Mateus 28.5b-7a - Esperança para os homens

Prédica

14/04/1968

ESPERANÇA PARA OS HOMENS
 

Cristo ressuscitou — é a mensagem dirigida às mulheres que de manhã cedo procuram Jesus no seu sepulcro. Mas não o encontram. Ouvem a mensagem: Não está aqui, ressuscitou como havia dito. 

Ë esta a mensagem que a Páscoa dirige a nós: Cristo ressuscitou, realmente ressuscitou! Não podia ficar no sepulcro Aquele do qual fora dito: Deus amou o mundo de tal maneira que deu o seu Filho Unigênito (João 3.16) ; Aquele que viera ao mundo como personificação do amor de Deus. n verdade, no mundo não havia lugar para Ele, os homens o rejeitaram; fora crucificado e sepultado. 

Páscoa, porém, nos revela que Deus não se deixa rejeitar. Deus agiu, sem a colaboração dos homens, inesperadamente, manifestando-se como o Deus que faz maravilhas. Desfaz os planos dos sábios, e vence o desânimo daqueles que tinham posto todas as suas esperanças em Jesus. Deus agiu, e o sepulcro vazio é o sinal da maravilhosa ação de Deus, e ao mesmo tempo de sua poderosa fidelidade. Ele é o Deus da misericórdia, o Deus que continua a amar o mundo, e o seu amor não é vencido, nem pelo ódio dos homens, nem pelo poder da morte. Fez ressurgir do sepulcro o seu Filho, reafirmando poderosamente a sua decisão que todos que nele creiam, não pereçam, mas tenham a vida eterna. Deus vive. Dele é o reino e o poder e a glória. E Ele é hoje e eternamente o Deus que em Cristo ama o mundo. 

Essa é a realidade da Páscoa: não apenas um acontecimento do passado, mas esta realidade do presente que hoje nos é anunciada: que temos um Senhor que venceu a morte, que nos reconciliou com Deus, assim que temos paz, e Ele, Cristo o vivo Senhor, está conosco, ao nosso lado, por isso nada precisamos temer. Crer na ressurreição é crer em Deus Todo-Poderoso, para o qual nada é impossível; é experimentar que temos um Deus que ajuda, o Senhor que salva da morte. Crer na ressurreição, é estar certo deste auxilio de Deus, em meio da realidade desta nossa vida, com toda a sua ânsia e aflição. Quando tocamos no limite de nossas forças, quando não vemos mais nenhuma possibilidade, nenhuma saída, a fé na ressurreição afirma: Mas Deus vive! Sim, não vejo saída, de fato estou no fim, e agora só me restaria desesperar — mas: Cristo ressuscitou! Deus vive, Deus que me ama de tal maneira como Cristo o revelou! E dele é a vitória. E de sua vitória me faz participar. Cristo que por mim morreu, também por mim ressuscitou. Ele venceu o mundo e todas as suas tribulações. Cristo vive, por isso o fim também do meu caminho não será a morte, mas a vida.

Mas, quem me dá a certeza que tudo isso é uma realidade? Em que se baseia a fé da Páscoa, a fé na ressurreição de Jesus Cristo? 

Ela não se baseia no sepulcro vazio. O apóstolo Paulo, p. ex., com nenhuma palavra se refere ao sepulcro vazio, provavelmente nunca o viu e nunca por ele se interessou. No entanto, como é poderoso o seu testemunho da ressurreição: Se Cristo não ressuscitou, é vã a nossa pregação, e vã a nossa fé (I Cor. 15. 14), ou a outra palavra: Tragada foi a morte pela vitória; onde está, ó morte, o teu aguilhão? Onde a tua vitória? Graças a Deus que nos deu a vitória por intermédio de nosso Senhor Jesus Cristo. (1 Cor. 15.54 s. 57) Donde vem essa sua certeza, da vitória, da ressurreição? Ela vem de Cristo mesmo, que a ele se manifestou como o vivo e poderoso Senhor, transformando o fanático adversário Saulo no apóstolo Paulo. E o mesmo Cristo continua a manifestar-se na mensagem de suas testemunhas por através dos séculos como vivo e presente Senhor que vence todos os obstáculos fazendo penetrar no mundo de nossa escuridão o raio de luz do reino da vida. Se há esperança para o mundo, apesar de sua situação desesperadora, se há esperança para o homem diante da morte, essa esperança provém de um único fato: Cristo ressuscitou, Cristo venceu o mundo do pecado e da morte. Por isso confessamos com alegria e gratidão: Eu sei que vive o meu Salvador. 

Deus agiu. Disso Páscoa nos dá testemunho. Que os homens o admitam ou não; que o considerem possível ou não — neste seu agir Deus não pergunta pelos pensamentos humanos, mas cumpre, ele mesmo e sozinho, a sua vontade: ressuscita o seu Filho Unigênito, para que todos que nele crêem, não pereçam, mas tenham a vida eterna (João 3.16). 

Merece todo o nosso respeito a ciência humana, com o progresso vertiginoso na técnica e nos conhecimentos em todos os setores da nossa realidade; merece nosso respeito a seriedade e o esforço do raciocínio humano. Mas: muito mais respeito merece a onipotência do Deus vivo, para a qual não existem limites traçados pela ciência humana; não está sujeita a sua ação ao que a ciência declara possível ou não. Merece muito mais o nosso respeito a misericórdia de Deus que não permitiu que a obra iniciada por Cristo — a obra de procurar e salvar o que estava perdido — terminasse com a morte. E temos muito mais respeito diante da atuação de Deus por através dos séculos, cuja história, ao lado de todos os erros e de toda a fraqueza humana, é também um testemunho de que inúmeros homens em Cristo se tornaram livres de todo o medo, em Cristo encontraram paz com Deus e com os homens, confessando alegres mesmo diante de sofrimento e morte: Eu sei que vive o meu Salvador.

Cristo ressuscitou — essa realidade não é atingida por nenhuma ciência humana. Ela permanece. E hoje Deus novamente nô-lo faz anunciar, para nós, para a nossa vida, com todos os seus problemas. Cristo vive, vive também para ti para que estejas certo de que não há nada que te possa separar do amor de Deus. 

O evangelho da Páscoa contém ainda a ordem: Ide avisar os meus discípulos. E mais tarde o ressurreto Senhor ampliará essa ordem a todos os seus discípulos dizendo: Ide por todo o mundo e pregai o evangelho. (Mc. 16.15) Faz parte do evangelho essa ordem. O evangelho é para todos, porque Deus ama o mundo. Deus quer que todos os homens sejam salvos. Por isso quem ouve e aceita o evangelho, necessariamente torna-se mensageiro dele para outros, que ainda não o conhecem, para testemunhar-lhes que Cristo vive também para eles, por serem também eles amados por Deus. E aqui expressamente é dito: Ide avisar a meus discípulos — aos irmãos que ainda vivem na escuridão, que ainda não sabem que já raiou o novo dia que jamais se acaba. E Cristo ainda hoje tem inúmeros irmãos que ainda não conhecem a realidade da Páscoa, que ainda não se tornaram alegres pela ressurreição, que ainda estão sem consolo, sem esperança diante dos sepulcros e das lágrimas causadas pela morte. Não sabem que com a manhã da Páscoa já começou o dia do qual nos é dito: Deus mesmo enxugará todas as lágrimas de nossos semblantes (Ap. 7. 17) !

Não nos contentemos, pois, em festejar aqui e em casa a Páscoa. Mas ouçamos a ordem! Vejamos se não temos alguém ao nosso lado para o qual justamente a nós é dito: Ide avisar a meus irmãos; para o qual Deus espera que nos tornemos portadores da mensagem de que há esperança, há consolo, porque Cristo ressuscitou e Ele nos disse: Eu vivo e também vós vivereis! (João 14.19) 

Para esse testemunho nos chama a Páscoa. E nos convida para essa esperança. Vale também aqui: olhando para o mundo e os seus acontecimentos, pouco motivo nos é dado para termos esperança. Mas: Cristo vive. Que nos seja dado respondermos com a nossa vida toda: Sim, nós temos este Senhor que vive, que por nós venceu a morte e o pecado, e ele está conosco, hoje e todos os dias, e por isso vivemos com a grande esperança de encontro ao dia em que de face em face o veremos e eternamente com ele estaremos.

Dr. Ernesto Th. Schlieper
14 de Abril de 1968 (Páscoa), Porto Alegre 

Veja:

Testemunho Evangélico na América Latina

Editora Sinodal

São Leopoldo - RS
 


Autor(a): Ernesto Theophilo Schlieper
Âmbito: IECLB
Área: Confessionalidade / Nível: Confessionalidade - Prédicas e Meditações
Área: Celebração / Nível: Celebração - Ano Eclesiástico / Subnível: Celebração - Ano Eclesiástico - Ciclo da Páscoa
Natureza do Domingo: Páscoa

Testamento: Novo / Livro: Mateus / Capitulo: 28 / Versículo Inicial: 5 / Versículo Final: 7
Título da publicação: Testemunho Evangélico na América Latina / Editora: Editora Sinodal / Ano: 1974
Natureza do Texto: Pregação/meditação
Perfil do Texto: Prédica
ID: 19527
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