Mateus 5.14-16 - Nosso dever para com a pátria

Prédica

06/09/1953

NOSSO DEVER PARA COM A PÁTRIA
Mateus 5.14-16 

Amanhã comemora a nossa Pátria a sua grande data da Independência. Esta data encerra um acontecimento histórico como não há outro de igual relevo na nossa história, pois foi ela que deu ao povo a sua existência de uma nação livre e soberana, sendo por isso justo que este dia seja realçado em sua importância ainda hoje, que sejamos lembrados que também na nossa vida como povo somos devedores do passado e nos baseamos no que têm feito os nossos ancestrais. Eles nos conquistaram a liberdade de nação. Mas, essa liberdade nos impõe deveres. A verdadeira liberdade não vem de fora, mas é a liberdade interna, a liberdade de sermos o que devemos ser. 

E como comunidade cristã que temos a nossa existência dentro de nossa Pátria terrestre, deixemos hoje dizer-nos, qual a nossa situação e qual a nossa tarefa para com a Pátria, na qual vivemos.

Jesus Cristo diz aos seus discípulos: Vós sois a luz do mundo. A cidade situada no monte não pode ficar escondida. 

Os discípulos de Jesus vivem no mundo, e o nosso mundo é a nossa Pátria. Qual é a nossa relação de cristãos para com a Pátria, os seus problemas, as suas dificuldades? Se a existência da comunidade, a nossa existência de cristãos, tem um sentido, então o que somos, o que nos foi dado, tem que se mostrar como uma força que ajuda, que edifica, que renova, que dá coragem e esperança em meio de todas as dificuldades.

Certamente não é ainda discípulo de Jesus aquele que pensa somente em si e na salvação de sua alma. Mas, assim como a luz necessariamente tem que brilhar, tem que alumiar a escuridão — assim o discípulo de Jesus, nada mais sendo senão discípulo de Jesus, necessariamente o é para o mundo. E nós somos perguntados por essa relação de nossa fé para com o mundo, no qual vivemos. O que significa para a tua família que tu és cristão? E o que significa para o teu trabalho, para o teu convívio com os outros que tu és discípulo de Jesus? 

Não pode ficar escondida a cidade situada no monte, e com ela Jesus compara a sua comunidade, os seus discípulos, com uma cidade situada no monte que por todos os lados é visível e não pode ficar escondida. Sempre têm olhos dirigidos para a comunidade cristã perguntando-a: És tu o que dizes ser? Uma comunidade que tem Jesus Cristo como Senhor, que ouve e guarda a sua palavra? Vives tu, como diz a tua fé, assim que a tua vida é um testemunho claro do poder e da graça de Jesus Cristo e do seu amor? Muitas vezes os que nos dirigem essa pergunta são os que menos direito têm para fazê-lo e que com isso só procuram um meio de justificar a sua própria atitude de indiferença e desinteresse. Mas, não só eles, é Deus mesmo quem nos pergunta, é Jesus que quer conhecer os seus discípulos pelos frutos que trazem. Uma comunidade cristã, em toda a sua atitude — no modo como passamos pelo sofrimento, no modo como nos damos na felicidade, como vivemos em casa, como nos portamos publicamente — sempre somos observados. E na nossa época principalmente procura-se nos cristãos que eles tenham compreensão e tempo para as dificuldades dos outros, que eles se mostrem solidários com as múltiplas aflições de nossos dias, que eles prestem toda a sua colaboração a todos que se empenham em aliviar a miséria e o sofrimento no mundo. 

A cidade situada no monte não pode ficar escondida. mesmo de nós que é falado aqui? É Jesus quem o diz, e Ele o diz aos seus discípulos: são os que ouvem a sua palavra, é a sua comunidade, são todos os que confessam: Jesus Cristo é o nosso Senhor. A Ele pertencemos também nós, pois Ele nos chamou pelo nosso nome, Ele nos aceitou, já agora, como membros do seu reino, e vivemos em sua presença. A nós, portanto, Ele hoje diz: Vós sois a luz do mundo; não pode ficar escondida a cidade situada no monte. Tanto espera Jesus de nós. Não é propriamente um dever que Ele nos mostra. Ele não diz o que nós devemos fazer, mas descreve apenas o que somos para o mundo sendo discípulos de Jesus. Discípulos são homens como os outros, mas eles têm um Senhor que está sobre todos outros senhores; eles passam pela escuridão como os outros, mas em meio da escuridão eles sabem da luz que já resplandeceu, e por isso, em meio da escuridão, vivem alegres e consolados; eles são pecadores como todos os homens, mas eles sabem que o são, e conhecem Aquele que perdoa pecados e que por através da morte conduz para a vida. A existência de tais homens no mundo — que sofrem como outros, mas eles crêem no Deus que faz maravilhas; que vão de encontro à morte, mas estão cheios de esperança, porque são do Senhor, e Ele disse: Nada os pode tirar de minhas mãos (João 10.28) — a existência desta comunidade cristã é luz para o mundo, é como a cidade situada no monte que não pode ficar escondida. O mundo há de perceber que em seu meio existem homens, para os quais vale o que disse o seu Mestre e Senhor: Bem-aventurados os pobres de espírito, os que têm fome e sede de justiça, os puros de coração, os misericordiosos, os que choram — eles serão consolados, deles é o reino de Deus. (Mt. 5.3-11) Não pode ficar escondida ao mundo a existência da comunidade cristã, e essa existência será um testemunho, um sinal de que Jesus Cristo é o Senhor, Senhor também sobre todas as dificuldades e aflições terrestres. 

É falado aqui da nossa grande responsabilidade: sermos realmente verdadeira comunidade cristã, da qual emanam forças que ajudem, que consolem, que mostrem o verdadeiro sentido da vida aos homens. Mas é falado aqui muito mais da grande promissão: não faltará luz, não faltará auxílio a um povo, enquanto houver em seu meio verdadeiros discípulos de Jesus. 

E se perguntamos hoje: qual é o nosso dever de cristãos para com a Pátria, a resposta do nosso texto só pode ser esta: que sejamos realmente cristãos — discípulos de Jesus — não só para a nossa vida individual, mas para o mundo, no qual vivemos pela vontade de Deus. Sejamos discípulos de Jesus — e seremos luz para o mundo, como a cidade situada no monte que não pode ficar escondida.

Pastor Ernesto Schlieper

6 de Setembro de 1953 (14º. Domingo após Trindade), Porto Alegre 

Veja:

Testemunho Evangélico na América Latina

 Editora Sinodal

 São Leopoldo - RS


 


Autor(a): Ernesto Theophilo Schlieper
Âmbito: IECLB
Área: Missão / Nível: Missão - Sociedade
Natureza do Domingo: Pentecostes
Perfil do Domingo: 15º Domingo após Pentecostes
Testamento: Novo / Livro: Mateus / Capitulo: 5 / Versículo Inicial: 14 / Versículo Final: 16
Título da publicação: Testemunho Evangélico na América Latina / Editora: Editora Sinodal / Ano: 1974
Natureza do Texto: Pregação/meditação
Perfil do Texto: Prédica
ID: 19716
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Quando eu sofro, eu não sofro sozinho. Comigo sofrem Cristo e todos os cristãos. Assim, outros carregam a minha carga e a sua força é também a minha força.
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