Advento ou "Black Friday" - Uma questão de fé

O anjo disse a Maria: Você ficará grávida e dará à luz um filho, e lhe porá o nome de Jesus. Ele será grande e será chamado Filho do Altíssimo. Lucas 1.31s.

29/11/2012

Foi naquela sexta-feira fim de novembro que tive que ir às 20:30 da noite no supermercado perto de casa porque estava faltando algo essencial em nossa casa. Pensei em entrar e sair rapidamente como normalmente costuma ser naquele horário avançado. Mas desta vez nada feito!

Filas quilométricas apesar todos de os caixas ocupadas. Gente com dois ou três carrinhos trazendo enormes quantidades da alguns poucos produtos. Pareciam fazer estoque até o fim dos tempos...

Peguei nas estantes o que faltava em casa e me dirigi para a fila do caixa. Lá logo fui abordado por outra pessoa porque não estava levando nenhum dos produtos em oferta. “Que oferta?”, respondi, e logo fui questionado: “Mas você não sabe? Hoje é Black Friday” Muitas ofertas imperdíveis!” Para não fazer feio fui então até a estante em questão e peguei uma caixa de leite que enfim sempre precisava em casa. Mas não terminou.

Chegando no caixa a funcionária me abordou sorridente: “Você só está levando uma caixa? O preço está muito bom!” Mas era só esta que queria e pronto.

Tudo isto estava acontecendo em plena decoração de Natal e ao som de música natalina.

Um cenário surreal para a loucura comercial que estava presenciando, mas ao mesmo tempo absolutamente sintomático para o ritmo dos nossos tempos. O tempo de Advento e Natal parece mais com um prolongado Black Friday.

É um tempo que submete todos os aspectos de nossa vida a lógica do mercado de produtos materiais. A este mercado só interessa pisar no acelerador para aumentar o ritmo de vendas.

Desta forma as pessoas são levadas a lidar o próprio Advento de Jesus Cristo e o Natal a partir da perspectiva do consumo. Tudo gira em torno da questão: Que vantagem posso levar ao consumir algo da fé cristã neste fim de ano? Interessa mesmo esperar pela chegada do Deus-Menino?

De qualquer modo o Advento não é um produto que possa ser consumido. É antes disso a uma história que conta como Deus chega a irromper em nossas vidas. É o Deus vivo que se envolve com a nossa história. É o aprendizagem que Deus pode estar escrevendo a sua história conosco em nossas pequenas histórias humanas.

Aconteceu desta forma com Maria que teve que digerir o fato de estar grávida de forma inexplicável e, nos padrões do seu tempo, vergonhosa. Sim tem o testemunho da visita do anjo que fala Maria no sonho: “Você ficará grávida e dará à luz um filho, e lhe porá o nome de Jesus. Ele será grande e será chamado Filho do Altíssimo.” (Lucas 1,31s.) Mas também temos o registro do fato que Maria demorou para assimilar esta grande novidade: Que o filho indesejado dela era o filho de Deus.

Ela se refugiu na Montanha na casa de sua prima: “Naqueles dias, Maria preparou-se e foi depressa para uma cidade da região montanhosa da Judéia, onde entrou na casa de Zacarias e saudou Isabel.” (Lucas 1,39s.) Maria precisou ficar por um bom tempo reclusa para se preparar para a chegada de Deus: “Maria ficou com Isabel cerca de três meses e depois voltou para casa.” (Lucas 1,59)

Ela volta para a vida dela com a certeza que é o próprio Deus chega justamente pelo avesso da vida dela. E na noite de Natal ela dá a luz Jesus com toda dignidade.

Então nada de Black Friday prolongado neste Advento, mas muito mais um tempo para escutar a voz de Deus sobre a nossa vida. Pode muito bem ser que ele busca um acesso justamente lá onde temos dificuldade de nos aceitar, nas fraquezas e adversidades. Ele chega bem quietinho e facilmente deixamos de percebê-lo no agito destes dias.

Advento é isto: Sentir na consciência dos nossos limites e da nossa dor Deus se aproximando querendo caminhar conosco. Deus que se prepara para irromper de forma toda peculiar. Que finalmente chega ao nosso coração na figura do Menino Jesus no Natal. Um chegada preparada com tempo e calma.

Convido para experimentarmos este verdadeiro sentido do Advento na reflexão, no louvor, na música, na oração em nossos cultos e celebrações neste tempo todo especial.
 

P. Guilherme Nordmann

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