Mateus 4.1-11 - Cristo vence o tentador

Prédica

04/02/1979

CRISTO VENCE O TENTADOR
Mateus 4.1-11 ( Leitura: Salmo 33)

Eis uma história que parece bem distante, bem afastada de nosso dia-a-dia. O lugar dos acontecimentos é o deserto. As personagens: o Espírito, Jesus, o diabo, os anjos. Jesus, que jejua quarenta dias e quarenta noites o diabo, que o tenta três vezes — os anjos, que vêm servir a Jesus, depois de ele ter resistido ao tentador. Nós perguntamos: Onde estas coisas sobrenaturais acontecem em nossa vida? Que tem esta história a ver com nossa fé, nosso dia-a-dia, nossa luta? 

Muito, caro leitor, caro ouvinte. Muito mais do que você pensa ã primeira vista. Porque tudo o que acontece com Jesus, é importante para nós, para nossa fé, para nossa vida com Deus e os homens. Se a história da tentação de Jesus só tivesse sido importante para o próprio Filho de Deus, Mateus e Lucas não a teriam relatado em seus evangelhos. Então seria um dos segredos que permanecem ocultos a ouvidos humanos, até o fim dos tempos. Mas o relato da tentação foi escrito, e foi escrito por nossa causa. Ele contém uma mensagem de Deus para você e para mim, mensagem que nos quer ajudar a vencermos a nossa própria tentação.

«Jesus foi levado pelo Espírito ao deserto, para ser tentado pelo diabo,» Quer dizer que Jesus não foi enfrentar o tentador, por própria conta. Ele não foi por curiosidade, para ver co-mo é a experiência da tentação. Não fez como Adão e Eva no Paraíso, que por iniciativa própria se aproximaram da árvore proibida e que concluíram que a árvore era boa para se comer e que sua fruta era agradável. Jesus foi levado pelo Espírito. O Espírito de Deus o conduzia não só no dia em que foi ao deserto para ser tentado, mas em cada dia de sua vida. 

Nós oramos no Pai Nosso: «Não nos deixes cair em tentação.» Isso quer dizer: Não nos deixes cair na tentação, desprevenidos, desarmados, indefesos, assim como uma ovelha desprevenida cai nas garras do lobo. Guia-nos com teu Espírito para que não caiamos. A nossa força nada faz; com ela estamos perdidos! Mas o Espírito de Deus nos capacita a reconhecer o tentador, a descobrir as suas intenções e a resistir a seu poder maligno. 

O próprio fato de Jesus ter sido tentado, igual a todos os filhos de Adão, é confortante para nós. Prova que Jesus realmente veio para ser nosso irmão, Assim como ele, o justo, entrou na fi-la dos pecadores, ao ser batizado no rio Jordão, assim ele, também aqui, no deserto, se põe ao lado do homem desencaminhado, perdido no deserto da tentação, onde nenhuma criatura o auxilia, onde se acha entregue ao ardil do demónio. Verdadeiramente uma boa mensagem para você e para mim, criaturas que vamos sendo tentados a cada dia de nossa vida. Nós temos a nosso lado Jesus Cristo, nosso Salvador, tentado igual a nós, que obteve a vitória.

«Depois de ter jejuado quarenta dias e quarenta noites, teve fome. O tentador, aproximando-se dele, lhe disse: Se tu és o Filho de Deus, manda que estas pedras se transformem em pão. Jesus respondeu: Não só de pão viverá o homem, mas de toda a palavra que procede da boca de Deus.» Se tu és o Filho de Deus! O tentador não muda em seu modo de agir. Não troca de método, ao tentar o homem. Ele começa sempre, semeando a dúvida. «Será que Deus disse?» — Foi a mesma semente infernal que levou o «velho Adão» e toda a sua descendência a comer do fruto proibido. Ele sabe bem: Uma vez que consegue implantar a dúvida no coração do homem, o resto será brincadeira. As ações más e perversas sempre são consequência da «dúvida que pegou». São frutos da semente do «será que Deus disse?». 

E observamos mais. O diabo, ataca onde enxerga uma fraqueza do homem. Jesus tinha passado um longo tempo sem se alimentar. Tinha fome. O tentador procura arrombar a porta que lhe parece menos resistente. Ele é um senhor-psicólogo. Conhece os homens melhor do que eles mesmos, quase tão bem como Deus. Quase! Deus nos conhece melhor — louvado seja ele! — Deus nos conhece com outras intenções. Ele nos ama!
A porta que o tentador procurou arrombar em Jesus, parecia fraca. Ele teve fome, fome igual àquela que nós sentimos. Mas a porta estava guarnecida, estava protegida. Estava guarnecida pelo Espírito e pela palavra de Deus. Espírito e palavra de Deus sempre andam lado a lado sim, mais do que isso: Andam tão unidos que não é possível separá-los. — Assim Jesus não precisava pensar muito para saber como ia resistir ao tentador. Ele respondeu com a palavra de Deus, respondeu com uma citação da Bíblia: «Está escrito: Não só de pão viverá o homem, mas de toda a palavra que procede da boca de Deus.» 

Jesus conhecia a Bíblia. Mas não só a conhecia. Ele vivia da palavra de Deus. Vivia dela como se vive de pão. Para resistirmos ao tentador, não basta conhecermos a Bíblia. É preciso que nos alimentemos de toda a palavra que procede da boca de Deus. Se não vivermos realmente da palavra de Deus, se não tivermos sede da palavra, do evangelho, das promissões de Deus — então a porta de nossa casa está desprotegida. Então o tentador vai rir de nossas palavras bíblicas que nós lhe citarmos, porque a Bíblia, ele também a conhece. Melhor do que nós, por certo. Ele tiraria o primeiro lugar em qualquer concurso de conhecimentos bíblicos, sem sombra de dúvida! 

O tentador dá provas de seus conhecimentos da Bíblia, na segunda tentação. Levando Jesus para o alto do templo, lhe diz: «Se tu és o Filho de Deus, atira-te daí abaixo, porque está escrito: Aos teus anjos ordenará a teu respeito que te guardem; eles te susterão nas mãos para não tropeçares em alguma pedra.» Então, o diabo poderá tentar as pessoas, usando a própria Bíblia, como faz aqui, citando o Salmo 91! E será, por certo, o diabo mais perigoso, o que vem com a Bíblia na mão, com a boca transbordando de palavras da Escritura, que vai citando para dizer bem o contrário daquilo que Deus quer dizer! Porque a Bíblia como livro, ela não se pode defender. Cada um pode usar-se dela, pode tirar palavras e frases do meio de outras para usá-las, assim como entender. E mais uma vez Jesus responde ao diabo — com a Bíblia. Responde guiado pelo Espírito. Não entra naquela discussão estéril sobre a Bíblia, onde cada um usa a Escritura como arma, citando-a para provar seu próprio ponto de vista. Jesus cita a Bíblia como documento da vontade de Deus: «Também está escrito: Não tentarás o Senhor, teu Deus.» Jesus não duvida dos conhecimentos bíblicos do diabo. Poderia ter dito que ele tinha citado mal, porque no salmo 91.11-12 diz que «os anjos te guardarão em todos os teus caminhos». E saltar do templo, evidentemente não é caminho. É coisa de circo. Mas Jesus não entra nesta questão de explicação, de exegese, como dizem os teólogos. Ele cita a Bíblia conforme o Espírito o guia. Espírito e Bíblia não se contradizem para Jesus. Assim o diabo descobre que também esta porta está bem guardada pela palavra de Deus, revelada na Bíblia. 

Quem somos nós para pensarmos que podemos dispensar a Bíblia? Que somos capazes de defender-nos sem ela, confiados em nossa própria inteligência? Se o próprio Jesus conhece a fundo a palavra de Deus, a tal ponto que vive dela como se vive do pão, que suas palavras respiram a palavra da Bíblia? Que discípulos fracos de Jesus somos nós, se nem soubermos responder a um dos numerosos apóstolos da confusão religiosa, que hoje andam pelo mundo, muitas vezes com a Bíblia na mão! Aprendamos de Jesus a amar este livro, a cavar fundo nele. Não vamos deixar de descobrir água viva, se nos dermos o trabalho de cavar mesmo. E de água viva nós precisamos, neste mundo seco e estéril em que vivemos.
«E outra vez o diabo o levou a um monte muito alto, mostrou-lhe todos os reinos do mundo e sua glória e lhe disse: Tudo isto te darei, se prostrado, me adorares. Jesus lhe disse: Retira-te de mim, Satanás. Porque está escrito: Ao Senhor teu Deus adorarás e só a ele darás culto.»
Agora o tentador deixa a psicologia de lado. Põe as cartas na mesa. Vem com uma proposta maciça. Oferece poder, poder sobre o mundo inteiro. Claro que as cartas são falsas. O diabo é mentiroso desde o início. O que ele oferece é um cheque sem fundo. Procura vender uma coisa que não é dele. Porque a terra não é do diabo. A terra é de Deus. Apesar de tudo. Apesar das experiências em contrário. A própria palavra de Deus o diz: «A terra é do Senhor, e tudo o que ela contém.» (Salmo 24,1) Também neste caso Jesus não começa a argumentar com o diabo, procurando apontar-lhe o seu erro, as suas cartas falsas. Com o diabo não se argumenta. Ele só respeita uma atitude: Sim, ou não. Se o «não» é claro, dito no poder do Espírito, então é o que basta. «Está escrito: Ao Senhor, teu Deus, adorarás e só a ele servirás.» Jesus também põe as cartas na mesa, Assim como ele tinha feito nas outras tentações. Não deixa nenhuma margem de dúvida; «Retira-te, Satanás.» Esta é a linguagem que o diabo compreende. Jesus indica para seu único ponto de referência: Para Deus, como fizera nas primeiras tentações. Para o Deus que é seu Pai e ao qual ele quer servir.
Dizem que cada homem tem o seu preço. Que é apenas uma questão de se oferecer a soma exata para dobrar o mais honesto dos homens. Pode ser que para o velho Adão isso confere. Mas Jesus é o novo Adão. Ele não tem preço. Ele é o Filho de Deus. Não só de nome, mas de verdade, Sua comunhão com o Pai é tão firme que nada é capaz de a pôr em dúvida, Nós temos um Salvador poderoso, «tentado em todas as coisas, igual a nós, mas sem pecado» (Hebreus 4,15). Ele é nosso baluarte, nossa defesa, na hora em que o poder do maligno nos ameaçar. 

«Então o diabo o deixou. E eis que vieram os anjos e o serviram.» Não vamos tratar de imaginar como foi que os anjos serviram a Jesus, depois de o tentador o ter deixado. Vamos louvar a Deus, porque -- além do demônio e seus poderes maus -- existem outros poderes, os anjos. Poderes invisíveis, criaturas santas e obedientes, totalmente sintonizadas com a vontade do Criador. 

A Bíblia costuma ser muito reservada, quando fala de anjos. Não diz qual é a aparência deles. Mas os anjos são parte integrante do evangelho. E é algo muito confortador sabermos que Jesus, depois das tentações infernais que vieram sobre ele, recebe o conforto dos anjos. Nós ouvimos há pouco que tudo o que acontece com Jesus é importante também para o cristão. Saiba, pois, que os anjos de Deus também estão perto de você, que eles, não os demónios, são os poderes que definem a vida normal do cristão, Louvado seja Deus pela presença de seus santos anjos em nossa vida! Louvado seja Deus, por nos ter dado a vitória em Jesus Cristo! 

Oremos: Deus e Pai. Tu nos dás comunhão de vida com teu Filho amado. Pela fé somos ligados a ele, e por meio dele, a ti, nosso Pai. Graças te damos por não precisarmos lutar sozinhos contra os poderes das trevas. Graças te damos porque a vitória de Jesus é também a nossa vitória. Amém.

Veja:

Lindolfo Weingärtner

Lançarei as redes - Sermonário para o lar cristão

Editora Sinodal

São Leopoldo - RS
 


 


Autor(a): Lindolfo Weingärtner
Âmbito: IECLB
Testamento: Novo / Livro: Mateus / Capitulo: 4 / Versículo Inicial: 1 / Versículo Final: 11
Título da publicação: Lançarei as redes - Sermonário para o lar cristão / Editora: Editora Sinodal / Ano: 1979
Natureza do Texto: Pregação/meditação
Perfil do Texto: Prédica
ID: 19699
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Há algo muito vivo, atuante, efetivo e poderoso na fé, a ponto de não ser possível que ela cesse de praticar o bem. Ela também não pergunta se há boas ações a fazer e, sim, antes que surja a pergunta, ela já as realizou e sempre está a realizar.
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