Mateus 5.13-20

Auxílio Homilético

05/02/2017

 

Prédica: Mateus 5.13-20
Leituras: Isaías 58.1-9a e 1 Coríntios 2.1-10
Autoria:  Ana Isa dos Reis
Data Litúrgica: 5º. Domingo após Epifania
Data da Pregação:  05/02/2017
Proclamar Libertação - Volume: XLI

1. Introdução

A celebração de Epifania convida-nos a dar continuidade ao testemunho dos sábios do Oriente – também conhecidos, na tradição, como reis magos – de que Jesus é Senhor e Salvador do mundo inteiro, também meu e para dentro da minha vida.

O tempo após Epifania também é conhecido como “pequeno” Tempo Comum, que perfaz os domingos depois de 06 de janeiro até a Quarta-Feira de Cinzas. Nesse breve Tempo Comum, encontraremos os festejos do Batismo de Jesus e de sua Transfiguração.

No evangelho, Jesus afirma que as pessoas que o seguem são sal da terra e luz do mundo e desafia-as a viver a partir desse compromisso. A Lei foi doada a Israel para ensinar o caminho da justiça e não como mero ritualismo.

Jejum, oração e esmola eram práticas de piedade que no exílio serviam para garantir a identidade dos judeus exilados. No entanto, no pós-exílio, o rito de jejuar é institucionalizado e realizado, na grande maioria das vezes, por ritualismo, desprovido de sentido profundo e transformador. Isaías 58 traz a denúncia profética dessa prática e aponta para a justiça como sendo o culto agradável a Javé.

1 Coríntios 2 fala sobre a sabedoria de Deus, que não consegue ser entendida e captada pela razão humana. Paulo apoia-se no poder de Deus para anunciar o evangelho, pregando a Cristo, o crucificado. Uma realidade difícil de ser compreendida, porque a razão humana não consegue entender que na fraqueza se esconde a verdadeira força.

2. Exegese

2.1 – Localizando o texto

A perícope está inserida dentro do sermão do monte, o primeiro dos cinco discursos sobre a vida cristã, que traz a busca pelo reino de Deus e sua justiça como força motriz.

O texto está dentro do grande bloco, Mateus 4.12-18.35, que aborda a atuação de Jesus na Galileia. O sermão do monte abarca de 5.1 a 7.29.

Nossa perícope segue logo após as “bem-aventuranças”. E pode ser dividida, como também trazem as versões bíblicas, em:

a) 5.13-16: sal e luz;

b) 5.17-20: cumprimento da Lei.

Poderíamos unir as partes, concluindo que as pessoas bem-aventuradas (5.1-12) têm a função ativa de ser sal da terra (5.13) e luz do mundo (5.14-16) e a missão/responsabilidade de observar, ensinar e praticar a justiça e a lei do Reino (5.17-20).

2.2 – Observações exegéticas acerca dos versículos da perícope

V. 13 – O texto usa o verbo no indicativo, afirmando que suas pessoas discípulas são sal da terra. O sal tem várias funções: serve para salgar e dar gosto à comida, conservar alimentos, sarar feridas, manter o equilíbrio fisiológico, além de suas funções religiosas. Sal é sempre sal. Contudo existem explicações que dizem que o sal pode perder seu sabor ou sua potencialidade de salgar quando misturado a impurezas. O sal dos charcos, pântanos e rochas próximos ao Mar Morto tem um alto teor de gipsita e de outras impurezas. Ele perde seu sabor e torna-se arenoso. Assim, era usado como areia, jogado nas ruas enlameadas das cidades da Palestina para diminuir a lama, como se fosse areia. Em vez de salgar o mundo, era pisado por ele. Ou seja, sal que já não serve para dar sabor só pode ser jogado fora.

Assim escreve Cristina Scherer sobre esse texto no Portal Luteranos: “Marcelo Barros, no livro Conversando com Mateus – Ed. CEBI e Paulus, 1999, nos lembra que este sal do qual fala Jesus Cristo não se refere unicamente ao sal usado na cozinha, que conserva e dá sabor aos alimentos. Jesus fala de fato sobre o sal da terra. Como explicar isto? Na Palestina, no tempo de Jesus, era comum que pastores do campo deixavam seus rebanhos soltos para pastar. Durante a noite voltavam ao aprisco. Nesse caminho de retorno se alimentavam do sal da terra que se encontrava em abundância na beira do Lago de Tiberíades e do Mar Morto”. Afirma o autor: “... O sal da terra conduzia as ovelhas de volta ao rebanho. Assim, quando Jesus disse: ‘Vocês são o sal da terra’, estava dizendo: ‘Vocês têm a função de reunir as pessoas dispersas no aprisco do Pai para que não se percam nem sejam presas das feras do mundo’” (p. 38). Da mesma forma, “o sal era usado para acender fogueiras durante a noite nos campos; tinha, portanto, função de combustível, e quando perdia sua função, não servia para mais nada, cf. Lc 14.34”.

V. 14-16 – Em João 8.12, Jesus autodefine-se como a “luz do mundo”. Aqui ele diz que também as pessoas que o seguem são luz. A luz, uma vez acesa, espanta as trevas, aquece o ambiente e serve como guia, se doa/se ter- mina em favor de sua função: dar luz e calor. As casas na Palestina eram bas- tante escuras, com uma pequena abertura que servia como janela. Ao indicar que suas pessoas discípulas são luz, Jesus diz que são como “cidade edificada sobre um monte”, que pode ser vista a quilômetros de distância, porque a luz que brilha é impossível de ser escondida. A candeia é uma lâmpada de óleo, bem conhecida pelo povo, que não tinha a infraestrutura de luz elétrica como temos hoje. O alqueire serve para apagar a luz sem produzir fumaça. Ou seja, a pessoa cristã é chamada a ser luz que brilha e não aquela apagada pelo alqueire; deve ser ativa, pessoa que vive e leva adiante o evangelho de Jesus Cristo. Ao ser luz, a pessoa cristã produz boas obras – essa é a essência do discipulado. E a justiça é por excelência a grande obra que deve ser exercida pela pessoa cristã.

V. 17-20 – Jesus é o cumprimento das profecias do Antigo Testamento. Ele se coloca como aquele que veio cumprir as Escrituras. As pessoas que seguem Jesus devem aprofundar o significado dos mandamentos, assim como Martim Lutero procurou expressar em “O que significa isto?” logo após cada mandamento.

3. Meditação

O texto utiliza o verbo no modo indicativo ao falar sobre as pessoas que são suas discípulas: vocês são o sal da terra... vocês são a luz do mundo. A essas afirmações seguem os imperativos: seja sal, seja luz. As pessoas cristãs são sal e são luz a partir de Cristo. Em nosso Batismo, ao sermos chamadas pelo nome, seladas pelo Espírito Santo e marcadas pela cruz de Cristo, recebemos a tarefa de ser e viver como pessoas cristãs, pessoas que são e agem como sal da terra e luz do mundo, pessoas que se empenham pela justiça e pelo cumprimento dos mandamentos, reunidos no mandamento do amor.

Olhemos para o sal:

– O sal não é feito para ficar no saleiro ou no pacote, mas para ser usado. Ou seja, a pessoa cristã não deve ficar isolada do mundo, restrita a louvar, adorar e cantar dentro da igreja como um gueto, mas é chamada a viver a fé, a louvar, adorar e cantar no lugar onde vive.

– Quando misturado à comida, o sal dá sabor aos alimentos. Não se usa uma xícara de sal para uma xícara de arroz. Basta uma pitada de sal para que a comida tenha sabor. Ou seja, a ação das pessoas cristãs não precisa ser medida em quantidade; basta uma pitada para que se sinta o sabor. Não precisamos ser a maioria; basta que deixemos a marca do sabor do Reino.

– No entanto, também sabemos que sal demais estraga a comida. Pessoas “sal demais” só conseguem aceitar seu modo de ser e pensar e querem impô-lo (mesmo que a ferro e a fogo) às demais pessoas. Essas se tornam fanáticas, inoportunas e invasivas.

– Comida sem sal, contudo, também é comida que não tem sabor, insossa, sem gosto. Pessoas “sem sal” são aquelas que não se expressam, não opinam, não se envolvem, não se comprometem, não contribuem em nada e com nada, com quem não podemos realmente contar.

– O próprio Jesus é quem nos ajuda a ser sal na medida certa. Importa permanecer unidos a ele, participar da comunidade de fé, dos grupos, dos estudos, envolver-se com sua missão.

– O sal desaparece quando misturado à comida, contudo seu sabor permanece. Somos chamados a ser presença discreta e, ao mesmo tempo, essencial no mundo.

– O sal como conservador dos alimentos desafia-nos a ser pessoas que con- servam e divulgam os valores do reino de Deus, sendo a justiça uma das maiores marcas.

– Entre várias funções, o sal tinha a função de preservar, evitar a putrefa- ção. Assim é também a pessoa discípula: sua presença evita o alastramento do mal no mundo; para isso penetra no mundo, insere-se na sociedade, mistura-se, interage com as outras pessoas e com o mundo.

Somos sal, damos sabor a este mundo e o preservamos com os valores do Reino. Seja sal, deixe suas marcas, seja o bom tempero de um mundo insosso ou demasiadamente salgado.

Olhemos para a luz:

– Basta uma fagulha de luz para dissipar as trevas. Ou seja, a pessoa cristã pode ser uma luz bem pequena, mas iluminará o mundo, dissipando as trevas. A função das pessoas discípulas é iluminar o mundo, o contexto, o lugar onde vivem; não esconder-se, mas também não atuar para que sejam admiradas e vistas mais do que a verdadeira luz: Jesus.

– A luz foi feita para brilhar. Qual a função da vela? Ou da lamparina? Se não forem acesas, não produzirão luz; e se não brilharem, não terão utilidade. A pessoa cristã que se guardar a si própria, não produzindo luz, não serve para a tarefa para a qual foi chamada. Será apenas um enfeite, cheio de poeira e sem utilidade.

– Nem a vela tampouco a lamparina podem acender-se a si próprias. Também a pessoa cristã não é capaz de produzir sua própria luz. Somos luz porque Jesus é a luz. É ele quem nos acende a partir de nosso Batismo. Somos luz a partir da luz de Cristo e chamados a refletir sua luz.

– O mundo hoje produz muita luz artificial. Somos seduzidos com promessas de luz, mas que só criam trevas e desilusão. A pessoa cristã precisa deixar que sua luz seja reflexo da luz de Cristo, que nela brilhe Cristo e não as luzes artificiais deste mundo.

– Muita luz também pode ofuscar a outra pessoa e não permitir mais enxergar nela o rosto da irmã e do irmão.

– Cristo acende-nos na medida certa. Se ventos teimarem em apagar a luz que brilha em nós, deixemos que Cristo nos acenda sempre de novo e nos proteja.

– Que luz nós somos? Quando Cristo nos faz suas pequenas luzes, brilhamos de diferentes maneiras: agindo com justiça e honestidade; envolvendo-nos na luta por dignidade, pão e paz para todas as pessoas (especialmente as excluídas e que sofrem violência e preconceito); olhando todas as pessoas com respeito, também as que são diferentes de nós; envolvendo-nos com a missão de Deus; vivendo os valores do Reino, que contradizem os valores do mundo. O que mais mostra que somos luz? Ao nos doarmos a fim de trazer luz e calor às outras pessoas, temos sinais concretos de que entendemos a afirmação de Jesus e de que atendemos seu chamado. Eis o mistério: a vela doa a si própria para que as pessoas ao seu redor experimentem luz e calor.

Somos luz que ilumina as trevas do mundo. Sejamos luz que brilha em meio a tantas luzes artificiais e que produz calor, luz e vida.

Em Jesus experimentamos o cumprimento das promessas do Antigo Testamento e a radicalização dos mandamentos. Ao “não” de cada lei segue a afirmação de uma ação em prol da promoção da justiça e do amor. Em um mundo onde o capitalismo é a lei, onde o capital cria vencedores e vencidos, milionários e miseráveis, escolhidos e excluídos, redescobrir e reafirmar a lei de Deus é uma tarefa urgente e inquietante, que pode custar a cruz. Dentro da realidade em que vivemos, somos chamados a agir como sal e como luz. Haverá quem tentará retirar o sabor do sal e apagar a luz, assim como as primeiras comunidades cristãs experimentaram. É preciso permanecer firme. Lembremos que Jesus diz que “somos” sal e luz. Não estamos sozinhos. Como pessoas cristãs, importa deixar que Jesus nos tempere e acenda sua luz e, assim, possamos agir comunitariamente, deixando marcas saborosas e brilhando a fim de dissipar as trevas. Como podemos começar? Perguntemos olhando para dentro de nossas próprias comunidades e paróquias e dali para o mundo todo.

4. Imagens para a prédica

Caso consiga preparar o estudo em grupos, poderia realizar a dinâmica a seguir e confeccionar imagens a mais para distribuir no culto.

(Veja a imagem anexa.)

Caso o culto aconteça à noite, poderia utilizar velas, preparando o ambiente à meia-luz.

Compartilhar uma pipoca sem sal ou outra comida sem sal e, depois, uma que foi temperada com sal para conversar sobre a importância do sal. Na internet existem boas sugestões de dinâmicas quanto a ser sal e luz.

5. Subsídios litúrgicos

Sugestão de hinos: Que a luz de Cristo brilhe (Portal Luteranos); Sabor e brilho (HPD 2 – 431).

Bibliografia

CHAMPLIN, R. N. O Novo Testamento interpretado versículo por versículo. São Paulo: Milenium, 1986.
PONICK, E.; WITT, Maria Dirlane (Orgs.). Encontros Bíblicos com crianças. São Leopoldo: Sinodal, 2010. v. 1.
PORTAL LUTERANOS. Interpretações e estudos sobre Mateus 5.13-20. Disponível em:


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Autor(a): Ana Isa dos Reis
Âmbito: IECLB
Área: Celebração / Nível: Celebração - Ano Eclesiástico / Subnível: Celebração - Ano Eclesiástico - Ciclo do Tempo Comum
Área: Governança / Nível: Governança - Rede de Recursos / Subnível: Governança-Rede de Recursos-Auxílios Homiléticos-Proclamar Libertação
Natureza do Domingo: Epifania
Perfil do Domingo: 5º Domingo após Epifania
Testamento: Novo / Livro: Mateus / Capitulo: 5 / Versículo Inicial: 13 / Versículo Final: 20
Título da publicação: Proclamar Libertação / Editora: Editora Sinodal / Ano: 2016 / Volume: 41
Natureza do Texto: Pregação/meditação
Perfil do Texto: Auxílio homilético
ID: 45370
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