Mateus 9.35-38 - Trabalhadores para a seara

Prédica

04/10/1959

TRABALHADORES PARA A SEARA
Mateus 9.35-38 

Aquele, em cujo nome estamos aqui reunidos, como acabamos de ouvir, percorria todas as cidades e povoados, ensinando e pregando o evangelho do reino e ajudando em todas as necessidades. E por através de todos os séculos até os nossos dias Jesus Cristo jamais deixou de fazê-lo. Todo o ensinar e pregar, todo o ajudar e salvar em seu nome tem sentido e razão de ser somente na expectativa que Jesus Cristo também hoje continua a sua obra. Para isto Ele instituiu a sua Igreja, não para que ela se colocasse em seu lugar ou se dedicasse a tarefas de sua própria escolha, mas para que lhe servisse, para que Ele mesmo pudesse por ela realizar a sua obra. :2 dessa fé que emana o ato, para o qual hoje aqui nos reunimos: a inauguração deste novo, magnífico edifício de nossa Faculdade de Teologia. Esse ato como fundamento só pode ter a fé que Jesus Cristo quer realizar a sua obra também hoje e aqui entre nós, sim, que Ele quer percorrer também todas as nossas cidades e povoados para ensinar e pregar o evangelho do reino e curar toda a espécie de enfermidades. Essa é a obra de Jesus. E por causa dessa sua obra, para servir ao Senhor Jesus Cristo, foi edificada esta casa. 

E esse fato, a conclusão desse edifício, é para nós e para todos que se sabem irmanados conosco motivo de grande regozijo e profunda gratidão, e faz deste dia um dia festivo e decisivo para a nossa Igreja. Podemos dizer, e o fazemos com gratidão para com Deus, o Senhor da Igreja, que para a realização dessa obra se uniram todas as forças em todas nossas comunidades, do sul ao norte do País; jovens e velhos, irmãs e irmãos puseram mãos à obra; tornou-se visível, de um modo não imaginado, o sentimento de responsabilidade e solidariedade existente em nossas comunidades pelo todo da Igreja. E a nossa gratidão para com todos que incansáveis juntaram tijolo a tijolo, para que fosse construído esse edifício principal da Faculdade de Teologia recebe o seu verdadeiro sentido pelo saber que é ao Senhor Jesus Cristo mesmo que devemos este dia: Ele abriu corações e mãos de todos para a sua obra; e Ele hoje nos concede pormos essa casa á sua disposição. 

Pode-se fazer, e foi feita, a pergunta, por que a nossa Igreja não teria providenciado muito mais antes, já nos começos de sua história, pela criação de uma Escola de formação de pastores. De fato: nossos pais, já nos primeiros pastores há 100 e mais anos estavam inteiramente cônscios da necessidade da criação de uma possibilidade, para que filhos de nossas comunidades pudessem formar-se pastores da Igreja. Se não o fizeram — um dos principais motivos terá sido o fato que o conceito que tiveram de uma Escola de formação de pastores era tão elevado que em consideração às possibilidades de nossa Igreja naqueles dias não ousaram fazê-lo. E nós que hoje já temos como realidade diante de nós esta Faculdade — dela não teremos conceito menos elevado. Sim, graças a Deus: ela aqui está como realidade. Mas: Deus nos guarde a nós e a nossa Igreja em todos os tempos de pensarmos ter com isso garantido a formação de pastores, a pregação do evangelho entre nós. 

Em verdade: grande é a nossa gratidão e alegria por podermos hoje pôr ao serviço da Igreja esta casa, para que sirva justamente a garantir a pregação do evangelho entre nós. Mas, o fazemos em nome de Deus, do qual confessamos que dele vem todo o nosso auxílio. Todo o nosso fazer, também neste dia, realmente seria em vão, se não pudesse ser feito em nome deste Deus, ao qual podemos dizer: Sim, tu és o nosso auxílio, e sob as sombras de tuas asas regozijamo-nos. Em nome de Deus — isso quer dizer: por sua ordem e vontade e com a súplica e certeza de que Ele benignamente aceitará o que fazemos — sim, que Ele nos seja benigno e favoreça a obra das nossas mãos. 

Pois é a sua própria obra, à qual será dedicado o trabalho a ser feito nesta casa: formar ministros da palavra de Deus, pregadores do evangelho — isso não é possibilidade humana; isso só pode ser empreendido na fé, que é a fé da Igreja, que Jesus Cristo é o vivo e presente Senhor, que também hoje chama homens a seu serviço e ainda hoje os envia, para que em seu nome ensinem e preguem o evangelho e atuem, e com tudo isso se demonstrem como testemunhas da misericórdia, da qual vivem. Trata-se, pois, no ministério do verbo divino não deste ou daquele interesse, em si talvez nobre e bom, mas trata-se restritamente deste testemunho de Jesus Cristo: que Ele mesmo o torne legítimo e verdadeiro também aqui entre nós como o tem feito naqueles dias percorrendo cidades e povoados, ensinando e pregando o evangelho e compadecendo-se do povo.

Ouvimos que Jesus vendo as multidões se compadeceu delas, porque estavam aflitas e exaustas como ovelhas que não têm pastor. E é por causa dessas multidões, para que não sejam mais aflitas e exaustas, mas consoladas e guardadas por terem agora o pastor, que as reúne, protege e sustenta, é que veio Jesus Cristo; por causa dessas multidões Ele mesmo se entregou à mais profunda angústia e aflição, padecendo exausto na cruz; e por causa dessas multidões Ele, o vivo e presente Senhor, quer e ordena seja anunciada em todos os tempos a boa nova de que já veio o pastor que reúne o seu rebanho. Sempre para Ele se trata dessas multidões, para que elas tornem a ser o povo de Deus. E é para essas multidões que existe no mundo a Igreja. E assim também para ela, de toda a sua atuação, a precípua e central tarefa, à qual tudo o mais estará subordinado, será esta de fazer tudo para que também hoje e entre nós a sua palavra alcance as multidões, a palavra, pela qual Ele mesmo quer reunir a sua grei, a comunidade daqueles que, vencidos por essa palavra, sim, vencidos por Cristo mesmo, confessam jubilosamente: Jesus Cristo é o meu Senhor.

E é por causa desta tarefa que tem sua existência esta Faculdade de Teologia: para que o evangelho de Jesus Cristo alcance as multidões. 

As multidões — são o povo, é o mundo, em que vivemos — e de que poderia Ele ter maior necessidade do que do evangelho de Jesus Cristo? Aflito e exausto — certamente o mundo assim não veria a sua própria situação. Mas Jesus Cristo assim a vê. E por isso ordena que seja dito a este mundo o evangelho: que não existe mais a fatal necessidade de viver uma vida sem sentido e finalidade, porque já veio Aquele que pode dar-lhe verdadeiro sentido, Jesus Cristo. E por isso existe a sua comunidade em meio do mundo. n a este mundo que foi enviada. E por isso há de se perceber nela e em toda a sua atuação que o Senhor que a enviou é Aquele que, vendo as multidões, delas se compadeceu. Verá, pois, também a Igreja que é exausto e aflito o mundo, e principalmente ali, onde ele está longe de percebê-lo. Pensemos no mundo em nosso redor, pensemos em nosso povo do sul ao norte do País, pensemos em nossas cidades, nos povoados, nas colônias, no campo e no sertão — Jesus se compadece do povo, porque está aflito e exausto. Quem se compadece do nosso povo? Quais as fontes que nosso povo procura para saciar a sua sede? Onde procura auxílio em todas as suas aflições e enfermidades? Onde encontra sentido e verdadeira finalidade para a sua vida? Quem ajuda às nossas multidões, para que venham a Cristo para ouvir a palavra de Deus?

Vós sereis as minhas testemunhas! (At 1.8) Ide por todo o mundo! (Mc 16.15) Eis a resposta do Senhor, a cada um de nós. E sempre Ele espera, para que ouçamos a sua ordem e vamos e façamos o que Ele nos diz. E sempre Ele se alegra ao ver que já pomos mãos à obra. Jesus vê também hoje aqui entre nós as multidões, no norte e no sul e em toda a parte, e se compadece delas. E agora tudo importa que também nós as vejamos assim: com os seus olhos, olhos de misericórdia, olhos de amor que procura para salvar o que está a perder-se. 

E se ouvimos esta ordem de Jesus, e se vemos a necessidade e a aflição com os seus olhos, reconhecemos que é tão profunda a aflição e tão grande a necessidade que a nós não é possível remediá-la. Grande é a seara, mas poucos são os trabalhadores. Por isso rogai ao Senhor da seara, para que ele mande trabalhadores para a sua seara. 

As multidões, o povo exausto e aflito, a humanidade toda com todos os seus problemas e toda a sua angústia — são a grande seara, e Deus é o Senhor desta seara. Já começou a época da colheita. Já agora diante de Jesus Cristo a posição tomada é decisão definitiva de peso eterno. Mas para que a humanidade em verdade possa encontrar a Jesus Cristo mesmo e diante dele deparar com a pergunta decisiva que lhe é dirigida, e receba dele verdadeiro, definitivo auxílio — isso com os melhores programas e o mais bem intencionado ativismo e a mais correta doutrina nós não o alcançamos. Aqui tudo depende de que Deus mesmo envie trabalhadores para a sua seara. Não havia falta alguma de sacerdotes, quando Jesus disse essas palavras. Havia sacerdotes em abundância. Mas não viam as multidões exaustas e aflitas; para eles estava tudo em perfeita ordem; não sentiam falta do verdadeiro pastor, e por isso o rejeitaram. Ajudar, trabalhar com autoridade na seara de Deus — só podem trabalhadores enviados por Deus mesmo. Esses trabalhadores, únicos autorizados a trabalhar na seara de Deus — nós não podemos enviá-los, mas dependemos, também hoje e aqui na nossa Igreja, inteiramente de que Deus o faça.

E esta verdade, que esse fator decisivo para a verdadeira existência da Igreja não está entregue às mãos, nos coloca com todo o nosso fazer também neste dia no devido lugar. Deus é o Senhor da seara; só Ele pode enviar trabalhadores — trabalhadores por Ele autorizados e dignados de serem seus cooperadores. Poderá haver dignidade maior do que esta de ser cooperador de Deus no trabalho em sua seara? Ele, Deus mesmo, a confere e só Ele a pode conferir. Assim esta casa que hoje inauguramos só poderá cumprir a sua finalidade, se ela for uma expressão de nossa prece constante: Senhor, envia trabalhadores para a tua seara! 

Queira Deus conceder benignamente que não cessem em nossas comunidades as orações a Deus pela nossa Faculdade de Teologia, que Deus a proteja e abençoe.

Pastor Ernesto Schlieper

4 de Outubro de 1959 (199 Domingo após Trindade), Inauguração do Edifício Principal da Faculdade de Teologia em São Leopoldo 

Veja:

Testemunho Evangélico na América Latina

 Editora Sinodal

 São Leopoldo - RS
 


Autor(a): Ernesto Theophilo Schlieper
Âmbito: IECLB
Natureza do Domingo: Pentecostes
Perfil do Domingo: 20º Domingo após Pentecostes
Testamento: Novo / Livro: Mateus / Capitulo: 9 / Versículo Inicial: 35 / Versículo Final: 38
Título da publicação: Testemunho Evangélico na América Latina / Editora: Editora Sinodal / Ano: 1974
Natureza do Texto: Pregação/meditação
Perfil do Texto: Prédica
ID: 19722
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O amor só é verdadeiro quando também a fé é verdadeira. É o amor que não busca o seu bem, mas o bem do próximo.
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