isto só mudou com a imigração europeia mais recente e a força do interesse comercial. Antes era muito mais forte a festa de São João, festa no ponto mais escuro do ano. Celebrar a ressurreição da vida no outono também não combina em nada. Enfim, este calendário foi concebido na Europa imposto aqui pelo colonialismo.
A exceção da regra é o tempo da paixão que começa na Quarta-feira de Cinzas após o carnaval. É o tempo onde nós cristãos lembramos e tentamos sentir o sofrimento de Cristo, o nosso sofrimento na vida, o sofrimento do mundo em geral.
Lembramos que nem tudo é leveza e alegria na vida. Que a cruz não é somente um enfeite ou peça de decoração, mas é uma realidade que, mesmo a contragosto, faz parte da vida.
Fez parte da vida do próprio Jesus, de quem a partir de certa altura da sua caminhada foi exigido um preço alto por sua fidelidade. Assim ele que é filho de Deus desceu aos porões da experiência humana de que tudo na vida tem seu preço. Deus não o poupou.
Como o tempo da paixão cai no início do outono que aqui coincide com um tempo chuvoso, mais escuro, final do horário de verão, surge um ambiente adequado ao tema, enfim, as águas de março...
Tempo que ajuda a entrar no clima. E isto é positivo porque se nossa fé não aprendeu a soletrar a vida com a paixão ela não terá consistência. Isto é uma tarefa nada fácil em nosso tempo que gostaria de pular esta parte, que foge para as promessas da fartura material ou da vida virtual.
Porque precisamos caminhar com Cristo, fazer a ponte entre a trajetória dele e a nossa vida para que percebamos que estamos na mão de Deus justamente nos momentos mais difíceis e que o caminho do sofrimento não é um beco sem saída mas o caminho que termina com a vida que não acaba nunca.
Neste sentido sugerimos que acompanhe os cultos do tempo da paixão para sentir depois a alegria da ressurreição!
P. Guilherme Nordmann